Ultimamente tenho trabalhado massivamente no redescobrimento da música como fonte de renda. Estive por 2 anos em outra cidade, trabalhando unicamente com empreendedorismo e crescimento digital, utilizando as redes sociais como fonte de captação de cliente. É um grande desafio separar tudo o que aprendi sobre o mercado digital de um lado, e tudo que eu sabia e preciso reaprender sobre o mercado musical de outro, no intuito de analisar as duas áreas e criar o meu novo modelo de negócio.
Engraçado que quando começamos um novo caminho ou partimos em busca de uma nova missão, parece que deixamos todo conhecimento adquiridos até então para trás. Nesse último mês, voltei a assistir cursos sobre produção musical, conceito artístico, direitos autorais, fonograma, publicação, labels , pois para empreender esse novo projeto preciso ter a visão do músico como um todo. A experiência mais deliciosa que pude vivenciar nesse “revival” foi descobrir que é tudo muito parecido, o script a ser seguido, digo. A construção de um negócio musical tem um roteiro muito parecido com a construção de qualquer outro investimento e apesar de estar reaprendendo a entender o cenário, já percebi que poucos são os músicos que analisam a sua carreira, seguindo a lógica de mercado que envolve a música.
Se você é músico, você já fez o seu Business Model Canvas ou seu plano de negócio tradicional? Já elaborou o seu calendário de postagens, criou a persona da sua música, desenhou a identidade visual das suas redes sociais, projetou as linhas editoriais do seu conteúdo ou planejou sua lives, reels, igtv. Será que você já pensou no DNA do seu negócio?
E olha que eu ainda nem cheguei na parte de escoamento, de divulgação do trabalho e consequentemente, da contratação de shows, até porque, aqui em Manaus ainda estamos, em razão da pandemia, com todo setor voltado para cultura e entretenimento totalmente parado.
Bom, esse período tem sido um divisor de águas. É bem provável que muitos dos bares, pubs e casa de eventos que conhecíamos até o início de 2020 não consigam retornar para o novo mercado e, na real, a gente nem sabe quando o músico vai voltar a trabalhar como “antigamente”. Importante mencionar que o último lockdown foi o golpe de misericórdia num processo de desmantelamento que está entrando no terceiro ano, a pandemia foi apenas um agravante para o que já estava indo de mal a pior. Mas tentando tirar o máximo proveito desse período que pouca coisa pode ser feita para reverter o cenário, gostaria de deixar algumas dicas sobre crescimento digital para músicos que tenham interesse em utilizar esse “brake” para se reinventar de forma simples e bem objetiva. Pegue uma caneta e um papel e responda.
1. O que você quer?
Você quer ser um artista famoso no Brasil, no seu Estado ou Cidade? Você quer criar uma carreira de sucesso promissora ou enxerga a música apenas como hobby e shows eventuais para compor uma renda extra é o suficiente? Qual a média de renda mensal que você gostaria de receber como músico? Em qual estilo musical que você quer se destacar? Rock, Sertanejo, Samba?
2. Por que você quer?
O que te move como artista, além do talento? O que te faz querer ser músico? Você já pensou sobre isso? O motivo que te faz desejar conquistar algo precisa ser consistente e forte o suficiente para te fazer acordar todo dia e trabalhar para fazer acontecer. Você tem uma razão? Tem várias? enumere todas elas e deixe à vista para que em momentos de desanimo, você possa acessar e lembrar o que te faz continuar. Em quase tudo que a gente faz, é o sentimento que nos move.
3. Como você vai fazer?
Este é o momento que o artista tem que fazer o mix de quem ele é e os caminhos que trilhará para conseguir. Aqui está o X da questão. Não adianta você querer algo na sua cabeça sem usar toda a sua força com inteligência. O artista precisa saber quem ele é e com quem ele quer falar antes de tudo. Eu já falei muito sobre isso aqui, quando tratamos de empreendedorismo, mas eu gostaria de perguntar: Será que o músico, quando está compondo, pensa em uma persona específica, em um modelo particular? A gente consegue ver isso claramente quando analisamos as canções sertanejas, por exemplo. Quando Marília Mendonça canta, deduzimos que ela pensa em uma figura específica, ela conta a personalidade da pessoa, narra situações, sentimentos, momentos muito bem definidos. O fato da letra abordar problemas de amor que são corriqueiros e expô-las de forma tão explícitas, gera no público o sentimento comum de que “essa música é pra mim”. Vale destacar que não estou dizendo que o sertanejo é bom ou ruim e nem que apenas por tratar de uma persona muito bem definida que eles fazem tanto sucesso, mas já dizia Philip Kotler, o marketing do seu negócio começar na escolha do seu produto e parece que o pessoal do “country” não só escolheu o produto certo, como conhece muito bem o comportamento do “cliente” que vai consumir esse produto.
Mas, vamos lá, é comum ouvir álbuns de amigos artistas e encontrar um monte de estilo misturado como se quisessem agradar todas as tribos. Acredito que todo artista tem o estilo que mais curte e que é a sua cara. Pensar no conceito artístico unindo o estilo, a letra, a personalidade, as experiências vividas e a personalidade do artista visando cair no gosto de pessoas que tem a mesma preferência musical, não é impossível. Hoje, com Youtube e Spotify você consegue facilmente apreciar artistas que se parecem com você, do mesmo jeito que o artista encontra fãs com quem se identifica. Portanto, se o seu estilo é samba, faça parcerias com gêneros similares. Vai ser muito mais fácil encontrar um ouvinte que curta a sua música em estilos parecidos com o seu do que procurar aceitação no rap, jazz, rock e afins. Foque no que tem a sua cara e no que você se sente bem fazendo. O ideal é você definir a categoria em que música se encaixa e a subcategoria também. Aqui eu brinco que é o nicho e o sub nicho, ou seja, o macro e micro que eu sempre falo nos meus posts.
Nessa etapa, eu recomendo exatamente a elaboração do canvas ou do plano de negócios mesmo. A análise swot, descrevendo seus principais “concorrentes” também pode ser muito útil para aproveitar tudo que os outros artistas fizeram, o que deu, e o que não deu certo. Esse ponto também vai te ajudar a saber com quem você pode criar parcerias e pegar um pouco de público “emprestado”.
É importante a gente ter em mente que os principais pilares de um negócio musical de sucesso são quatro: Propósito, Música, Dinheiro e Sucesso. Eles estão totalmente interligados. O propósito, é o que te faz querer aquilo e ser uma voz para outras pessoas parecidas com você. Com isso bem definido, vem a música, que aqui é o meio, é a mensagem, o que vai atrair seguidores ou não. Com tudo alinhado e funcionando vem o dinheiro. É a união desses três que caracteriza um negócio de sucesso.
Apesar do número de cantores e compositores desconhecidos ser imensamente superior ao de grandes nomes da música, é possível ter uma carreira de sucesso na sua cidade, no seu estado, seja como músico ou como Infoprodutor, blogger, podcaster, compositor, produtor, colunista. Enfim, quando eu era mais nova e queria viver de música, ser roadie da minha banda favorita “Garbage” já seria de bom tamanho (rsrs). O importante é pensar que para qualquer coisa que você queira fazer você precisa ter um plano e principalmente, constância. De qual forma você gostaria de passar a sua mensagem? Pense sobre isso.
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