“Busca por produtos inovadores”

Em: 25 de janeiro de 2024

Pesquisa desenvolvida pela doutora em química pela Ufam, Jaqueline de Araújo Bezerra, no Ifam (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas), com o apoio de pesquisadores e professores do Ifam, da Ufam e da UFV (Universidade Federal de Viçosa), além de colaboradores do grupo de pesquisa do Nectam (Núcleo de Estudos em Ciência e Tecnologia da Amazônia) tem como propósito caracterizar quimicamente e avaliar as propriedades antioxidantes de bebidas fermentadas e de chás, elaboradas a partir de panc (plantas alimentícias não convencionais). Durante o estudo foram elaborados fermentados de araçá-pêra, maracujá-do-mato e pitaya-roxa, bem como foram desenvolvidos chás de outras espécies como a caferana, ora-pro-nobis e cacauí. A elaboração das bebidas e dos chás a partir dessas espécies, caracteriza avanço tecnológico, agrega valor às plantas selecionadas, e estimula o cultivo das espécies por comunidades localizadas na capital e no interior do Amazonas. A pesquisa recebeu o apoio da Fapeam (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas) via Programa Universal Amazonas. Em entrevista ao Jornal do Commercio, Jaqueline Bezerra detalhou melhor os resultados e os objetivos de sua pesquisa.

Jornal do Commercio: Por que você resolveu fazer suas pesquisas com panc?

Jaqueline Bezerra: Algumas panc mostram-se promissoras quanto à composição química e suas propriedades. Muitas das espécies selecionadas não possuem estudos científicos, o que justifica a pesquisa por causa da contribuição científica inédita. Além disso, existem algumas favoráveis quanto à riqueza de compostos bioativos (compostos que proporcionam benefícios para a saúde e que estão presentes em fontes alimentares) e suas propriedades para elaboração de processos e produtos de interesse. Buscamos agregar valor a espécies que muitas vezes são desvalorizadas e tratadas como mato ou praga. Com o conhecimento da química e de suas propriedades, o interesse por plantas alternativas aumentará.

JC: Existem dezenas de panc. Com quantas você trabalha, quais são e por que as escolheu? 

JB: Atualmente estudamos mais de 30 espécies com diferentes objetivos. Para as bebidas escolhemos espécies com aromas e sabores agradáveis, além de propriedades benéficas à saúde. Quanto mais a espécie é rica em compostos bioativos, é mais interessante investir em novos estudos e produtos. Alguns dos exemplos analisados na pesquisa foram o fruto do maracujá-do-mato, que possui aroma e sabor agradáveis; a pitaya-roxa, com a cor bem atrativa e propriedades prebióticas conhecidas; e as folhas de vinagreira-roxa com propriedades antioxidantes.

JC: Em suas pesquisas você descobriu algo ainda desconhecido da ciência a respeito dessas panc? 

JB: A maioria das panc que buscamos pesquisar não possuem muitos estudos científicos sobre a química e suas propriedades, o que justifica primeiramente o trabalho de caracterização química das espécies e análise sobre algumas propriedades como antioxidantes, citotóxicas e prebióticas. Tais resultados contribuem cientificamente com o conhecimento das espécies. As espécies mais promissoras fazem parte dos estudos inéditos mais detalhados dos meus alunos de pós-graduação (mestrado e doutorado).

JC: Por que bebidas fermentadas e chás? 

JB: A busca por nossos sabores de bebidas está cada vez maior. Existe uma busca por produtos inovadores que além do sabor tragam benefícios à saúde. As bebidas fermentadas são muito apreciadas por grande parte da população e já tem mercado estabelecido, enquanto as bebidas não alcoólicas, como os chás, ficam para a fatia da população que busca efeitos benéficos que promovam o bem-estar humano por meio de seus compostos bioativos.

JC: Não pensa em abranger a utilização dessas panc para outros tipos de alimentos? 

JB: Sim, nós estamos realizando pesquisas em diversas linhas, uma delas é a elaboração de suplementos ricos em compostos bioativos para enriquecerem outros alimentos como bolos, sopas, biscoitos e outros. 

JC: As panc nascem em qualquer lugar. O resultado de suas pesquisas poderá ajudar pessoas na cidade, e no interior, a produzir essas bebidas e chás? 

JB: Um dos objetivos de estudar panc é incentivar toda a cadeia produtiva estimulando o plantio das espécies de interesse para se ter em grande escala e consequente produção das bebidas e outros produtos alimentícios. 

JC: Você pensa em industrializar essas bebidas depois de concluídas suas pesquisas? 

JB: As bebidas mais promissoras serão submetidas a processo de patenteamento de produtos e processos para posterior transferência de tecnologia a investidores interessados.

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Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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