16 de setembro de 2024

Carros voltam às boas vendas

As vendas de veículos novos no Amazonas aceleraram em todas as categorias, em março. Impulsionadas por veículos pesados, motocicletas e comerciais leves, os emplacamentos somaram 5.111 unidades, 26,07% a mais do que em fevereiro de 2022 (4.054). A comparação com março de 2021 (5.337 unidades), no entanto, ainda aponta decréscimo de 4,23%. Ainda assim, foi possível sustentar alta de 25,34% no trimestre (12.836), favorecida pela fraca base de comparação – período da segunda onda da covid-19 em âmbito local. O Estado acompanhou a média nacional apenas na variação mensal.

Os dados regionais referentes ao Amazonas foram disponibilizados pelo portal da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores), nesta quarta (6). A entidade informa que as informações foram amparadas pelos emplacamentos do Renavam (Registro Nacional de Veículos Automotores), base de dados que leva em conta todos os tipos e veículos, incluindo automóveis convencionais, comerciais leves, caminhões, ônibus e motocicletas.

Na média brasileira, as vendas progrediram apenas na variação mensal. O setor cresceu 23,25%, entre fevereiro (221.995) e março (273.610). Em relação ao mesmo mês de 2021 (269.903), a alta foi de 1,37%, sendo que somente caminhões e motos ficaram no azul. Não foi suficiente para tirar o acumulado do trimestre do vermelho (-7,58% e 726.375). A Fenabrave avalia que o desempenho nacional é fruto dos impactos econômicos da ômicron, da guerra na Ucrânia e do corte no IPI e, diante disso, manteve suas projeções para 2022.

Automóveis e motocicletas

Todas as sete categorias listadas pela Fenabrave subiram na variação mensal, em resultado superior ao de fevereiro, que registrou progressão para duas. O melhor desempenho veio do segmento minoritário dos ônibus (35), que cresceram 400%, saindo do placar negativo do mês anterior. caminhões (+42,11% e 81), motocicletas (+36,60% e 3.195) e comerciais leves (+28,08% e 520) vieram na sequência. A lista se completa com implementos rodoviários (+16,67% e 35), automóveis (+2,53% e 1.217) e “outros veículos” – que incluem tratores e máquinas agrícolas –, que pontuaram estabilidade (28). 

O quadro piora quando se leva em consideração a comparação com o desempenho de março do ano passado. As motocicletas (+72,33%) aparecem novamente com o único índice de crescimento neste cenário. Na outra ponta estão “outros veículos” (-53,33%), automóveis (-48,78%), implementos rodoviários (-47,76%), ônibus (-45,93%), caminhões (-38,17%), comerciais leves (-35,40%). O quadro é similar no acumulado, com elevação apenas para os veículos de duas rodas (+116,36 e 7.246). 

Em sintonia com o estrangulamento de oferta mais acentuado nas montadoras de quatro rodas, pelo oitavo mês seguido, carros convencionais cederam lugar aos veículos de duas rodas, no ranking das categorias mais vendidas no Amazonas. Com as acelerações mensal e anual, as motos continuaram na primeira posição, avançando de forma significativa, entre março de 2021 (32,70%) e o mês passado (56,45%). Em contraste, os automóveis voltaram a reduzir sua participação no bolo de vendas do Estado, no confronto do terceiro mês deste ano (43,66%) com o mesmo período do exercício anterior (28,68%).

Vale notar que os números também refletem, em parte, a dinâmica do mês anterior, em virtude dos entraves logísticos do Estado. Em matérias anteriores com a reportagem do Jornal do Commercio, o Sincodiv-AM (Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos do Estado do Amazonas) reforçou que os números locais devem ser levados sempre sob a perspectiva do transit time (tempo de trânsito) entre faturamento e emplacamento, um hiato de tempo que pode durar 30 dias, em virtude da logística de translado do veículo entre a fábrica e o Estado.

Fila e IPI

O aquecimento é maior principalmente nas concessionárias de motocicletas. O gerente geral da Cometa Motocenter, Agno da Silva Montalvão, conta que o arrefecimento da pandemia ajudou a melhorar o movimento e também a receber mais produtos para atender à demanda crescente, embora ainda não em número suficiente para atender à fila de espera e o fluxo natural do mês. Ele salienta, contudo, que espera zerar a fila até maio, para ter motocicletas suficientes para capitalizar o movimento. Segundo o executivo, os descontos no IPI ajudaram a inflar ainda mais a procura.

“As expectativas são muito boas, especialmente devido à melhora que estamos tendo com as estatísticas da covid-19. As coisas estão voltando à sua normalidade. Em se tratando da nossa loja, tivemos um crescimento fora da curva, embora tenha sido feita uma ação pontual.  As vendas do mês passado foram 45% melhores do que as de janeiro e fevereiro. Acredito que a redução do IPI contribuiu para esse resultado, assim como aumento do combustível, que está levando as pessoas a aderirem às motocicletas”, comemorou.

Nas revendedoras de automóveis, a situação é menos confortável. Em entrevista anterior à reportagem do Jornal do Commercio, o sócio diretor da Kodó Veiculos, Diogo Augusto Maia da Silva, disse que as vendas de março começaram fracas e que temia que os impactos econômicos da guerra na Ucrânia acabassem gerando uma “pequena queda” nas vendas, porque a “população fica receosa”.  Da mesma forma, relativizou os efeitos da redução do IPI sobre os preços dos carros novos. “Teoricamente, era para ajudar, porém as fábricas já reajustaram seus valores, e acho que vai ficar elas por elas nos preços”, lamentou.

“Cenário incerto”

Em comunicado à imprensa, o presidente da Fenabrave, José Maurício Andreta Júnior, assinalou que o desempenho das vendas nacionais reflete fatores, nacionais e globais. “A variante ômicron afetou a produção de componentes industriais e a venda de veículos, no início do ano. Em seguida, há o conflito na Ucrânia, que deixou muitos consumidores preocupados, especialmente com os preços dos combustíveis”, listou.

Segundo estudo da assessoria econômica da Fenabrave, o preço do petróleo subiu 34,8% no mercado internacional, enquanto o real valorizou 16% ante o dólar. Nos cálculos da entidade, isso implica em alta de 13% no valor repassado às distribuidoras. Já a variação percentual no preço da gasolina cobrado da Petrobras às distribuidoras foi de 24,7% no ano. “A elevação impacta na decisão de compra dos consumidores e reflete no desempenho do setor”, acrescentou.

O dirigente comemorou a redução do IPI e a criação do Renovar (Programa de Aumento da Produtividade da Frota Rodoviária no País), estabelecido pela MP 1.112/2022. “A desoneração era necessária e foi muito bem-vinda. Já o Renovar é um programa que levará mais segurança às vias brasileiras, pois visa tirar de circulação veículos em fim de vida útil e com mais de 30 anos, que representam 26% da frota de caminhões no Brasil”, justificou.

Diante dos números de março e da conjuntura atual, a Fenabrave decidiu não revisar as projeções do setor, mantendo a expectativa de crescimento de 5,2% para 2022. “Os efeitos da pandemia no primeiro bimestre, somados aos impactos do conflito no Leste europeu, nos leva a um cenário ainda incerto, o que nos impede de realizar revisões mais precisas, neste momento”, encerrou.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio

Veja também

Pesquisar