As vendas das concessionárias amazonenses de veículos zero quilômetro perderam velocidade em maio. O volume comercializado desacelerou 6,53% ante abril – que teve um dia útil a mais – e passou de 7.840 para 7.328 unidades, com retrações em metade das categorias. O confronto com maio do ano passado (7.137) ainda sustentou acréscimo de 2,68%, com resultados negativos apenas para motocicletas e caminhões. No acumulado do ano, as empresas se mantêm em decolagem de 14,61%, com 33.849 veículos vendidos e ganhos em praticamente todos os segmentos.
Manaus concentrou 78,31% (5.739) das vendas do mês e 77,97% (26.394) do ano. Os números são da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores), que se amparou nos emplacamentos do Renavam (Registro Nacional de Veículos Automotores) de automóveis, comerciais leves, caminhões, ônibus e motocicletas. Vale notar que os dados locais devem ser levados também sob a perspectiva do transit time (tempo de trânsito) entre faturamento e emplacamento – que pode durar 30 dias, em virtude da logística de translado entre as fábricas do Centro-Sul e as concessionárias no Estado.
O Estado seguiu a média nacional. Abril registrou licenciamento de 376.555 veículos em todo o país, experimentando decréscimo de 8,29% frente ao mês anterior (410.609), embora o placar tenha ficado 5,41% acima da marca do mesmo mês de 2023 (357.228). Com isso, o acumulado do ano (1.411.163) ainda se mantém 16,63% mais encorpado. Em comunicado à imprensa, a Fenabrave atribuiu o desempenho apenas aos dois feriados do mês, mas mencionou que o mercado está em modo de cautela, por conta dos impactos da tragédia ambiental do Rio Grande do Sul na economia brasileira. Diante disso, manteve sua projeção de crescimento de 13,54% nas vendas para 2024.
Automóveis x motocicletas
Apenas três das sete categorias listadas pela Fenabrave performaram altas no Amazonas, na variação mensal. O melhor desempenho proporcional veio da divisão minoritária de “outros veículos” – como tratores, máquinas agrícolas e carretas –, que teve as vendas expandidas em 77,38% e 48 unidades comercializadas. Os demais dados positivos se resumem a implementos rodoviários (+39,39% e 46) e comerciais leves (+17,85% e 878). Na outra ponta, caminhões (-25,93% e 60), ônibus (-16% e 21), motocicletas (-10,27% e 4.517) e automóveis (-7,23% e 1.758) deram marcha a ré.
Os desempenhos positivos foram mais disseminados na comparação com o mesmo mês do ano passado, com crescimentos em comerciais leves (+45,12%), implementos rodoviários (+24,32%), automóveis (+18,70%), ônibus (+16,67%) e “outros veículos” (+14,29%). Seis segmentos sustentaram as vendas do aglutinado do ano no azul: comerciais leves (+38,73% e 3.482), carros convencionais (+18,92% e 8.222), caminhões (+14,75% e 319), motocicletas (+10,41% e 21.338), ônibus (+13,04% e 156) e “outros veículos” (0% e 185). Somente os implementos rodoviários (-19,23% e 46) foram na direção contrária.
Automóveis e comerciais leves voltaram a diminuir a diferença em relação às motocicletas no ranking das categorias veiculares mais comercializadas no Amazonas, após anos em trajetória contrária. A participação das motos no bolo de vendas do Amazonas continuou predominante no acumulado do ano, mas caiu de 65,44% (2023) para 63,04% (2024). Pelo quarto mês consecutivo, a soma dos automóveis e comerciais leves aumentou sua fatia na mesma comparação, com 34,58% (2024) contra 31,91% (2023).
Promoções e trocas
Em entrevista recente à reportagem do Jornal do Commercio, o presidente do Sincodiv-AM (Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos Automotores do Estado do Amazonas), João Braga Neto, se mostrou cauteloso em relação ao desempenho do mercado. “Tivemos realmente uma melhoria de vendas, mas em função de promoções, feitas por todas as montadoras, para vender os modelos 2023/2024 e abrir espaço para os lançamentos dos modelos novos, de 2024/2024”, salientou.
O dirigente ressalta que o mercado ainda enfrenta dificuldades. “Esperávamos uma alavancada com a queda de juros, que seguem sempre a Selic. Mas, o crédito ainda está restrito. Uma boa notícia é que as concessões estão sendo reguladas pelo CPF do comprador, e não mais pela média da região, como era antes. Isso beneficia os bons pagadores. A maioria da clientela é de pessoas trocando carro e não de novos compradores, mas graças a Deus, temos todos os produtos para pronta entrega. O segundo semestre costuma ser melhor, vamos esperar”, ponderou.
Também em entrevista recente à reportagem do Jornal do Commercio, o gerente da concessionária Via Marconi da Cachoeirinha, Antonio Carlos Lima, disse que o segmento atravessa uma “conjuntura de mercado esquisita”. Ele informou que as vendas da revendedora da marca Fiat têm sido marcadas por oscilações. “Tem mês que está lá embaixo, mas depois volta a subir, para parar tudo depois”, lamentou.
De acordo com o executivo, os juros mais amenos não estão sendo suficientes para sustentar a demanda, e as fábricas estão “fazendo o possível” para garantir vendas, inclusive aceitar o carro usado do cliente no negócio e liberar bonificações no ‘trade in’. “Dentro das negociações envolvendo só o veículo novo, sem trocas com usados, há bonificações de R$ 2.000 a R$ 14 mil, como se fosse um desconto. Isso é necessário para equilibrar uma demanda que não está legal e uma produção que está normal”, explicou.
“Efeito reposição”
Em comunicado à imprensa, a Fenabrave destaca que manterá suas projeções de emplacamentos de veículos para 2024, “considerando que os impactos das enchentes ocorridas no Rio Grande do Sul ainda estão sendo contabilizados e que o efeito ‘reposição’ poderá ocorrer para os veículos perdidos durante as chuvas”. Uma nova revisão de metas está programada para julho. “Ainda é cedo para analisarmos o impacto. O Estado respondeu por 4% dos licenciamentos do Brasil até abril. Sabemos que houve perdas, mas parte dessa frota poderá ser reposta, considerando os sinistros ainda não registrados”, frisou o presidente da Fenabrave, José Maurício Andreta Júnior
No mesmo texto, o dirigente assinalou que a queda de vendas de veículos registrada em maio, está ligada, principalmente à menor quantidade de dias úteis no mês, em razão de feriados do Dia do Trabalho e Corpus Christi. “Embora o momento seja de cautela, as condições favoráveis do crédito mantiveram o mercado aquecido no restante do país. Tanto em maio, quanto no acumulado dos cinco primeiros meses deste ano, fazendo com que o mercado total continue apontando viés positivo”, amenizou, acrescentando que os emplacamentos do ano são os melhores para o período desde 2014.
Segundo Andreta Júnior, das 722 concessionárias do Rio Grande do Sul, 300 foram afetadas pelas chuvas. Ele informa que o setor, apoiado pela Fenabrave/Fenacodiv e suas respectivas regionais naquele Estado está mobilizado para captar recursos financeiros e doações para as vítimas das enchentes, incluindo as famílias dos colaboradores das concessionárias afetadas. As entidades também tem negociado com órgãos do Detran-RS e governo para ajudar na recuperação das empresas estabelecidas no em solo gaúcho.