A cada dia aparecem novos internautas publicando fotos da Manaus antiga nas redes sociais, mas um dos pioneiros desse tipo de publicação foi o administrador José Rocha, ainda num blog. Surgidos em 1994 e popularizados a partir de 2000 como diários virtuais, os blogs logo passaram a oferecer diferentes conteúdos.
“Eu era amigo de bar do psiquiatra Rogélio Casado, e ele tinha, desde 2005, o blog Picica no qual publicava, entre outros assuntos, histórias da Manaus antiga. Um dia eu falei com ele que queria criar um blog para publicar fotos. Ele me ensinou, eu vi que era fácil e, em 2006, criei o Blog do Rocha. Eu, que nunca tinha escrito um texto, não sabia nem o que publicar, além de fotos pessoais, principalmente com amigos, nos bares da cidade”, lembrou Rocha.
Sem ninguém para lhe dizer como fazer, Rocha foi montando seu blog com fotos e legendas.
“Aí começaram a surgir os seguidores. Uma vez um disse que era para eu melhorar a apresentação, outros pediam para eu identificar onde era o lugar das fotos publicadas. Em 2007 foquei na história de Manaus, que não conhecia. Lembro que quando era menino, andando pelas ruas do Centro, me chamavam a atenção os belos casarões abandonados. Queria saber quem havia morado ali e sua história. Foi então que comecei a pesquisar e um fato puxa o outro”, disse.
Assim que o Blog do Rocha foi encorpando com histórias de Manaus, os seguidores foram surgindo cada vez mais ao ponto de suas publicações servirem como referência para quem se interessava por essas histórias. E Rocha se empolgou.
Conhecendo os casarões
“Eu descobri que sabia de coisas que outras pessoas não sabiam como, por exemplo, eu havia conhecido o casarão que existiu no lugar onde hoje está o edifício Cidade de Manaus e foi demolido em 1968. Não consegui entrar nele porque estava com parte da entrada desabada e não dava para passar. Também vi em pé o Palacete dos Miranda Correa, demolido em 1971. Cheguei a entrar no jardim que havia na frente do palacete, mas ele estava fechado”, recordou.
Outro belo palacete que, inexplicavelmente foi abandonado e depois demolido, era o Edifício da Secretaria da Saúde, na praça Antônio Bittencourt (do Congresso), demolido em 1969 e construído em seu lugar uma agência dos Correios.
“Eu e a molecada jogávamos pedras nos vidros das janelas do palacete abandonado e os seguranças corriam atrás da gente. Tinha seguranças porque era um prédio público”, riu.
“Também ia me divertir no Parque Infantil existente na frente da catedral e nos cines do Centro eu ia a todos: Guarany, Polytheama, Avenida, Odeon e Popular. O Odeon, que eu me lembre, era o melhor com tapete vermelho, poltronas e ar condicionado central. Guarany, Polytheama e Avenida tinham grandes ventiladores e, à noite, para ventilar, o Guarany abria suas portas laterais porque ficava dentro de uma área murada. Já o Cine Popular era conhecido por cine Poeira, porque era sujo e decadente”, contou.
O Teatro Amazonas, em fins da década de 1960 e início da de 1970, totalmente abandonado, recebia visitas dos moleques da rua Tapajós, entre eles, Rocha.
“A porta da frente ficava aberta. Nós entrávamos e íamos brincar lá dentro”, revelou.
Outro tema abordado por Rocha em seu blog é a cidade flutuante, afinal de contas lá ele nasceu e viveu até os onze anos, em 1966.
“Muito antes do SUP com pranchas, eu e a molecada da cidade flutuante praticávamos SUP sobre toras de madeira. O remo eram pedaços de madeira. Íamos remando do Igarapé de Manaus, no Centro, até o Caxangá, na Cachoeirinha, atrás da penitenciária, para tomar banho”, informou.
Na ‘cara de pau’
Para não cometer erros em seu blog, Rocha sempre faz pesquisas na Biblioteca Pública, em livros e jornais, e também no Museu da Imagem e do Som. Nesses 16 anos de existência do Blog do Rocha, o blogueiro já realizou 2.700 publicações, entre fotos e textos e, apesar de fazer publicações constantes no Face e Instagram sobre assuntos mais pessoais, e também história, nem pensa em abandonar o blog.
“Não gosto de mudanças, muito menos de seguir modismos. Nem penso em parar com o blog porque não estou atrás de seguidores. Simplesmente fui publicando os fatos históricos e quando vi já havia uma grande quantidade deles”, afirmou.
“Agora uma coisa que me chateia bastante são pessoas que fazem Control C e Control V nos meus textos e fotos. Copiam na ‘cara de pau’ e publicam nas suas redes sociais como se aquele material fosse de sua autoria, sendo que eu tenho o trabalho de pesquisar antes de publicá-los”, lamentou.
Para evitar tal aborrecimento, Rocha instalou no blog um sistema que impede a ação de terceiros de copiar suas postagens e garante que continuará, da mesma maneira como há 16 anos, publicando histórias, principalmente as vivenciadas por ele.
“Acho muito bacana esse interesse de vários internautas estarem publicando textos e fotos da Manaus de antigamente nas suas redes sociais. Gostaria de saber porque fazem isso? Nos meus tempos de escola os livros não traziam nada sobre Manaus. Como você vai gostar de sua cidade se não a conhece? É muito gostoso deixar seu conhecimento para as gerações futuras”, concluiu.
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