18 de setembro de 2024

Com segunda redução seguida, juros básicos chegam ao menor patamar desde maio do ano passado

O Copom confirmou as expectativas do mercado e promoveu um corte de 0,5 ponto percentual na Selic, nesta quarta (20). A decisão do Conselho Monetário Nacional foi unânime e deixou a taxa em 12,75% ao ano. Esta foi a segunda redução seguida, deixando os juros básicos no menor patamar desde maio do ano passado. Lideranças classistas e economistas ouvidos pela reportagem do Jornal do Commercio avaliam que a redução da Selic foi uma decisão acertada da autoridade e um movimento mais do que necessário para a retomada do crescimento.

Em seu comunicado, o Copom informou que o corte é compatível com a estratégia para fazer a inflação convergir para a meta em 2024 e em 2025. Assim, como na reunião anterior, o órgão reiterou que continuará a promover reduções na mesma intensidade nos próximos encontros. Mas, diante da desaceleração da economia global em um ritmo acima do esperado, e do risco de novos repique inflacionários – especialmente nos serviços –, não informou se prosseguirá com os cortes no início do próximo ano.

“O comitê ressalta ainda que a magnitude total do ciclo de flexibilização ao longo do tempo dependerá da evolução da dinâmica inflacionária. Em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular as de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto [capacidade ociosa da economia] e do balanço de riscos [para a inflação futura]”, justificou. “O Copom reforça importância de firme persecução das metas fiscais”, emendou.

De março de 2021 a agosto de 2022, o Copom elevou a Selic por 12 vezes consecutivas, num ciclo de aperto monetário que começou em meio à alta dos preços de alimentos, de energia e de combustíveis. Por um ano, de agosto do ano passado a agosto deste ano, a taxa foi mantida em 13,75% ao ano por sete vezes seguidas. Antes do início do ciclo de alta e em decorrência dos impactos da pandemia, a Selic tinha sido reduzida para 2% ao ano, no nível mais baixo da série histórica iniciada em 1986.

“Decisão acertarda”

O presidente da Fieam, Antonio Silva, lembra que a decisão do Copom já era aguardada, conforme últimas sinalizações do Banco Central. O dirigente elogiou a medida e avalia que, pelo posicionamento do Banco Central, a expectativa é que a Selic chegue ao final de 2023 abaixo dos 12% ao ano. no entendimento da liderança industrial, embora a economia “denote um crescimento mínimo”, ela deve começar a reagir nos próximos trimestres.

“Esse foi o segundo corte consecutivo da taxa básica, que atingiu o menor patamar dos últimos 16 meses. Considero um movimento acertado do Banco Central, principalmente como forma de baratear o custo do investimento. Relembro, contudo, que as projeções indicam que a inflação deverá encerrar o exercício em 4,86%, acima da meta (3,25%) e do teto da meta (4,75%). Além disso, o segmento enfrenta outros problemas estruturais que afetam diretamente à competitividade. De toda a sorte, esta foi uma decisão acertada que corrobora com o processo de retomada da economia, ponderou.

Em sintonia, o presidente da Faea, Muni Lourenço, também considerou que a decisão era previsível e foi acertada. “A determinação de manter uma trajetória de redução da taxa de juros é positiva. É importante para a retomada do desenvolvimento econômico e para a geração de emprego e renda. O nosso setor considera essa decisão muito bem vinda, para que tenhamos taxa mais favorecidas nas linhas de crédito para a atividade rural”, comemorou.

Na mesma linha, o presidente do Sinduscon-AM, Frank Souza, frisa que, quanto mais barato o crédito, melhor para o setor de habitação – tanto para o incorporador, quanto para o cliente. “Essa foi uma decisão importantíssima. Se continuar assim, acredito que devemos fechar o ano com uma Selic de 10,75%, sendo que a tendência para o ano que vem é que essa taxa chegue a 9%. Isso aliado às mudanças de planos diretores, e dos interesses dos governantes para produzir habitação, dá mais ânimo ao setor. Com o dinheiro estando com preço menor, você consegue viabilizar mais. Fora isso, a economia gira melhor, com taxas mais baixas e mais empréstimos”, sintetizou.

Já o presidente em exercício da Fecomercio-AM, Aderson Frota, também avaliou que a decisão do BC atendeu os anseios dos comerciantes. “[O BC] vendo o quadro de endividamento, acha que o melhor é tirá-lo do quadro de inadimplência, que bloqueia o seu acesso ao crédito. Essa tendência de redução já praticamente consolidada vem ao encontro das expectativas de rompermos com esse imobilismo, que tem criado dificuldades. Acho que o momento é positivo e, consequentemente, teremos redução dos juros no setor financeiro. É uma medida que merece ser aplaudia, mas é claro que isso ainda não é suficiente”, avaliou. 

“Impactos graduais”

A ex-vice-presidente do Corecon-AM e professora universitária, Michele Lins Aracaty e Silva, considerou que a decisão foi “extremamente adequada” e necessária, além de condizer com a conjuntura econômica. A economista acrescenta que a expectativa do setor produtivo é que a taxa fique gradualmente mais baixa e fique em patamar “muito próximo aos 10% ao ano”. “Penso que os impactos serão graduais. Vão demoar um pouco para serem seguidos pelos bancos, mas chegarão entre 30 a 90 dias. Já para as famílias e contas nacionais o efeito deve ser sentido em torno de 60 dias”, estimou.

O ex-presidente do Corecon-AM, consultor empresarial e professor universitário, Francisco de Assis Mourão Junior, também considerou que essa foi uma “atitude bem tomada” pelo BC. “Seguindo, desde a última reunião, a pressões políticas e econômicas, o Copom resolve reduzir a taxa. É o momento certo para isso e coloca em perspectiva que, na próxima reunião, vamos ter também essa redução na Selic. Apesar da última alta no IPCA, a inflação continua um pouco acima do teto da meta e melhora o humor do mercado”, frisou.

A consultora empresarial, professora universitária e conselheira do Cofecon, Denise Kassama, reforçou que a estimativa de corte já era previsível e que os 05 p.p. de corte “estão dentro da linha de boa vontade do Banco Central”. “Embora a inflação esteja desacelerando, ainda há riscos dela ser retomada. Por isso, mais uma vez o Copom presa pela prudência”, finalizou.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio

Veja também

Pesquisar