13 de setembro de 2024

Comerciantes de Manaus mantém otimismo cauteloso, segundo a CNC

Os comerciantes de Manaus mantiveram otimismo reticente em julho. O avanço seguiu, mais uma vez, na contramão da média nacional. Há maior disposição de contratar e investir na própria empresa, embora as perspectivas para a economia e para o setor sigam turvadas, assim como a situação dos estoques. As apostas são maiores para as empresas com mais de 50 funcionários e que vendem bens não duráveis, embora o sentimento geral ainda seja o de cautela. É o que revelam os dados locais do Icei (Índice de Confiança do Empresário do Comércio), levantados pela CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo).

Manaus aparece com 108,6 pontos no levantamento, sendo que valores acima de 100 pontos indicam satisfação. O resultado configura acréscimo de apenas 0,5% em relação a junho de 2023 (108,1 pontos), embora ainda esteja 18,83% abaixo da marca do mesmo mês do ano passado (133,8 pontos). Mesmo com a melhora, o indicador de Manaus não conseguiu chegar ao nível de apenas três meses atrás (111 pontos). Já a média brasileira (107,5 pontos) foi na direção contrária, com declínio mensal de 1% –o terceiro consecutivo. Em relação a 12 meses atrás, a queda foi de 12,7%.

Nos últimos meses, o Icec de Manaus vem contrastando com os dados de outras pesquisas da CNC. O indicador de ICF (Intenção de Consumo das Famílias) confirmou seu 12º mês de aumento mensal, sendo alavancado por nova melhora nas percepções do consumidor local sobre sua renda e emprego, embora a maior dificuldade tenha reduzido a disposição de adquirir bens duráveis. A Peic (Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor), por outro lado, confirma que os níveis de endividamento (89% ou 582.053) e inadimplência (43,6% ou 285.571) das famílias da cidade ainda se mantêm elevados, embora tenham declinado pelo terceiro mês seguido. 

Empregos e investimentos

Seis dos nove subcomponentes do indicador de confiança do comerciante mostraram recuperação em Manaus, embora quatro deles já estejam no nível de insatisfação. As melhoras mais acentuadas vêm das avaliações sobre as condições atuais do comércio (+6,4% e 121,3 pontos) e da economia (+3,9% e 99,1 pontos), contribuindo para um relativo aumento nas expectativas da saúde das empresas comerciais (+1,3% e 172,3 pontos) e do indicador de contratação de funcionários (+0,9% e 140,5 pontos), além de uma alta mais generosa no nível de investimentos dos lojistas (+3,2% e 125,9 pontos).

O mesmo não pode ser dito do entendimento dos comerciantes sobre as condições atuais de suas respectivas empresas (-1,5% e 127,9 pontos), fator que colabora para um novo derretimento das expectativas empresariais para o desempenho da economia brasileira (-2,7% e 154 pontos) e para as vendas do setor (-0,6% e 167 pontos), no curto prazo. Já a situação dos estoques (-2,8% e 95,8 pontos) segue como um dos principais focos de insatisfação. 

A maioria dos varejistas locais ainda considera que a situação atual da economia “piorou muito” (38,8%). O percentual dos que apontam que “melhorou um pouco” (30,7%) voltou a subir, distanciando-se do grupo minguante que avalia que “piorou um pouco” (24%). Uma parcela minoritária, embora crescente, garante que “melhorou muito” (6,5%). A visão predominante ainda é de melhora relativa para o setor (32%) e para a empresa (38,1%). De uma forma geral, companhias que empregam menos de 50 pessoas se mostram mais confiantes nesses quesitos. 

A pesquisa mostra um panorama melhor para as expectativas dos comerciantes de Manaus. A avaliação geral é que a economia brasileira vai “melhorar muito” (33,9%) ou “melhorar um pouco” (33,4%), em detrimento das fatias cadentes de comerciantes que cravam que vai “piorar muito” (19,5%) ou que vai “piorar um pouco” (13,3%). As projeções empresariais que pesam mais para o setor e para o estabelecimento também são de progressos mais significativos (41,3% e 50,8%, na ordem). 

Em sintonia com a suave retomada do subindicador de contratação de funcionários, a parte majoritária dos lojistas ainda aponta que seus quadros devem “aumentar pouco” (47,5%). A parcela dos que dizem que pode “reduzir um pouco” caiu para 26,4%. Já as projeções predominantes para investimentos são de que será “um pouco maior” (36,3%) ou “um pouco menor” (32,6%). A situação dos estoques, por outro lado, piorou. Somente 61% dos comerciantes dizem que está “adequado”, enquanto outros 24% informam que está acima do ideal e 14,3% apontam que está abaixo dessa marca.

“Endividamento e inadimplência”

Em entrevistas recentes à reportagem do Jornal do Commercio, o presidente em exercício da Fecomércio-AM, Aderson Frota, avaliou que o setor passa por um “período de transição” para as festas da segunda metade do ano, em meio a medidas pontuais para destravar o consumo e um panorama gradativamente mais promissor para o varejo. “A queda da inflação, principalmente nos alimentos, trouxe alguma trégua ao endividamento do consumidor, e só falta o BC sinalizar uma queda de juros”, mencionou. “O programa Desenrola começa a ‘desnegativar’ as famílias e melhorar o índice de confiança do consumidor. Mas, acho que a retomada ainda vai demorar um pouquinho”, emendou.

Em texto da assessoria de imprensa da CNC, o presidente da entidade, José Roberto Tadros, destaca que a dúvida sobre o cenário global do varejo preocupa a entidade, que revisou de 1,8% para 1,5% a estimativa de alta do volume de vendas este ano. “A retomada do endividamento e da inadimplência, o encarecimento do crédito e a dificuldade de acessá-lo impõem limites à capacidade de consumo de itens com maior ticket médio, e que exigem prazo para pagamento”, lamentou, acrescentando que a venda de produtos dependentes do crédito segue em queda, apesar da maior intenção de compras de bens duráveis.

Diante disso, a economista responsável pela análise da pesquisa, Izis Ferreira, pontua que, apesar da dinâmica mais favorável da inflação, a permanência dos juros altos tem levado os comerciantes brasileiros a redefinir as estimativas para as vendas e investimentos este ano. “Mesmo que o consumidor de rendas média e baixa esteja mais disposto a consumir e o calendário dos próximos meses traga datas comemorativas, como Dia dos Pais, Dia das Crianças e Natal, os empresários estão moderando o otimismo”, encerrou.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio

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