Hoje é o Dia Mundial do Braille, data que homenageia o nascimento do francês Louis Braille, em 4 de janeiro de 1809. Braille criou o sistema de leitura para cegos, em 1825, quando tinha apenas 15 anos. Até hoje cegos do mundo todo se valem do sistema, mas a tecnologia de aplicativos em celulares e computadores o está fazendo cair em desuso.
O amazonense Gilson Mauro Pereira ficou cego com apenas 17 anos, em 1980, quando morava em São Paulo.
“Eu dormi enxergando e quando acordei, havia tido um descolamento de retina e minha visão estava bastante reduzida. Como na época não havia tratamento, minha visão foi piorando até eu ficar totalmente cego”, recordou Gilson, gerente da Biblioteca Braille do Amazonas.
Atualmente aproximadamente 90% dos descolamentos de retina são tratados com sucesso utilizando-se três tipos diferentes de cirurgia.
A Biblioteca Braille foi inaugurada em 8 de novembro de 1999, no subsolo da Biblioteca Pública do Amazonas, e lá ficou por quase dez anos. No dia 4 de abril de 2008 ela foi transferida para o Bloco C do Sambódromo, onde está até agora.
“Nosso acervo é, hoje, o terceiro maior do Brasil, ficando atrás apenas de bibliotecas em São Paulo e no Paraná. É constituído por mais de 50 mil obras entre livros digitalizados, livros falados, obras em Braille e filmes com audiodescrição”, informou.
O espaço ainda disponibiliza para seus usuários, estúdios de gravação, máquinas de escrever em Braille, computadores especiais, impressoras em Braille, scanners de voz e lupas eletrônicas.
Sistema Braille
Após ficar cego, Gilson foi estudar na Fundação Dorina Nowill, que há 75 anos se dedica a inclusão social de pessoas cegas e com baixa visão por meio da produção e distribuição gratuita de livros em Braille, falados e digitais, diretamente para o público e para cerca de 3.000 escolas, bibliotecas e organizações de todo o Brasil.
“Lá eu aprendi o básico do Braille, mas então fui estudar numa escola normal e esqueci tudo. Quando precisei do Braille, tive que voltar para a Fundação e fazer uma reabilitação. Desde então só me desenvolvi nesse sistema”, contou.
O sistema Braille é um processo de escrita e leitura baseado em 63 símbolos em relevo, resultantes da combinação de até seis pontos dispostos em duas colunas de três pontos cada. Pode-se fazer a representação tanto de letras, quanto de algarismos e sinais de pontuação.
Em 1991 Gilson voltou para Manaus. Assumiu a gerência da Biblioteca Braille em 22 de maio de 2000, seis meses após sua inauguração, e continua na função. O gerente contou que o censo de 2010, do IBGE, mostrou que o Amazonas possuía mais de 700 mil pessoas com algum grau de deficiência visual, 432 mil morando em Manaus.
“Desse total, 70 mil eram ativos, ou seja, aqueles que têm liberdade para sair de casa e caminhar por onde quiserem”, revelou.
Um detalhe que o leigo não imagina. As cores das bengalas definem os tipos de deficiência visual: cegos usam bengala branca; cegos e surdos, bengala branca e vermelha; e com baixa visão, bengala verde.
“Ainda de acordo com o censo, esses mais de 700 mil do censo teriam baixa visão, o que significa possuir menos de 10% da visão normal. Isso foi há doze anos. Os números, agora, podem ser outros, não sei dizer se pra melhor ou pra pior”, falou.
Vários cursos
Gilson destacou que, além de outras habilidades desenvolvidas pelos deficientes visuais, está a de ler (com o dedo indicador) e conversar ao mesmo tempo.
“Quem tem visão não consegue ler um livro e conversar, ao mesmo tempo. O cego consegue”, afirmou.
O gerente esclareceu que na Biblioteca Braille são promovidos cursos Braille para qualquer pessoa, de deficientes visuais a professores e pedagogos, que querem ensinar nesse sistema. Outros cursos, estes somente para deficientes visuais, são os de teclado, violão e cavaquinho.
“E ainda promovemos o curso de audiodescrição. Em 28 de abril de 2009 Manaus se tornou a primeira cidade do Brasil a ter uma ópera, ‘Sansão e Dalila’, toda em audiodescrição. O que é a audiodescrição? É ter uma pessoa habilitada descrevendo para o cego tudo o que está acontecendo em determinado evento. Em Manaus, a recordista em audiodescrições é Sandra Amazonas. Em 13 anos de atividades ela já participou de 279 apresentações somente no Teatro Amazonas”, lembrou.
Gilson comemora, em 2022, ter sido impresso na Biblioteca Braille, o Regimento Interno da Câmara de Manaus e a Loman (Lei Orgânica do Município), mas revela que o sistema utilizado há 198 anos está caindo em desuso.
“Com a facilidade dos aplicativos conseguimos ler o que quisermos, num celular, apenas passando o dedo na tela; e no computador usando somente o teclado”, disse.
A Biblioteca Braille do Amazonas funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h.
“Ano passado recebemos 668 pessoas com deficiência visual e 125 visitantes”, finalizou.
Informações: 9 9111-8734 e 3622-0869.