O secretário municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade, Antonio Nelson de Oliveira Junior, diz que pelo menos meio milhão de mudas de árvores já foram plantadas em Manaus. Ele ressalta principalmente os ipês que dão hoje um visual colorido, belo, mais aconchegante, no canteiro central da avenida Djalma Batista.
Segundo o secretário, a iniciativa faz parte do projeto da prefeitura para tornar a cidade uma das mais arborizadas do País. Nesse quesito, infelizmente, a capital não ocupa uma boa posição no ranking – até 2010, figurava em penúltimo lugar, aponta o último levantamento feito pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas).
“Agora, conseguimos dar uma nova cor a Manaus, tão criticada há tanto tempo por não ser tão arborizada, mesmo estando localizada no Amazonas, que tem uma rica e abundante biodiversidade”, afirma o dirigente da Semmas (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade).
Antonio Nelson estima que Manaus avançou muito nessas questões ambientais. Optou pelo plantio de mudas de ipês, uma espécie vegetal que se adaptou muito bem ao clima quente e úmido da capital. Pode ser plantado em cova relativamente rasa e não levanta o asfalto, ao contrário de outras culturas vegetais.
“Podemos dizer que o ipê já é uma planta da cidade porque se adaptou muito bem as nossas condições climáticas. O projeto está sendo bem-sucedido”, acrescenta ele. O próximo levantamento do IBGE sobre arborização seria realizado ainda este ano, mas só deve acontecer em 2021 por conta da pandemia do novo coronavírus. “Com certeza, nosso índice saltou muito, de forma positiva, no ranking das cidades mais arborizadas do Brasil”, prevê Antonio Nelson.
Igarapés que cortam a cidade são revitalizados, evitando-se a ocupação humana nas bordas dessas áreas para não contaminar a fauna e flora. Campanhas efetivas da Semmas tentam conscientizar a população sobre a importância da preservação de mananciais de água e de animais silvestres, segundo o secretário.
Já foram recuperados 5 quilômetros do igarapé do Mindu, o maior de Manaus, que tem pelo menos 15 quilômetros de extensão. “É um projeto muito caro, mas mesmo assim está sendo executado”, salienta Antonio Nelson.
O secretário falou com exclusividade ao Jornal do Commercio.
Jornal do Commercio – Observa-se hoje ipês coloridos, floridos, na cidade, principalmente na Djalma Batista. Essa arborização atendeu a preceitos de adaptação de espécies vegetais ao clima da região?
Antonio Nelson – É um trabalho exaustivo que não acontece só na Djalma Batista. São pelo menos 6 mil árvores. Os plantios estão sendo feitos nos canteiros centrais das principais avenidas da cidade, o que tem dado uma nova cor a Manaus.
Estudamos com especialistas da secretaria quais seriam as características de espécies que mais se adaptavam à região, como também os tipos de calçadas. O ipê tem uma raiz pequena, pode ser plantado em cova relativamente rasa e não levanta o asfalto.
A espécie se adaptou muito bem à região. Podemos agora batizá-la como uma árvore da cidade porque o projeto está sendo bem-sucedido. Temos mais de quatro cores de ipês espalhados pela capital.
JC– Existem muitas reclamações de que Manaus não é uma cidade arborizada. O que falta ainda para mudar essa realidade?
Antonio Nelson – A gente amargava um índice tendo Manaus como a penúltima capital do Brasil em termos de arborização. Esses dados são calculados pelo IBGE a cada dez anos. O último foi feito em 2010. E não leva em consideração as árvores de quintal, que são uma característica de nossa cidade, por uma questão cultural.
Então, precisamos trazer essas árvores para fora, para a frente das casas. E é esse o trabalho que estamos fazendo na Semmas. Temos um programa chamado ‘Arboriza Manaus’, que passou de secretário para secretário. E permaneceu por determinação do atual prefeito. O próximo levantamento do IBGE ficou de acontecer em 2020, mas foi prorrogado para 2021 por causa da pandemia.
Com todas essas ações, com certeza conseguimos avançar nesses índices do instituto. Já são mais de meio milhão de mudas plantadas, que não são mais consideradas árvores de quintal. E ainda mais 220 mil mudas nessa parte ornamental nos canteiros.
JC – Os parques são de responsabilidade da Semmas?
Antonio Nelson – Boa parte deles, sim. O Parque do Mindu é a nossa mina de ouro. Inclusive o prefeito Arthur Neto tem uma história próxima, um forte vínculo com a área. Na primeira gestão dele, na década de 1990, ele se juntou à população para segurar o local que era um instrumento de invasão de um grileiro. Eles conseguiram preservar o local que virou um parque. O prefeito adora estar ali.
Então, o Parque do Mindu é o nosso Parque Ibirapuera, com uma fauna e flora muito ativas. Tem espécie de sauim, paca, cotia. Vemos a presença massiva desses animais. E não permitimos a presença de animais domésticos justamente para preservar a fauna silvestre, para haver uma harmonização. O Parque do Mindu é o único que não tem pet friendly.
JC – Por que o Parque do Mindu não permite pet friendly?
Antonio Nelson – Exatamente por causa da fauna nativa. O Parque do Mindu é o marco zero do nosso corredor de sauim. Lá, alimentamos algumas famílias dessa espécie.
Então, o selvagem ainda não se bica com o doméstico, eles têm atritos. E não permitimos para não quebrar essa harmonia natural, para não haver nenhum incidente.
Temos batido todos os recordes em termos de visitação. Antes da pandemia, o parque chegou a receber mais de 3 mil visitantes em um único mês. O Mindu é o parque querido da população.
JC – A prefeitura conseguiu avançar na desburocratização das questões ambientais?
