18 de outubro de 2024

Capuchinhos pretendem presentear Manaus com um museu

Este ano fez 110 anos que os frades, ou freis, capuchinhos ficaram responsáveis pela igreja de São Sebastião, transformada em paróquia naquele ano de 1912. Os primeiros religiosos chegaram ao Amazonas um pouco antes. Em 1906 frades capuchinhos da Lombardia já estavam em Manaus e, em 30 de junho de 1909 desembarcaram na capital amazonense quatro frades da Úmbria: frei Domingos de Gualdo Tadino, frei Agatângelo de Spoleto, frei Ermenegildo de Foligno, e frei Matinhos de Ceglie. Foi a partir daí que os religiosos diversificaram suas ações, principalmente na região do alto Solimões.

Esta e outras histórias podem ser conferidas na exposição ‘Capuchinhos no Amazonas – arte e fé’, num dos salões anexo à igreja de São Sebastião desde segunda-feira (26) até 26 de janeiro do próximo ano. A exposição foi organizada pelos freis Raúl Gustavo Brasil Falcón Custódio e Eliojunio Silva de Carvalho, sob a supervisão do superior frei Mário Ivon Ribeiro.

Os freis Raúl e Eliojunio tiveram a ideia da exposição depois de observar a grande quantidade de documentos, fotos, vestuário e objetos de liturgia guardados no templo sagrado. Com a autorização dos superiores, neste ano iniciaram a pesquisa desse acervo e já pensam mais adiante.

“Pretendemos realizar várias exposições ao longo de 2023 para, em 2024, inaugurar o MusCap AM/RR, Museu dos Capuchinhos do Amazonas e Roraima. Encontramos esse material aqui no convento e nas casas de missão que os capuchinhos têm no alto Solimões, em Benjamin Constant, Humaitá e na comunidade Belém do Solimões; e em Rorainópolis/RR”, falou frei Raúl. 

Acervo secular

Raúl e Eliojunio ainda estão realizando um levantamento de todo o acervo acumulado pelos capuchinhos nesses quase 120 anos no Amazonas. Até agora os freis já catalogaram mais de 3.500 peças e mais de 4.000 fotos.

“Nossos irmãos da ordem sempre gostaram de registrar tudo, tanto em documentos quanto em imagens, por isso tal quantidade de fotografias. Graças a elas conseguimos identificar muitas peças em casas de missão”, explicou frei Raúl.

“Essa exposição de agora consta de material que já foi pesquisado, inventariado e catalogado. Diria que representa apenas 5% do que está na reserva técnica, por isso é nossa intenção realizar várias exposições, sempre apresentando peças novas”, avisou.

Para esse gigantesco trabalho de pesquisa, os freis estão tendo a ajuda voluntária de historiadores e estudantes de história.

“Qualquer ajuda é bem-vinda nesse trabalho árduo”, disse.

Realmente o belo salão onde está a exposição deverá se tornar um ponto de referência, em Manaus, principalmente para quem gosta de fazer turismo religioso. O esmero na organização das peças é resultado do amor pela arte tanto do frei Raúl quanto do frei Eliojunio.

“Ainda não está decidido se o Museu funcionará neste salão, mas por enquanto ele receberá as exposições”, contou.

Entre os itens apresentados, imagens de santos, os baús nos quais os capuchinhos vindos da Itália traziam seus pertences, cálices, coroas, esplendores, vasos franceses (os primeiros capuchinhos que vieram para o Brasil, em 1612, se basearam em São Luís, e eram franceses. Diz-se até que alguns teriam se arriscado a subir os rios desconhecidos do inexistente Amazonas). Destaque, também, para os vestuários seculares.

“Bem diferentes dos atuais, mudados a partir do Concílio Vaticano II (1962/1965), quando foram regulamentados vários temas da Igreja”, lembrou.

Resgate histórico

Algumas peças são relíquias raras, como as imagens do século 19 da Imaculada Conceição, entalhada em madeira; e de São Luis, feita de terracota. Cálices, banhados em ouro e prata, e coroas com pedras semipreciosas incrustadas, são pequenas preciosidades expostas.

“Precisávamos fazer esse resgate histórico dos capuchinhos no Amazonas, afinal de contas é uma das ordens religiosas mais antigas em atuação na região. Desde que os primeiros freis aqui chegaram, enfrentando situações inóspitas, atingindo lugares longínquos, muitas vezes habitados somente por indígenas, e outras vezes morrendo por doenças da região, eles nunca esmoreceram ou pensaram em se desviar da sua obrigação de evangelizar”, revelou.

O próximo passo em divulgar o acervo dos capuchinhos é lançar um catálogo com tudo que está sendo pesquisado.

“Pretendemos participar de editais de cultura para viabilizar tanto o Museu quanto a edição do catálogo, enquanto isso, iremos continuar organizando as exposições com os demais objetos e até segmentá-los como, por exemplo: exposição só de vestuário, só de imagens, só de objetos litúrgicos. É aguardar que 2023 será um ano com muita novidade”, adiantou.

Os dias e horários de visitação da exposição são: segundas, quartas e sextas-feiras; das 9h às 10h, das 10h30 às 11h30, e das 15h às 16h. Chegando nesses dias e horários, os visitantes serão recebidos, mas o ideal é agendar uma visita guiada com a turismóloga Leonilda Arantes pelo fone 9 9515-5963, pois ela explicará e dará detalhes sobre os objetos expostos. 

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio

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