17 de outubro de 2024

Booth Line renasce!

Um dos mais belos conjuntos arquitetônicos da época áurea do comércio da borracha está sendo restaurado e surgirá com o nome de Mercado de Origem.
O belo conjunto arquitetônico resurgirá como Mercado de Origem Foto: Selma Carvalho

Finalmente, depois de quase 30 anos abandonado, o complexo Booth Line está sendo restaurado e a previsão é que, até o final de outubro, seja entregue à população, agora denominado Mercado de Origem, pertencente ao empresário mineiro Elias Tergilene, que também é o proprietário do Mercado de Origem, de Belo Horizonte.

O Mercado de Origem é uma central de distribuição de pequenos produtores rurais onde estes podem vender seus produtos diretamente ao consumidor sem a necessidade de um atravessador. Em Manaus, o novo empreendimento de Elias pretende reunir 700 bancas, que já estão chegando ao espaço e aguardando os interessados em utilizá-las.

“Nesse primeiro momento, o antigo complexo Booth Line será transformado numa feira imensa, ao estilo dessas feiras semanais que encontramos nos bairros mas, acima dos dois pisos originais do prédio, serão construídos outros dois andares para abrigar lojas dos mais diversos segmentos, salões de beleza, artesanato, lanchonetes, bares e restaurantes, pet shops, barbearias e todo tipo de segmento comercial”, adiantou Wollder Souza, administrador do espaço.

Quem passa pelas imediações do Porto de Manaus se acostumou a ver, durante anos, a bela e gigantesca estrutura do complexo Booth Line, abandonada e se deteriorando pouco a pouco e nem percebeu que toda a fachada do complexo foi totalmente lavada.

“Começamos os trabalhos de revitalização, em junho, lavando todas as fachadas dos prédios. Depois as máquinas entraram para fazer o trabalho interno. Em 2002 o antigo proprietário iniciou uma restauração, que não foi adiante. O Elias é o proprietário do complexo há 18 anos, e desde 2022 começou a idealizar o Mercado de Origem aqui”, contou.

 

Os irmãos Booth  

A Booth Line foi uma empresa de navegação inglesa fundada pelos irmãos Alfred e Charles Booth, que fazia a travessia marítima entre Manaus e Liverpool, além de outras cidades da Europa, desde o final do século 19, quando começou o boom do comércio da borracha. O primeiro prédio a fazer parte do complexo Booth Line foi exatamente o dos escritórios da empresa cujo ano, possivelmente de sua inauguração, 1894, consta numa das platibandas. A partir de então, outros prédios foram sendo construídos uns colados aos outros, no estilo geminado, porém, cada um com características próprias totalizando 14 construções de dois pisos, com exceção do que ficava na esquina, o Bar e Restaurante Bolsa Universal, com apenas um andar, e o único totalmente demolido. Em outro prédio, em cujo frontão consta o ano de 1900, funcionou o Tribunal de Contas do Estado. Na atual restauração, numa parede do andar superior, foi encontrado um espaço com vários círculos sobre os quais está escrito ‘Galeria dos Juízes’. Nos círculos deveriam constar as fotos dos presidentes do Tribunal.

“Seguindo as diretrizes e normas do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), as fachadas de todos os prédios serão mantidas e restauradas, e no interior manteremos o máximo possível da arquitetura original, tanto que, depois de meses de consultas, recebemos a autorização do Instituto para realizar as obras. O prédio onde funcionou a Bolsa Universal será reconstruído com a mesma arquitetura do original”, disse.    

A área a ser ocupada pelo Mercado de Origem será de 5.500 m2, sendo 3.800 m2 cobertos, em dois pisos, como no original. Concluída essa parte de restauração, serão construídos os dois novos andares, com previsão de entrega em 2027.

 

Curiosidades históricas

À medida que as obras avançam se descobrem curiosidades que a história conseguiu manter como, por exemplo, o emboço, em volta dos balaustres do prédio principal, dos escritórios da Booth Line, ter sido enriquecido com conchas do mar (cal conchífera), para dar liga, ou deixá-la mais resistente.

As paredes internas medem 55 cm e todas são feitas com pedras Jacaré, possivelmente trazidas das pedreiras das imediações de Manaus, retiradas através de explosões, para serem usadas nas construções que foram erguidas principalmente a partir de 1900.

Algumas telhas de barro importadas de Lisboa se encontram intactas, mas das telhas de vidro colorido importadas de Marselha, só restaram os cacos.

Toda a estrutura desse prédio, feita com imensas vigas de aço e seis colunas com a inscrição ‘Empreza Industrial Portugueza Lisboa’, também em aço, espalhadas pelo prédio, serão preservadas e mantidas.

Os trabalhadores que trabalham nas obras do complexo descobriram que as soleiras, bem como as esquadrias de todas as 13 portas, são de mármore, o que demonstra que os irmãos Booth não economizaram na construção.

Para os apaixonados pela nossa história, está comprovado, através de pesquisas arqueológicas, que parte do Forte de São José da Barra ficava numa área dentro do terreno do prédio da Booth Line e foi aterrado. A outra parte do Forte está sob o prédio do antigo Tesouro Estadual.

“Encontramos muitos utensílios, como xícaras e garrafas antigas, enterradas, e farão parte de um futuro museu. Infelizmente todas as estátuas que ornavam o alto dos prédios do complexo foram roubadas. E não eram poucas, conforme podemos ver em fotos antigas”, lamentou Wollder.

“Mas Manaus deve comemorar, porque em breve terá de volta um de seus mais belos conjuntos arquitetônicos dos tempos áureos do comércio da borracha”, concluiu.

Para quem quiser um espaço no Mercado de Origem: informações (92) 9 9322-9001

 

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio

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