Comércio está otimista para Black Friday e Natal, apesar da oscilação no Dia das Crianças

Em: 7 de novembro de 2023

Apenas 52% dos comerciantes de Manaus conseguiram crescer no Dia das Crianças deste ano. A proporção de lojistas estagnados foi de 24%, enquanto um percentual idêntico amargou queda no faturamento. O resultado veio em sintonia com a proporção de empresários que reforçaram os estoques para atender a demanda extra aguardada. Os dados são do Ifpeam (Instituto Fecomércio de Pesquisas Empresariais do Amazonas). Já a prévia para a Black Friday e Natal mostra um panorama mais otimista, já que todos apostam em crescimento e 89% esperam altas de pelo menos dois dígitos. 

Excepcionalmente, a CDL-Manaus (Câmara dos Dirigentes Lojistas de Manaus) não informou qual foi o desempenho médio do setor no Dia das Crianças. A ACA (Associação Comercial do Amazonas) sinaliza, entretanto, que o saldo não foi muito além do zero a zero. A pesquisa preliminar de intenção de compras da CDL-Manaus projetava incremento nominal de 2,3% para as vendas – para um IPCA (Índice de Preços ao Consumidor – Amplo) acumulado de 5,19%, nos 12 meses encerrados em setembro. A receita bruta esperada era de R$ 56,80 milhões, com ticket médio de R$ 178. 

O levantamento do Ifpeam, que leva em conta metodologia e amostragem diferentes, informa que o valor médio das vendas ficou em R$ 173,91. As vendas a crédito mantiveram primazia, com 55% dos consumidores optando por essa modalidade, apesar da permanência dos juros em um patamar proibitivo. Outro dado relevante é o aumento expressivo na oferta de vendas online, em sintonia com as mudanças de costumes impostas pela pandemia. O ímpeto nas contratações de trabalhadores temporários passou de 28% para 38% das empresas, em relação ao Dia dos Pais. Mas, a incidência de assaltos ou furtos subiu de 12% para 17%, na mesma comparação. 

Descontos e brindes

Entre as empresas que conseguiram resultado positivo de vendas, 49% conseguiram subir apenas até 10%, ao passo que 46% tiveram altas de 11% a 35%, e a apenas 5% conseguiram progredir além disso. Os resultados mais satisfatórios vieram dos segmentos de brinquedos, vestuários, calçados e artigos eletrônicos. Entre as empresas em baixa, 52% sofreram declínios de 11% e 35% em relação ao Dia das Crianças do ano passado, 41% encolheram até 10%. Conforme o Ifpeam, as quedas foram de 36% a 50¨% para os demais 7% dos entrevistados.

Em um ambiente ainda marcado pelo comprometimento da renda das famílias por elevadas taxas de juros, endividamento e inadimplência, o caminho para atrair freguesia voltou a priorizar “descontos e ofertas especiais” (58%), além de “brindes ou sorteios” (9%) e vendas parceladas sem juros (9%). Os outros 24% não revelaram estratégias. Em paralelo, a quantidade de empresas que já trabalham também com vendas online, com o intuito de se aproximar ainda mais dos consumidores foi novamente de 77%. 

Entre as formas de pagamento, contrariando sinalização anteriores de que o consumidor fugiria de vendas a prazo, nada menos do que 52% escolheram o cartão de crédito para adquirir o presente do Dia dos Pais, enquanto 3% preferiram usar o crediário, carnê ou cartão da própria loja onde adquiriram o presente. Os pagamentos à vista (Pix, dinheiro, transferência bancária, etc) responderam por 27% do total e 18% optaram por pagar com cartão de débito. 

Nada menos do que 62% das empresas ouvidas relatou que preferiu manter os quadros de funcionários sem alterações na data comemorativa – contra 72% registrados nas semanas anteriores ao Dia dos Pais. Entre os comerciantes que contrataram, 25% registraram o ingresso de até 3 empregados; 12% chamaram entre 4 e 10 trabalhadores; e apenas 1% contrataram de 10 a 20 pessoas. O Ifpeam os números de expectativas de contratações para o fim de ano, mas outras pesquisas e indicadores também revelam projeções modestas nesse quesito.

“Gastos menores”

Em entrevista recente à reportagem do Jornal do Commercio, o’presidente em exercício da Fecomercio-AM (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Amazonas), Aderson Frota, assinalou que a queda gradual dos juros e a limpeza dos cadastros de negativados pelo programa federal Desenrola ainda não foram suficientes para aquecer as vendas do varejo amazonense, que sobrevive em um cenário de “consumidores sem crédito e muito negativados”.

E, conforme o comerciante, as dificuldades tendem a se agravar, diante dos impactos logísticos da seca. “A caminhar essa situação, o comércio do Amazonas ficará totalmente desabastecido. E, mesmo que não fique, vamos ter aumentos de preços ao consumidor”, sentenciou. “Estamos com a expectativa de que as soluções venham o quanto antes. O comércio, que compra com dois três meses de antecedência, sofre dificuldades maiores do que as dos demais setores econômicos”, emendou.  

O presidente da assembleia geral da ACA, Ataliba David Antonio Filho, avalia, a partir de conversas com comerciantes associados, que a freguesia foi ainda mais “comedida” e “restrita” nas compras, neste ano. De acordo com o dirigente, a data não passou despercebida pelo consumidor e o comércio, que havia apostado na diversificação de produtos, registrou movimento significativo. Mas, conforme o comerciante, prevaleceram mesmo as compras de brinquedos mais baratos ou outros produtos mais em conta, para caber nos bolsos das famílias.

“Procura houve, mas os gastos por consumidor e os valores de faturamento foram bem menores do que os do ano passado. Se antes bastavam quatro produtos para chegar aos R$ 1.000, agora precisaram ser dez, para dar a mesma soma. Foi preciso vender muito mais para pelo menos empatar com 2022. A procura foi por bolas, ioiôs, etc e itens, e isso mostra a perda do poder aquisitivo da população. Tanto que os grandes atacadistas reclamaram. Lojistas de outros segmentos apostaram na data, e também ofereceram brinquedos, mas será que deu para pagar as contas? Vejo essa questão com muita preocupação, principalmente agora, com os impactos da seca”, concluiu.

Boxe

Saiba mais sobre a pesquisa do Ifpeam 

Realizado entre 17 e 18 de outubro, o Ifpeam ouviu representantes de 185 empresas de comércio varejista da capital, em sondagem realizada pela web, via Google Forms. Os entrevistados ocupam cargo de líder de setor (48%), são gerentes (42%), ou até proprietários dos estabelecimentos (10%). A maior parte das lojas está no Centro (44%), mas há também estabelecimentos situados em shoppings (38%) e lojas de rua situadas nos bairros da cidade (18%). Ao menos 45% são microempresas (até nove pessoas). Companhias de pequeno porte (10 a 49 pessoas ocupadas), grande porte (100 ou mais pessoas) e médio porte (50 a 99 pessoas) respondem por fatias respectivas de 37%, 12% e 6%.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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