O Brasil tinha quase 1,5 milhão de trabalhadores por meio de aplicativos de serviços no quarto trimestre de 2022, incluindo motoristas, entregadores de comida e outros profissionais.
A conclusão é de uma pesquisa inédita divulgada nesta quarta-feira (25) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O grupo de quase 1,5 milhão de plataformizados, conforme a definição do órgão, correspondia a 1,7% da população ocupada com trabalho à época no setor privado (87,2 milhões). Também se assemelhava ao número total de habitantes de uma capital como Recife ou Goiânia.
O número de trabalhadores de aplicativos de serviços no quarto trimestre de 2022 (1,5 milhão) ainda era similar ao de professores do ensino fundamental no Brasil. No segundo trimestre de 2023, o país somava quase 1,5 milhão de docentes ocupados nesse nível de ensino, conforme microdados do IBGE compilados pelo economista Bruno Imaizumi, da LCA Consultores. A atividade com maior número de empregados no segundo trimestre deste ano foi a de serviços domésticos em geral, com 4,268 milhões.
Entre os trabalhadores de apps de serviços, há predomínio de motoristas, homens, pessoas de 25 a 39 anos e com ensino médio completo ou superior incompleto.
A categoria também tem uma renda mensal superior à do restante dos profissionais ocupados na média, mas trabalha mais por semana, recebe menos por hora e contribui em menor escala para a Previdência, segundo o IBGE.
As informações integram um novo módulo da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua). Como o recorte é inédito, não há dados comparáveis de períodos anteriores. As estatísticas são experimentais –ou seja, ainda estão em fase de testes e sob avaliação.
Do contingente de 1,5 milhão de plataformizados, parcela de 47,2% atuava por meio de aplicativos de transporte particular de passageiros (exceto táxi). Em termos absolutos, essa fatia era composta por 704 mil motoristas.
Em seguida, apareciam os trabalhadores de apps de entrega de comida e outros produtos (39,5%, ou 589 mil), de táxi (13,9%, ou 207 mil) e de serviços gerais ou profissionais (13,2%, ou 197 mil).
A soma das porcentagens ultrapassa 100% porque pode haver sobreposição de respostas. Um mesmo motorista pode atuar, por exemplo, em uma plataforma de transporte particular de passageiros e em uma de táxi, conforme o IBGE.
PERFIL POR SEXO, IDADE E ENSINO
No recorte por sexo, a pesquisa indicou que 81,3% dos plataformizados eram homens, enquanto as mulheres respondiam por 18,7%.
O resultado aponta que a presença masculina é consideravelmente maior nos aplicativos do que entre os trabalhadores fora deles (58,7%) e no total de ocupados (59,1%).
A pesquisa também indicou que quase a metade dos plataformizados tinha de 25 a 39 anos. A parcela correspondente era de 48,4%.
A participação do grupo de 25 a 39 anos era mais baixa entre os não plataformizados (39,5%) e na população ocupada total no setor privado (39,6%).
Os trabalhadores de apps de serviços se concentravam nos níveis intermediários de escolaridade. Nesse sentido, mais da metade tinha ensino médio completo ou superior incompleto: 61,3%.
O mesmo nível de instrução representava uma fatia menor dos não plataformizados (43,1%) e da população ocupada total no setor privado (43,4%).
RENDA E HORAS TRABALHADAS
A pesquisa estimou a renda média do trabalho principal dos profissionais de aplicativos de serviços em R$ 2.645 por mês. A quantia é 5,4% superior ao rendimento médio dos não plataformizados (R$ 2.510) e 5,3% maior do que o valor obtido na média geral dos ocupados (R$ 2.513).
O IBGE ponderou que parte da diferença pode estar associada a uma composição mais heterogênea do grupo que está fora dos apps. Essa camada envolve, por exemplo, trabalhadores com remuneração considerada muito baixa, o que contribuiria para reduzir a média do rendimento.
Segundo o instituto, outro fator que pode explicar a diferença é a jornada maior de trabalho dos plataformizados. Em média, eles trabalhavam 46 horas por semana, o que significava 6,5 horas a mais do que os ocupados fora dos aplicativos (39,5).
O rendimento-hora dos profissionais dos apps foi estimado em R$ 13,3 no quarto trimestre de 2022. A quantia, contudo, ficou 8,9% abaixo da obtida pelos ocupados fora das plataformas (R$ 14,6).
Alexandre Galvão, 51, trabalha como motorista de aplicativos de transporte de passageiros desde 2016 no Rio de Janeiro.
A função inicialmente complementava a renda de um emprego com carteira assinada, mas logo depois o profissional deixou a vaga formal na área de logística corporativa.
Segundo o trabalhador, a decisão foi motivada à época pela possibilidade de ampliar os ganhos mensais por meio do app e com uma carga horária reduzida. Porém, de lá para cá, essa situação mudou, diz Galvão.
De acordo com o motorista, que concluiu o ensino médio, a remuneração média das corridas encolheu com o passar dos anos, enquanto as despesas foram pressionadas pela carestia de itens como os combustíveis.
Para manter o mesmo padrão de vida, a saída foi ampliar a jornada. Galvão afirma que hoje dirige de 60 a 65 horas semanais, de segunda-feira a sábado. Isso corresponde a uma carga de trabalho de 10 a 11 horas por dia.
“A maior luta hoje é por uma tarifa mais justa para o motorista de aplicativo. Não só para a gente, mas para os motoboys também”, diz.
CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA MENOR
Galvão afirma que possui registro de MEI (microempreendedor individual) e que, assim, consegue contribuir para a Previdência. Nesse quesito, ele faz parte da minoria dos motoristas.
Conforme o IBGE, somente 35,7% dos trabalhadores de aplicativos de serviços tinham cobertura previdenciária.
Entre os não plataformizados, a parcela era de 61,3%. Na média geral dos ocupados, a taxa de contribuição estava em 60,8%.
O módulo da Pnad divulgado nesta quarta mira os quase 1,5 milhão de trabalhadores de aplicativos de serviços. Além deles, diz o IBGE, 628 mil atuavam por meio de plataformas de comércio eletrônico como trabalho principal.
Na soma dos grupos, o total de profissionais era de 2,1 milhões. A pesquisa considera como plataformas de comércio sites de grandes varejistas que servem como marketplaces, hospedando produtos vendidos por comerciantes parceiros, por exemplo.