23 de novembro de 2024

Comerciantes de outras capitais brasileiras se organizaram para capitalizar a data com promoções

A Semana do Brasil está marcando seu quinto ano na surdina. Neste ano, o governo federal não está apoiando o uso da marca do chamado ‘Black Friday brasileiro’. Mesmo sem a chancela do Planalto, os comerciantes de outras capitais brasileiras se organizaram para capitalizar a data com promoções, em um período tradicionalmente de baixas vendas. Lideranças do comércio local ouvidas pela reportagem do Jornal do Commercio informam, por outro lado, que não há nenhum movimento organizado em Manaus com esse objetivo, apenas iniciativas pontuais de alguns lojistas para tentar atrair os consumidores que não saíram da capital para aproveitar o feriadão. 

Iniciativa do governo federal junto aos maiores varejistas brasileiros, a data comemorativa foi criada em 2019, com o objetivo alegado anunciado de incentivar o sentimento de patriotismo da população, e também de criar um ambiente de confiança no comércio, com incentivo à oferta de descontos nas lojas e ampliação do consumo das famílias. O Executivo federal informou, na época, que ao menos 4.680 empresas e entidades de todo o país estavam mobilizadas para participar ativamente da iniciativa, oferecendo descontos, promoções e benefícios reais aos consumidores brasileiros.

Nos dois anos seguintes, a data comemorativa entrou em ponto morto, em razão dos impactos da pandemia. Ainda sob as restrições de distanciamento social impostas pelo Estado para combater a propagação da covid-19, as empresas se viram limitadas ou até impossibilitadas de promover a Semana do Brasil em 2020 e, em menor grau, em 2021. No ano passado, já livres das amarras sanitárias, os comerciantes ensaiaram um retorno ainda tímido da promoção, em uma conjuntura econômica já comprometida pela escalada de inflação e juros, e do esvaziamento da confiança de consumidores e investidores.

O comércio do Amazonas ainda se ressente de um ano de altos e baixos, embora tenha esboçado recuperação em junho. No período, as vendas saíram da estabilidade, consolidando um crescimento semestral duas vezes maior do que o da média nacional. O consumidor, contudo, seguiu fugindo do crédito e focou em bens semiduráveis e não duráveis, de menor valor agregado. O volume comercializado em junho foi 0,6% superior ao de maio, que teve um dia útil a mais. O confronto com o mesmo mês de 2022 mostrou avanço de 4,6%. A alta no semestre foi a 3,7%, elevando a taxa de crescimento acumulado dos últimos 12 meses para 1,9%.

“Comércio à deriva”

Procurado pela reportagem do Jornal do Commercio, o presidente da FCDL-AM (Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Amazonas), Ezra Azury, disse apenas que não houve manifestação dos lojistas em torno da Semana do Brasil, neste ano. 

Em sintonia, o vice-presidente da ACA, Paulo Couto, informou que também não há, nem houve nenhuma movimentação institucional da Associação do Comercial do Amazonas nesse sentido. “O governo federal não dá apoio, nem mesmo publicitário. O comércio está à deriva de apoio governamental. O foco do poder central agora é construir a coalizão política de interesses a qualquer custo no Congresso Nacional, para apoiar os projetos do Executivo. O comerciante que se vire e pague seus impostos”, desabafou.

O dirigente ressalta que o comércio precisaria dessa ajuda, já que atravessa uma quadra desfavorável nas vendas, o que tende a piorar com o esvaziamento de Manaus durante o feriadão desta semana. “Pelo que pudemos registrar, houve uma pequena reação no mês de agosto, em torno de 3%. Setembro costuma ser mais fraco do que agosto, nos primeiros 10 dias, principalmente graças aos feriados e ‘pontos facultativos’ que restringem o consumo”, lamentou.

“Frustração e expectativas”

O presidente da assembleia geral da ACA, Ataliba David Antonio Filho, salienta que, mesmo diante da falta de apoio governamental, muitas empresas estão oferecendo promoções para aquecer vendas em um período tradicionalmente fraco para o setor. E acrescenta que, mesmo sem usar o selo Semana do Brasil, os comerciantes que abraçam essas iniciativas não deixam de apresentar signos patrióticos em suas ações de marketing. “Estão ocorrendo promoções, mas por iniciativas individuais de alguns grupos comerciais. Não estão usando a palavra pátria, mas enfatizando que são liquidações de feriadão”, reforçou.

O comerciante concorda que o chamado ‘Black Friday’ brasileiro produziu resultados em 2019 e 2022, ainda que com uma “alavancagem pequena”. Mas, ressalva que o apoio governamental talvez não fizesse tanta diferença diante das dificuldades que a economia vem enfrentando para ‘entrar nos eixos’. O problema, conforme Ataliba David Antonio Filho, ainda está nas elevadas taxas de juros – a despeito da sinalização de um começo de cortes na Selic – e de inadimplência das famílias – apesar dos progressos graduais do programa Desenrola. “Há muita frustração, porque a economia ainda está se recuperando. Por enquanto, o setor vive de expectativas”, sintetizou.

“Preocupação e cautela”

O presidente em exercício da Fecomercio-AM (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Amazonas), Aderson Frota, avalia que o cenário econômico dificulta a capitalização da data pelo comércio, com maior amplitude de promoções e descontos, além de merecer também merece “um olhar mais cuidadoso” do governo. O dirigente lembra que, desde 2022 pelo menos, o consumidor vem sofrendo com taxas elevadas de endividamento e a inadimplência, fazendo o poder aquisitivo das famílias “cair bastante”.

“Tudo isso está trazendo um momento de preocupação e cautela para o governo e para os empresários, evidentemente. Li um estudo da FGV que estabelece, para os próximos meses, crescimento zero para a indústria, queda de 0,6% para o setor de serviços e um vislumbre de positividade de 8% para o comércio. Por enquanto, o varejo é o que mais tem sofrido, sem números positivos de vendas ou geração significativa de empregos, o que não é normal para o verão. Até os supermercados estão reclamando”, analisou.

Diante das ações mais recentes do Planalto, Aderson Fronta mantém o otimismo para as vendas de fim de ano, apesar das dificuldades que seguem no caminho do setor. “O certo é que o programa Desenrola está operando, mas ainda atinge uma faixa muito pequena. O fato de o governo federal ter aumentado a faixa de isenção do imposto de renda e o salário mínimo se incorpora no esforço de ressuscitar o poder de compra do consumidor. Mas, o momento ainda é de cautela, porque os juros estão muito altos e o rotativo dos cartões de crédito joga muita gordura em cima dos débitos e é perigoso para a economia. Mas, pensamos em fechar o ano com um número positivo, e não com o decréscimo esperado para os outros setores”, finalizou  

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio

Veja também

Pesquisar