Antonio Nelson – O comitê de desburocratização tem feito muita coisa pela cidade num momento em que o País precisava ser impulsionado economicamente. Um sistema eletrônico agilizou os licenciamentos, não só na parte ambiental como também em outros quesitos.
Um documento de inelegibilidade, que não tem obrigatoriedade em lei, sai hoje rapidinho. Ele é feito de forma automática.
A parte de licenciamento, porém, ainda requer alguns ajustes porque é necessária a fiscalização in loco. A questão ambiental é muito subjetiva e precisa de boa-fé para ser bem exercitada. Mas estamos a meio caminho no processo de desburocratização que as pessoas almejam.
JC – Como estão as ações da Semmas em relação às queimadas?
Antonio Nelson – Esse é um trabalho de formiguinha. Existe existe ainda o vício das queimadas do povo do Norte, é cultural, principalmente nos quintais, queimar o lixo, apesar de termos uma coleta efetiva na cidade.
As queimadas não são permitidas. Responde-se por crime ambiental. Orientamos que não se deve recorrer a essas práticas, inclusive queimar folhas, que são hoje inclusive utilizadas nas compostagens. As fumaças causam danos ao ambiente.
Então, a orientação é descartar essas folhas no lixo. Isso acontece muito no sul do Amazonas. E a fumaça migra para a capital por questões climáticas. E o nosso trabalho é fiscalizar e multar para coibir.
JC – E a parceria com o Exército para combater as queimadas ….?
Antonio Nelson – O Exército tem uma equipe muito disciplinada que atua em grande número. Desde 2013, eles fazem esse trabalho com a prefeitura. O recapeamento da avenida Coronel Teixeira foi fantástico. Tem uma engenharia precisa, muito excelente.
E hoje, mais uma vez, eles realmente têm todo um objetivo na preservação ambiental em parceria com o município.
JC – Existe algum plano para revitalização de outros parques?
Antonio Nelson – Temos um programa chamado ‘Parque da Juventude’, que resgata áreas em que as pessoas se interessem pelo meio ambiente, onde antes era uma lixeira viciada. Retiramos o lixo, fazemos um replantio e inserimos algumas construções, como uma praça pública, uma academia ao ar livre, que motivam as comunidades a preservar esses locais.
Já fizemos 12 parques e temos mais quatro para finalizar até dezembro.
JC – O sr. pode dizer quais são esses parques?
Antonio Nelson –No núcleo 15 da Cidade Nova, no Hileia, no Conjunto Cidadão e na comunidade Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Esses parques com obras de revitalização estão na reta final para serem entregues à população.
E tem ainda o projeto de revitalização do Parque dos Bilhares. O prefeito quer concluir a reforma até o final de seu mandato, entregando o local com uma cara nova.
JC – Essa reforma no Parque dos Bilhares prevê também mais segurança à população, como a questão de uma melhor iluminação?
Antonio Nelson – Começamos a iluminação no Parque dos Bilhares com LEDs. Houve muito incidentes de furtos da fiação elétrica. Hoje, conseguimos equacionar o problema. Conversamos com a comunidade. Colocamos a nossa guarda militar. Nunca mais tivemos problemas de furtos. E agora, com essa reforma, vamos consolidar de novo o local.
JC – Novos projetos empresariais deixam de ser viabilizados por causa de entraves ambientais, a exemplo do que acontece com a pavimentação da rodovia BR-319, uma pendenga que se arrasta há pelo menos 20 anos. Como a prefeitura avalia novos empreendimentos imobiliários com interesse em investir na região?
Antonio Nelson –Manaus é entrecortada por igarapés. E é uma das grandes capitais que vêm sendo especuladas comercialmente. Tudo isso gera emprego e alavanca o desenvolvimento. Estamos dando apoio a empresários tentando identificar esses gargalos, mas existem ainda muitos entraves por causa da legislação federal.
Sou a favor da reforma do Código Florestal. A legislação diz que deve ter uma APP, área de preservação permanente, de pelo menos 50 metros na geolocalização desses empreendimentos, o que acaba inviabilizando muitos projetos.
Realmente, é muito difícil administrar essas questões. Eu não posso abrir mão da legislação. Inclusive, reunimos recentemente vários secretários para identificar esses problemas. É uma grande discussão que causa muito desgaste ao empresário que quer investir. Nosso interesse é equacionar tudo, que só virá mesmo com a reforma do código. Podemos também fazer um decreto de desburocratização nesse sentido.
JC –Estamos em ano de eleições. É possível, realmente, se pensar numa política pública para recuperar os igarapés de Manaus?
Antonio Nelson – Muitos dos igarapés têm solução. Um exemplo é o do Mindu, que corta a cidade em 15 quilômetros e é o maior da capital. Tocamos um projeto que estava engavetado e que está hoje em plena execução. Já foram recuperados 5 quilômetros do igarapé, que vai da Reserva Ducke até a área central de Manaus, mais ou menos na Recife.
O projeto tem três etapas. Envolve desapropriações, reflorestamento e descontaminação dos lençóis freáticos. A nascente do Mindu está viva, fica ao lado da Reserva Ducke, onde temos o Parque Nascente do Mindu. Eu mesmo bebi água lá. Fazemos um trabalho muito bom com as escolas.
Então, se protegermos as margens, a nascente viva consegue deixar um corredor de fauna e flora extenso. O Ministério Púbico tem muito interesse pela questão. Esse é o caminho, como também revitalizar os pequenos igarapés.
Não é um trabalho barato. O Prosamim tinha esse objetivo, mas foi mudado para dar lugar a um projeto habitacional. Está tudo bem canalizado, as casas foram afastadas, mas está tudo muito bem preservado.
Proteger as bordas dos igarapés com o máximo de ações possíveis dá vazão para águas não poluídas.