Pedro Lucas Lindoso começou escrevendo artigos para revistas de direito, quando ainda era acadêmico e morava em Brasília. Somente em Manaus, então advogado da Petrobras, Lindoso liberou sua veia literária. Já tem escritos dois livros infantis (A visita do boto vermelho às Anavilhanas; e O boto cor de rosa e o jacaré do rabo cotó, este, traduzido para o inglês), e um romance (Oremos pela guerra). No próximo dia 2 de fevereiro Lindoso irá lançar seu quarto livro, agora de crônicas, ‘Uma amazonense em Copacabana’, afinal, o advogado-escritor é o cronista do Jornal do Commercio, com suas crônicas publicadas todos os domingos no Caderno B.
“Ainda tenho o livro ‘Princípio da informação do direito ambiental e a segurança empresarial’, mas é um livro muito técnico, e eu prefiro escrever para que o máximo de pessoas leia e goste do que escrevo”, relatou.
“Até vir trabalhar na Petrobras, em 2005, ficava receoso em ser lido. Quando cursei letras, uma das disciplinas nos incentivava a escrever contos. E eu escrevia muitos. Quando me formei, joguei todos fora. Um dia, o professor dessa disciplina me encontrou e perguntou sobre meus contos. Eu falei que os tinha jogado fora e ele ficou uma fera. Disse que eu escrevia muito bem e não deveria ter feito aquilo. Foi ali que percebi que meus textos poderiam ser bons e agradar aos leitores”, lembrou.
“Na Petrobras tinha uma atividade que se chamava ‘Prata da Casa’, a qual incentivava todas as atividades culturais entre os funcionários. Eu sempre participava com meus contos e, quase sempre, ficava classificado entre os primeiros. Mais um incentivo para o escritor acanhado”, riu.
“Exatamente nessa época fui convidado a escrever crônicas para o JC e, desde então, estou lá, já faz alguns anos”, disse.
Imortalizando o cronista
‘Uma amazonense em Copacabana’ reúne quase 40 crônicas publicadas no Jornal do Commercio. “Quem deixou de acompanhar alguma publicada no jornal, ou quer tê-las num livro, essa é a oportunidade. Os leitores de minhas crônicas sabem que a personagem principal, presente em todas elas, é a tia Idalina, uma senhora amazonense que mora há anos no Rio de Janeiro, em Copacabana, mas nunca esquece de Manaus, das suas compras no Mercado Adolpho Lisboa, das viagens que fazia pela Varig, e pede aos parentes e amigos que viajam até a capital amazonense, que lhe comprem banha de tartaruga”, contou.
“Tenho leitores que acreditam realmente que tia Idalina existe. Já teve até quem me pedisse o e-mail dela. Só que ela não usa computador e se comunica através de cartas”, brincou.
“Idalina faz parte daquela galeria de personagens que imortalizam um cronista. Pedro Lucas Lindoso, meu parceiro de geração, de mês e de ano – maio de 57, esparge ironia e humor nestes textos, com a elegância e a gentileza que lhe são inerentes. Há muito tempo esperávamos que estas crônicas fossem reunidas num livro. Este é apenas o primeiro volume”, escreveu o poeta Zemaria Pinto.
“É evidente uma figura de ficção, mas apta a mostrar ao leitor, através dos seus olhos e dos seus sentimentos, uma realidade embalada pela sensibilidade de uma velha senhora. Velha não, porque tia Idalina repudia esse tratamento, pois em verdade ela é atemporal, com a vivência da cidade de muito ontem e de muito hoje, no tempo em que se adquiriam alimentos no mercado Adolpho Lisboa, e popular mercadão, e não nos shoppings. A tia cativa o leitor desde o primeiro contato, pois está sempre bem informada sobre os acontecimentos”, completou o também poeta Elson Farias.
Serviço
O quê? Lançamento do livro ‘Uma amazonense em Copacabana’
Onde? Espaço Cultural Francisco Antonaccio
Rua Monsenhor Coutinho, 527, próximo à praça do Congresso, em frente ao hotel Go Inn
Quando? Dia 02 de fevereiro, sábado, às 10h
Informações: 9 9112-0257
Trecho do livro
Cidadania sênior
“Há duas coisas sobre as quais minha querida tia Idalina mantém absoluto segredo: sua idade e seu voto. Na última vez que estive no Rio de Janeiro, tentei ‘jogar verde’ para saber em quem havia votado nas últimas eleições, mas foi em vão. ‘Voto secreto’. Fim de papo.
O único voto que se sabe até hoje, de tia Idalina, foi aquele dado ao Jânio Quadros no início dos anos 60, voto esse de que ela se arrepende amargamente. Manteve segredo durante anos. Até que numa calorosa discussão sobre política, na época das ‘Diretas Já’, confessou seu crime. Sim, havia votado naquele crápula.
Arrependeu-se e culpa o Jânio Quadros pela derrocada política do país desde então. Saudosa de votar para presidente, torceu pela redemocratização, e prometeu a si mesma: se houvesse eleições diretas para presidente, jamais declararia seu voto. Seria sempre secreto. E cumpre a promessa; é uma questão de princípio! Possivelmente vota em branco”.