27 de novembro de 2024

 Café segura produção de grãos do Amazonas que deve ficar estagnada este ano

Reportagem: Marco Dassori

Twitter: @marco.dassori

A Conab confirmou, no final de setembro, que a safra de grãos 2022 do Amazonas deve render 75,2 mil sacas beneficiadas, o mesmo patamar atingido no ano passado. O levantamento final da Companhia Nacional de Abastecimento para este ano mostra também que a área de cultivo caiu 10,3%, de 4.600 para 4.100 hectares no Estado – em que pese o aumento de 100% na área em formação (1.000 hectares). Em compensação, a produtividade avançou 11,5%, de 16,3 para 18,1 quilograma por hectare. Os melhores resultado vêm do café arábica, em detrimento do conilon.

No texto do estudo, a Companhia Nacional de Abastecimento informa que, atualmente, a cultura está com 99% de área colhida, e que sua expectativa de produção é estimada em 50.380,5 mil sacas de café beneficiado em todo o país, 5,6% mais que em 2021. É um resultado que ultrapassa as estimativas iniciais da estatal, que começou o ano projetando queda de 18,51% na produção (48,81 milhões). A área destinada à cafeicultura nacional é de 2.242 mil hectares, dos quais 1,84 milhão de hectares são de lavouras em produção e 401 mil hectares em formação, o que representa “leve aumento” de área total cultivada em comparação à safra passada. 

“Das lavouras em produção, estima-se que 1.452 mil hectares foram dedicados ao café arábica, enquanto 389 mil hectares ao café conilon. No que tange à produtividade, a média nacional ficará em torno de 27,4 sacas/ por hectare, o que corresponde a um aumento de 3,7% em relação à safra anterior. A produtividade do café arábica e do café conilon estão estimadas em 22,3 sc/ha e 46,2 sc/ha, respectivamente. Em relação à safra passada, estes números são 2% maiores para o arábica e 6,6% maiores para o conilon”, assinalou o texto da estatal.

Área e produtividade

Embora o balanço geral seja de empate para o Amazonas, os dados disponíveis mostram que a cultura cafeeira alcançou uma escalada de quase quatro dígitos nos últimos cinco anos. A estatal não informa a série histórica para 2020 e 2019 – quando o Estado ainda aparecia agregado, juntamente a outras unidades federativas, na categoria “outros”. Mas, sabe-se que houve uma disparada de 975,71% no confronto com os dados de 2018 (7.000 sacas beneficiadas) e uma escalada de 904% ante 2017 (7.500). 

O crescimento de longo prazo também foi maior em âmbito local do que no restante do país, mas o Estado voltou a figurar como o único caso de estabilidade de produção no ranking da Conab, em um cenário de altas para a média nacional (+5,7%) e para a região Norte (+23%). Ocupa a posição em uma lista de 11 unidades federativas – incluindo a rubrica “outros” – e quatro resultados negativos. Rio de Janeiro (+28,6%) e Paraná (-36,3%) protagonizaram os extremos.

A área de produção, neste ano, foi de 4.100 hectares e não acompanhou as médias de crescimento apresentadas pelo Brasil (+1,8%) e pela região Norte (+2,1%). Mas, correspondeu a uma expansão de 722,75% no confronto com os números capturados em 2018 (503,8 hectares). Há ainda 1.000 hectares de área em formação, que elevaram a área total da cultura cafeeira amazonense para 5.100 hectares. O saiu-se melhor neste tipo de comparação, já que seu índice de crescimento (+10,3%) superou os números brasileiro (+0,6%) e nortista (+3,4%). Os acréscimos, por outro lado, são ainda mais expressivos (+570,89% e +703,96%), ante os respectivos dados de três anos atrás (71,1 e 574,9 hectares). 

A melhor notícia é que, a despeito da estabilidade da safra, a produtividade veio maior neste ano. Segundo a Conab, o Estado registrou 18,1 sacas por hectare, patamar 11,5% superior ao de 2021 (16,3 sc/ha), e 31,02% mais encorpado do que o de 2018 (13,89 sc/ha). Pelo calendário da estatal, a colheita amazonense de café começou em abril e se estendeu até julho, com média de 18,8 mil sacas em cada mês. 

“Perspectivas de crescimento”

Para o presidente da Faea (Federação da Agricultura e Pecuária do Amazonas), Muni Lourenço, avalia que, embora a produção de café no Amazonas ainda não apresente “números muito significativos” em termos de volume, nem seja suficiente para atender a demanda local, conta com potencial. O dirigente reforça que a cultura cafeeira vem ganhando acréscimos de qualidade, alavancados por ganhos de tecnologia conferidos pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), e também pela chegada do grupo Três Corações ao Amazonas – que há três anos comprou a Café Manaus.

“Os resultados se devem à orientação tecnológica, assim como à valorização e à rentabilidade que a cultura pode propiciar, desde que a lavora seja bem conduzida e que haja um elo industrial de café no Amazonas. É possível antever perspectivas de crescimento para nosso Estado. Principalmente em virtude das pesquisas e variedades recomendadas pela Embrapa. A isso, soma-se a presença de uma planta industrial do grupo líder nacional em processamento de café. E, nesse contexto, esses dados da Conab são importantes, porque mostram, sobretudo, um aumento de produtividade e da área em formação”, destacou.

Muni Lourenço destaca que, no Amazonas, a cultura é predominantemente oriunda da “agricultura familiar”. Ele não soube precisar a quantidade de indústrias que beneficiam o café no Amazonas, mas salientou que a unidade local da Café Três Corações – situada na rodovia AM-010 (Manaus – Itacoatiara) é a maior – e que existem outras “de menor porte” que produzem marcas locais. “A produção está localizada principalmente nos municípios de Apuí, Silves e, em fase inicial, também em Rio Preto da Eva e Itacoatiara”, arrematou, acrescentando que aposta em crescimento para a próxima safra.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio

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