15 de setembro de 2024

Comércio do Amazonas com dificuldades em manter estoques

O comércio do Amazonas enfrentou mais dificuldades para manter seus estoques no nível adequado, em 2022. Os números mais recentes da Suframa mostram que o setor respondeu por quase metade das aquisições de mercadorias nacionais destinadas ao Amazonas, no acumulado até outubro. Varejo e atacado também ajudaram o Estado a crescer acima da média registrada na área de abrangência da autarquia, nesse quesito. Lideranças empresariais ouvidas pela reportagem do Jornal do Commercio salientam, no entanto, que a piora no gargalos logístico pela seca recorde deste ano, assim como a escalada dos custos, tornaram a tarefa ainda mais penosa. 

Os dados locais mais recentes do ICEI (Índice de Confiança do Empresário do Comércio), dão uma ideia sobre essa situação. Durante o ano inteiro, o indicador da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) mostrou escores abaixo dos 100 pontos a respeito da “situação dos estoques”, indicando insatisfação com o volume de mercadorias disponíveis para venda. Vale notar que o oposto ocorreu com as expectativas sobre a economia e as intenções de contratar e investir.

Em novembro, em sintonia com a chegada da Black Friday e da Copa, e também com o ‘esquenta’ para as vendas de Natal, houve alta mensal de 5,2% para o indicador, acompanhada de incremento anual de 10%. A pontuação, contudo, não passou dos 98 pontos. Mesmo no auge do calendário do setor, apenas 64,3% dos comerciantes consideravam que seus estoques estavam “adequados”. Em contrapartida, 17,9% indicaram que estava além da marca e outros 16,7%, assinalaram que ficou abaixo do ideal.

A Superintendência da Zona Franca de Manaus informa, por outro lado, que o valor nominal de PINs (Protocolos de Ingresso de Mercadoria Nacional) alcançado pela aquisição de mercadorias nacionais ‘suframadas’ registrou um crescimento nominal de 5,07%, na comparação do acumulado de janeiro a outubro com igual período do ano passado, ao passar de R$ 29,6 bilhões para R$ 31,1 bilhões. Descontada a inflação, a alta foi de apenas 0,38% nos produtos internalizados. A autarquia não informa o crescimento desagregado por setores, mas salienta que o comércio respondeu por 48,2% dessa fatia. 

O volume de compras do Amazonas no mercado doméstico correspondeu a 64,66% da soma de todas as unidades federativas de abrangência da Suframa (R$ 48,1 bilhões) – que incluem ainda Roraima, Rondônia, Acre e Amapá, nos quais o comércio é dominante. O crescimento nominal conjunto dos cinco Estados, entretanto, não passou 1,05%. Eliminado o IPCA, o resultado correspondeu a uma queda efetiva de 3,53% nos gastos com as compras das empresas no mercado interno. 

Efeito vazante

O presidente em exercício da Fecomercio-AM (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Amazonas), Aderson Frota, ressalta que os comerciantes têm buscado manter o nível de investimentos na formação e reposição de seus estoques, não apenas para atender à demanda, mas também para manter condições de negociação mais favoráveis com os fornecedores. Mas, acrescenta que a inflação, problemas logísticos e mudança climática ajudaram a tornar a logística de aquisição de mercadorias ainda mais difícil – e cara em 2022. 

Conforme o dirigente, a vazante atípica deste ano aumentou o custo das mercadorias, uma vez que os armadores passaram a cobrar ágio de aproximadamente R$ 10 mil pelo transporte de cada contêiner, para compensar a redução de peso das embarcações durante a vazante. Também estariam protelando rotas mais longas. Manter as compras em uma conjuntura de passivos crescentes e demanda oscilante, portanto, seria um desafio que sinaliza aumentar em 2023 – que já se anuncia como ano de recessão. 

“Tenho conversado com empresários que atuam no varejo de produtos alimentícios, confecções, medicamentos e itens de higiene e beleza. Ouvi deles depoimentos negativos e positivos. Na média, eles esperam que o setor feche o ano com 5% de crescimento real nas vendas. Mas, uma das maiores preocupações é de uma projeção de seca inédita para o Amazonas. Estamos finalizando dezembro, e o nível das águas está próximo ao de meados do mês passado”, alertou.

Frota lamentou também que a Suframa não tenha conseguido separar os dados de desempenho de internamento de mercadorias nacionais por setor. “Lutamos o ano inteiro para que esses dados fossem fornecidos de forma clara por atividade. Mas, reverter 55 anos focados apenas na indústria é muito difícil. Mas, vamos conseguir. Não temos um número oficial, mas somos a parcela mais expressiva da economia do Amazonas, e avalio que comércio e serviços estão vinculados a 85% do total dessas compras”, asseverou.

Foco na BR-319

O presidente da Assembleia Geral da ACA (Associação Comercial do Estado do Amazonas), Ataliba David Antonio Filho, concorda que os impactos climáticos no regime de cheias e vazantes do Amazonas tendem a piorar uma situação que já é ruim para os lojistas. O dirigente assinala que, época de seca, o rio Madeira fica intransitável e o transporte fica limitado ao transado rodofluvial via Belém (PA). E acrescenta que, além de inflarem os custos, os entraves logísticos locais também podem custar oportunidades de vendas para os lojistas. 

“Dou como exemplo um caso ocorrido comigo. Em outubro do ano passado, um cliente me encomendou um produto que não tinha na praça. A transportadora me informou que o translado levaria um mês, mas a mercadoria só chegou em janeiro. Entendo que a prioridade é para itens natalinos e perecíveis, mas acho que a empresa poderia ter avisado Os clientes ficaram tão chateados com esse atraso, que não compraram mais na loja”, lamentou.

Segundo Ataliba David Antonio Filho, o tempo de transporte de mercadorias nacionais oriundas do Centro-Sul brasileiro é de 30 dias, em “condições normais”. No entendimento do presidente da Assembleia Geral da ACA, a situação seria diferente, se a revitalização da rodovia BR-319 (Manaus-Porto Velho) fosse concluída. “Lembro que, até o fim da década de 1980, quando a estrada ainda era transitável, uma mercadoria não levava mais de dez dias para chegar aqui. A solução seria essa, mas não sei como vai ficar essa questão com o novo governo. Do jeito que está, quando o produto só chega, quando já venceu o primeiro boleto”, finalizou.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio

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