As taxas de endividamento e inadimplência do consumidor de Manaus seguiram queda livre pelo quinto mês seguido, em agosto.
Mas os patamares se mantêm elevados.
Em torno de 83,5% das famílias relataram ter contas a vencer, um total de 548.209 delas.
O resultado foi menor do que o de julho (85,8% ou 563.198), embora continue muito acima da marca de 12 meses atrás (70,4% ou 456.212).
Os principais indutores de endividamento são o cartão de crédito e os carnês de lojas, sendo que as famílias de renda superior a dez salários mínimos são as que mais recorrem às duas formas de pagamento.
A fatia de famílias com contas atrasadas sofreu corte ainda maior, ao passar de 40,3% (264.248) para 37,2% (244.154), apesar de superar também o dado de um ano atrás (31,3% ou 203.035) – quando as taxas de juros e da inflação já engatavam escaladas.
A proporção de famílias já sem condições de pagamento, por outro lado, caiu em ambas as comparações e corresponde a 15,8% (103.776) do total.
Os dados são da Peic (Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor), da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo).
A capital amazonense se saiu melhor do que a média nacional. Segundo a sondagem, a taxa de endividamento do consumidor brasileiro prosseguiu em retração e passou de 78,1% para 77,4%, na variação mensal. A proporção de famílias de Norte a Sul penduradas em meios de pagamentos diversos ficou ainda menor, quando confrontada com o patamar do mesmo mês de 2022 (79%). O inverso se deu nos percentuais de consumidores inadimplentes (30%) e sem fôlego para quitar débitos (12,7%) – sendo este o maior percentual desde janeiro de 2010.
A nova queda da Peic é uma boa notícia que se soma à 14º alta consecutiva da ICF (Intenção de Consumo das Famílias) de Manaus, também sondada pela CNC. No mês do Dia dos Pais, foram registradas melhoras na percepção sobre renda e emprego, embora a disposição de adquirir bens duráveis tenha piorado, assim com o acesso ao crédito. O ICEC (Índice de Confiança do Empresário do Comércio), que é medido pela mesma entidade retomou alta entre os comerciantes, que mostram maior disposição de contratar e investir, a despeito das reservas em relação à conjuntura econômica atual.
Cartões e carnês
A pesquisa da Peic informa que, o cartão de crédito aumentou sua participação no bolo das dívidas e continua sendo fator predominante no endividamento do consumidor de Manaus, a despeito dos juros altos. O meio de pagamento respondeu por 66,6% das dívidas locais – contra os 65,8% de julho. A incidência aumenta muito entre as famílias de maior renda (83,9%). Conforme a Anefac (Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade), o cartão de crédito ainda é a modalidade de financiamento mais cara, com juros mensais de 14,83% (e 425,61% anuais).
Os carnês (52,4%) mantiveram a vice-liderança entre os débitos das famílias de Manaus, sendo impulsionados também pelos que recebem mais (56,5%). O crédito pessoal (17,5%) caiu um pouco nas preferências, mas continua em terceiro lugar, sendo seguido por “outras dívidas” (10,9%), financiamento de carro (8,7%), cheque especial (8,4%), crédito consignado (6,1%) e financiamento de casa (4,4%). Invenção brasileira, e de uso exclusivo dos mais pobres, o cheque pré-datado pontuou 0,6% e continua recuando.
Apesar da nova queda da Peic, o percentual de consumidores que se dizem “muito endividados” subiu para 21,2%, sendo essa uma condição mais comum entre as famílias de menor renda (22,4%). A fatia dos “pouco endividados” (35,3%) ainda é majoritária – principalmente entre as famílias mais abastadas (42,5%) – e sofreu nova progressão, puxando o indicador da CNC para baixo. Já o grupo dos que se declaram “mais ou menos endividados” ficou em 27%.
Em média, as famílias de Manaus devem levar 31 semanas para quitar as dívidas. Predomina a fatia majoritária e cadente dos consumidores que esperam levar mais de um ano (33,3%) para isso. A faixa que mais subiu é a dos devedores com até três meses de compromissos adiante (24,5%). O comprometimento médio da renda dos consumidores estabilizou em 33%. Em torno de 26,5% gastam mais da metade do que ganham, mas esse grupo ainda é superado pelos que consomem de 11% a 50% de seus rendimentos (58,6%).
Entre os endividados, 44,5% caíram na inadimplência, em número também abaixo do de julho. A proporção é levemente superior entre as famílias com ganhos abaixo dos dez mínimos mensais (44,6%). Apenas 27,5% garantem que conseguirão quitar o compromisso integralmente no próximo mês, em dado quase igual ao de julho. Outros 30% estimam que vão pagar parcialmente, e 42,5% assumem que vão seguir devendo. Em média, as dívidas estão atrasadas há 59 dias, sendo que 39,4% dos entrevistados pela CNC em Manaus estão pendentes entre 30 e 90 dias, e 35,6% acima de 90 dias.
Desenrola e juros
O presidente em exercício da Fecomercio-AM, Aderson Frota, lembra que o consumidor vem sofrendo com taxas elevadas de endividamento e inadimplência desde 2022, com consequências negativas para o poder aquisitivo das famílias. O dirigente considera que a conjuntura atual inspira “preocupação e cautela”. “Por enquanto, o varejo é o que mais tem sofrido, sem números positivos de vendas ou geração significativa de empregos, o que não é normal para o verão. Até os supermercados estão reclamando”, analisou.
Embora ressalte que os juros estão “muito altos” e que o rotativo dos cartões de crédito “é um perigo para a economia”, Frota mantém o otimismo para os próximos meses. “O programa Desenrola ainda atinge uma faixa muito pequena, mas já está operando. O aumento da faixa de isenção do Imposto de Renda e do salário mínimo se incorporam ao esforço do governo federal de ressuscitar o poder de compra do consumidor. Apesar das dificuldades, pensamos em fechar o ano com um número positivo”, sintetizou.
Em texto distribuído por sua assessoria de imprensa, a economista responsável pela Peic, Izis Ferreira, salienta que o aumento da inadimplência “acende um sinal de alerta para a economia brasileira”. De acordo com a analista da CNC, a inflação em queda e o aumento do emprego formal têm contribuído para melhorar os orçamentos domésticos, reduzindo a necessidade de as pessoas recorrerem ao crédito, mas as altas taxas de juros e o aumento do número de dívidas a vencer continuam a desafiar as famílias brasileiras.
No mesmo texto, o presidente da CNC, José Roberto Tadros, avaliou que os dados da Peic de agosto trazem boas e más notícias para o comércio brasileiro. “A queda do endividamento é um sinal positivo de que mais famílias estão conseguindo controlar melhor suas dívidas e ajustar seus orçamentos”, avaliou. “No entanto, a taxa de juros elevada e o crédito caro ainda são empecilhos à melhoria da situação financeira dos brasileiros”, encerrou.