16 de setembro de 2024

Carne segura PEB do setor primário do AM

Sustentáculo do PIB do setor primário amazonense em 2021, a pecuária reduziu a marcha, na reta final do ano. Em sintonia com disparada no preço da carne, o Amazonas fechou o quarto trimestre com um novo desempenho negativo na pecuária bovina de corte, acompanhando a média nacional. A atividade leiteira, por sua vez, voltou a mostrar resultados melhores. Mas, em contraste com o recorde brasileiro para o período, a avicultura de postura encolheu. É o que mostram as Estatísticas da Produção Pecuária do IBGE, compostas por três pesquisas trimestrais.

De outubro a dezembro de 2021, foram abatidos 31.283 cabeças de bovinos, 31,03% a menos do que em igual intervalo de 2020 (45.403) e 24,02% inferior ao registro dos três meses precedentes (41.175). A desaceleração na reta final rendeu ao Amazonas um tombo de 26,72%, entre 2020 (211.634) e 2021 (155.079). O Estado seguiu em sintonia com a média nacional, que encolheu 6,4% e 3,9% nas respectivas comparações do trimestre (6,90 milhões), além de recuar 7,8% no acumulado do ano (27,54 milhões). Não houve registro local de abate de suínos –que bateu recorde no Brasil (52,97 milhões)

A produção amazonense de ovos de galinha caiu 9,18%, na comparação entre o terceiro (14.505 mil dúzias) e quarto (13.174 mil dúzias) trimestres de 2021, além de ficar 10,61% aquém da marca do mesmo acumulado de 2020 (14.738 mil dúzias). A despeito da desaceleração trimestral, o Estado conseguiu crescer 6,72% no acumulado do ano (56.861 mil dúzias). A média nacional também foi negativa nas variações trimestrais (-1,5% e -0,5%) e mal se moveu no acumulado (+0,2%). O mesmo se deu também em relação à quantidade de galinhas poedeiras registradas no Estado.

A aquisição de leite cru, por sua vez, foi de 2.317 milhão de litros, nos três últimos meses de 2021, sendo 3,44% superior à quantidade registrada no terceiro trimestre do mesmo ano (de 2.240 milhão), embora tenha ficado 13,93% abaixo do apresentado no mesmo período de 2020 (2.692 milhão). Em todo o país, a aquisição totalizou 6,46 bilhões, o que equivale a recuos trimestrais respectivos de 3,6% e de 6,4%, na variação trimestral, e a um decréscimo de 2,2%, no comparativo anual (25,08 bilhões).

Inflação e demanda

Na análise do supervisor de disseminação de informações do IBGE-AM, Adjalma Nogueira Jaques, a manutenção dos preços em alta teria sido um dos principais motivos para a queda nos abates. “Desde o terceiro trimestre de 2009, que a quantidade não era tão baixa. A redução da demanda de consumo freou drasticamente, a ponto do abate concentrar-se somente nos bois. Não houve registros, no trimestre, de abate de vacas e de porcos”, frisou.

O pesquisador considera que a retração “bem acentuada” na produção de ovos, quando comparada aos trimestres anteriores, pode ter ocorrido em função do menor número de informantes. Mas, não descarta a possibilidade de eventuais influências do refluxo da demanda e dos “constantes aumentos” de preços para o consumidor. “Já a produção de leite se manteve praticamente inalterada, com uma variação bem pequena em relação ao trimestre anterior. Mas, a indústria local continua optando por trabalhar com o leite industrializado, evitando adquirir o produto dos produtores”, acrescentou. 

Valorização de bezerros

Sem mencionar a queda na produção de ovos, o presidente da Faea (Federação da Agricultura e Pecuária do Amazonas), Muni Lourenço, destacou que a redução no abate aconteceu também em outros Estados. “Provavelmente, isso não deve se repetir nos próximos períodos. Alguns fatores têm relação com essa queda, como a alta valorização de bezerros, que estimulou a retenção de fêmeas para reprodução”, explicou.

O dirigente descarta a possibilidade de as restrições do mercado chinês às vendas externas de carne brasileira terem afetado de alguma forma a pecuária bovina do Estado, fator que foi apontado pelo IBGE para explicar o decréscimo nacional da atividade. “O Amazonas não exporta para nenhum país. Nossa carne bovina é para o mercado estadual”, resumiu.

Muni Lourenço não fez comentários a respeito da redução da produção de ovos, mas salientou que o aumento percebido na pecuária leiteira ocorreu em paralelo com a expansão da agroindústria no Amazonas. “O crescimento da produção de leite vem ocorrendo principalmente pela instalação de laticínios em municípios em algumas regiões do Estado e a ampliação da produção nas bacias leiteiras tradicionais”, assinalou.

Pandemia e guerra

Na mesma linha, o titular da Sepror (Secretaria de Produção Rural do Amazonas), Petrucio Magalhães Júnior, disse que a redução nos abates “acontece nacionalmente”, em razão do nível de consumo e da alta dos insumos. Mas, destacou que o Estado está atento e vem adotando providências para estimular a pecuária sustentável,“em parceria com “vários órgãos”. Para o secretário estadual, a retomada na produção é positiva, em razão da geração de renda ao pecuarista. Ele destacou ainda que o resultado na produção de ovos teria ocorrido por motivos não recorrentes e está acima do patamar pré-pandemia. 

“Entendo que a queda tem relação com o número de informantes ao IBGE. No trimestre passado eram 31, mas passaram a ser só 28. A diferença, certamente, está nesse aspecto. É interessante ressaltar que, mesmo com pandemia e alta dos insumos, a cadeia produtiva de ovos do Amazonas passou de 11,657 milhões de dúzias produzidas, no último trimestre de 2019, para 14,505 milhões de dúzias, no mesmo período de 2021”, comparou. 

O titular da Sepror avalia, contudo, que a conjuntura atual não permite projeções. “É muito difícil fazer um prognóstico, em razão da guerra na Ucrânia. Queremos um cessar fogo, e que o diálogo bilateral volte a acontecer, para o bem da humanidade. Os impactos da crise mundial serão sentidos por todos. No agro, a preocupação é, sem dúvida, com a oferta e o preço dos fertilizantes minerais. Vamos ter fé de que haveremos de encontrar a solução que, em parte, passa pelo Amazonas”, afiançou.

Segurança alimentar

Já o ex-superintendente da Conab e administrador com especialização na gestão de informação ao agronegócio familiar e empresarial, Thomaz Meirelles, defende a importância de preservar a pecuária no Amazonas, ao observar que a integração entre lavoura, pecuária e floresta é amparada por estudos da Embrapa, lamenta a “campanha para criminalizar a atividade”. O especialista aponta que se trata também de uma questão de segurança alimentar e nutricional, já que 95% dos produtores do Amazonas são de pequeno porte.

“A pecuária depende diretamente de milho e soja, que estão com preço elevados. Mas, felizmente a Conab, assim como o IBGE, vem apontando aumento na produção desses grãos, no Sul do Estado. Espero que isso não sofra retrocesso, como aconteceu alguns anos atrás. Se não fosse esse entrave colocado pela Secretaria de Meio Ambiente, no passado, já era para Humaitá estar abastecendo Manaus. Mas, a retomada aconteceu recentemente e a produção ainda é insuficiente”, concluiu.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio

Veja também

Pesquisar