14 de setembro de 2024

Aumento da gasolina pega os setores de comércio e serviços no contrapé

O aumento do preço da gasolina vendida à Petrobras para as distribuidoras brasileiras, o primeiro desde junho de 2022, entrou em vigor nesta quarta (25). A companhia ainda não anunciou correções de preços também para o diesel, o que traria impactos diretos para a formação de preços no transporte de mercadorias. A expectativa, no entanto, é que o reajuste deve alimentar a retomada da inflação, em um momento em que os agentes econômicos aguardam por sinalizações do governo federal que tragam o retorno da confiança para investir e contratar. 

Desde ontem, o preço médio de venda de gasolina A às distribuidoras passou de R$ 3,08 para R$ 3,31 por litro, uma diferença de 7,47%. Considerando a mistura obrigatória de 27% de etanol anidro no litro de gasolina vendido nos postos, a parcela proporcional da Petrobras nas bombas será de R$ 2,42, em média. “Esse aumento acompanha a evolução dos preços de referência e é coerente com a prática de preços da Petrobras, que busca o equilíbrio dos seus preços com o mercado, mas sem o repasse para os preços internos da volatilidade conjuntural das cotações e da taxa de câmbio”, salientou a petroleira, em nota à imprensa.

O entendimento é que o reajuste, anunciado na terça (24), foi um movimento técnico, uma vez que o CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura e Energia) e a Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis) apontavam para uma defasagem de aproximadamente 15% nos preços do combustível. Mas, especialistas apontam que o reajuste também reforçou a urgência de discussões sobre a política de precificação de combustíveis a ser adotada na Petrobras pela atual gestão federal. A atual se baseia na cotação do petróleo em dólar e o custo com taxas de importação para a formação de preços, o que torna o mercado interno refém das oscilações cambiais.

Deflação em risco

O aumento da gasolina pega os setores de comércio e serviços no contrapé, já que o período é tradicionalmente de queima de estoques e vendas baixas, com consumidor comprometido com pagamento das faturas de Natal, IPVA, IPTU e material escolar. Para a indústria, pode significar a interrupção do atual ciclo de deflação. Principalmente, se o diesel acompanhar esse movimento. A média de preços do setor caiu 0,54% entre outubro e novembro, conforme o IBGE. na quarta variação negativa seguida, levando a alta acumulada dos 12 meses (+4,39%) a um patamar baixo do IPCA (+5,90%). Mas, nove das 24 atividades do setor registraram aumentos.

O vice-presidente da Fieam (Federação das Indústrias do Estado do Amazonas) e presidente do SIMMMEM (Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Manaus), Nelson Azevedo, enfatiza que o aumento era esperado, já que a Petrobras não tem produção suficiente para abastecer o mercado nacional com os derivados de petróleo, sendo que a parte residual é importada por empresas privadas. “Se não houver esse alinhamento, inviabiliza as empresas privadas a importar e comercializar os derivados no país, gerando com isso desabastecimento”, acrescentou.

O dirigente, no entanto, concorda que a discussão em torno da precificação dos combustíveis no Brasil é antiga e acabou sendo postergada, a despeito de seus efeitos na inflação do país. “A política de preços da Petrobras segue a paridade internacional, que oscila pela cotação do petróleo e da taxa cambial. Isso causa o reajuste e redução nos preços com frequência. Dessa forma, continuaremos sofrendo com as variações nos preços dos combustíveis, a não ser que a Petrobras mude sua política de preços”, frisou. 

O presidente da Aficam (Associação dos Fabricantes de Insumos e Componentes do Amazonas), Roberto Moreno, reforça que o aumento afeta diretamente a cadeia logística, assim como os produtos e serviços consumidos em todo o país. “A depender dos percentuais envolvidos, há alguma negociação que possa retardar esses impactos, em média por um mês. Mas, com certeza, ocorrerão. Ainda mais para as indústrias do Amazonas, que sofrem grandes dificuldades logísticas, seja na chegada de matérias primas ou componentes, seja na saída de produtos. E não acredito que os distribuidores segurarão repasses, que devem ocorrer de imediato”, frisou.

Na análise do dirigente, os efeitos esperados para a indústria incluem desaquecimento nas vendas, mas ele ressalta que janeiro costuma ser ciclicamente mais fraco do que outros meses. “Por agora, não houveram grandes alterações nos planos de produção dos bens finais, mas vamos avaliar a evolução do cenário nos próximos meses. Sobre a possibilidade de aumentos seguidos dos combustíveis, independente do fator que leve a isso, estamos no início de um novo governo e a política de preços a ser adotada deverá ficar clara em breve”, concluiu.

“Mercado livre”

Até o fechamento desta edição, o aumento ainda não havia chegado às bombas dos postos de gasolina de Manaus. O balanço mais recente da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) é anterior à data e informa que, na semana de 15 a 21 de janeiro, o preço médio do litro da gasolina vendido nos postos do país teve queda de R$ 5,04 para R$ 4,98. O valor mínimo de revenda foi de R$ 4,15 e o máximo, de R$ 6,99. O diesel foi na mesma direção e passou de R$ 6,36 para R$ 6,32, em uma faixa que vai de R$ 7,99 a R$ 5,39.

Procurado pela reportagem do Jornal do Commercio, para falar sobre as perspectivas de repasse do aumento aos consumidores do Estado e a situação do setor de revenda de combustíveis, o Sindicombustíveis (Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo, Lubrificantes, Alcoois, e Gás Natural do Estado do Amazonas), se limitou apenas a lembrar que “estamos com nova refinaria no Amazonas”, referindo-se à venda da Reman (Refinaria Isaac Sabbá).

Em depoimentos anteriores, os dirigentes da entidade salientaram que não é possível dimensionar o comportamento do setor como um todo, uma vez que “o mercado é livre” e a formação de preços dos postos de combustíveis dependem de diversos fatores que variam de empresa a empresa, como o estoque de produto comprado a preço antigo e o equilíbrio nas margens de lucro. Informaram também que o período de férias costuma ser de baixa demanda no Estado, já que muitos consumidores viajam, sendo comum que parte significativa dos postos faça “promoções” para assegurar as vendas. 

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio

Veja também

Pesquisar