18 de setembro de 2024

Comércio ganha presente com vendas no último Natal

O comércio da capital amazonense alcançou um crescimento de dois dígitos, nas vendas de Natal de 2021 e ficou pouco abaixo das projeções iniciais. De acordo com a CDL-Manaus (Câmara dos Dirigentes Lojistas do Estado do Amazonas), a expansão nas vendas foi de 12%, índice um ponto percentual abaixo das estimativas da entidade. O desempenho, contudo, superou o prognóstico da Fecomercio-AM (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Amazonas), que era de expansão de 8% a 10%.

O desempenho do varejo de Manaus seguiu acima do projetado pela CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) para a média nacional. A entidade calculava que a data comemorativa movimentaria R$ 57,48 bilhões, com alta nominal de 9,8% – e queda de 2,6%, já descontada a inflação. O ICVA (Índice Cielo do Varejo Ampliado), por outro lado, mostra que as vendas de Natal em todo o Brasil teriam avançado 11,1%, na semana entre 19 e 25 de dezembro, em performance pouco abaixo da manauense.

“Tivemos um crescimento de 12% em relação ao ano passado, que foi um período em que estávamos de lojas fechadas. Ficou muito próximo do que apontava a pesquisa”, declarou o presidente da CDL-Manaus (Câmara dos Dirigentes Lojistas do Estado do Amazonas), Ralph Assayag, acrescentando que não se sentia à vontade para falar de ticket médio e segmentos que mais venderam, além de modalidades de pagamento e locais preferenciais de compras, por não dispor de “dados online” precisos. 

O dirigente, no entanto, destaca que uma das maiores dúvidas do varejo de Manaus para este começo do ano está na efetivação dos colaboradores contratados na reta final do ano, algo que não foi possível um ano atrás, em razão da segunda onda da pandemia e de novas medidas de isolamento social. “Tivemos um número de contratações próximo a 4.500 pessoas, nas 180 lojas que inauguraram durante o terceiro trimestre. E tivemos perto de 3.100 trabalhadores temporários [para as festas de fim de ano]. Estamos trabalhando para que pelo menos metade deles permaneçam [contratados]. Porque, no ano passado, todos foram demitidos”, comparou.

Inflação e liquidações

O presidente da FCDL-AM (Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Estado do Amazonas), Ezra Azury, informa que, até o dia 20 de dezembro, a margem de crescimento das vendas já ultrapassava os 11,1%. Embora não disponha de números precisos, o dirigente estima, por observação direta e conversas com associados, que o desempenho do setor seguiu de perto os parâmetros da sondagem da CDL-Manaus.

“O Natal foi positivo em nossa cidade. Não sei dizer qual foi o ticket médio, mas sei que os segmentos que foram os campeões de venda foram confecções, calçados e perfumaria, justamente os da pesquisa. As formas de pagamento preferenciais foram à vista, cartão de crédito e Pix. Os consumidores optaram mais pelos shoppings e pelo Centro. Não posso dizer qual vendeu mais, mas os centros de compras foram muito bem”, sintetizou.

Indagado sobre os fatores que teriam levado aos resultados, o presidente da FCDL-AM ressalta que, em função da pandemia, os consumidores estão procurando lugares abertos, embora outros consideram que os shoppings são mais seguros, em função da maior disponibilidade de dispositivos para garantir os cuidados necessários em face de uma crise sanitária – como álcool em gel. O dirigente, no entanto, avalia que o desempenho do Natal não é necessariamente um termômetro para os meses iniciais do ano, que tradicionalmente são de baixa.

“Isso é uma incógnita, porque no Natal você acaba gastando mais do que tem. O foco agora é volta às aulas e liquidações. Temos de aguardar este mês, para ver qual vai ser a saída. Mas, acreditamos que, com a diminuição do poder de compra, podemos ter janeiro e fevereiro com movimento abaixo do esperado. Quanto à efetivação dos trabalhadores temporários, acredito que deva ficar na média dos outros anos, que é de um terço”, ponderou. 

“Pequenos gastos”

Também baseado em conversas com associados e análise empírica, o presidente da Assembleia Geral da ACA (Associação Comercial do Estado do Amazonas), Ataliba David Antonio Filho, aponta à reportagem do Jornal do Commercio que o Centro concentrou a maior parte do volume de vendas, com destaques para confecções e calçados, tickets médios de R$ 100 a R$ 120 e com o somatório dos pagamentos à vista – dinheiro, débito e Pix – superando o cartão de crédito por “uma pequena margem”. Para o dirigente, as escolhas se deram em função do atual panorama econômico.

“Acho que o poder de compra do consumidor diminuiu, em função da situação econômica de inflação e juros em alta. Por isso, ele priorizou pequenos gastos. O desempenho do varejo na data mais importante de seu calendário foi relevante, mas não serve de base para o cenário futuro, que depende de fatores como controle da variante, que é uma realidade e o comportamento dos indicadores de juros e inflação”, justificou, acrescentando que shoppings podem ter gerado maior faturamento, em função dos segmentos eletrônicos e das vendas a crédito.

Ataliba David Antonio Filho avalia que a absorção dos empregos temporários deve se dar em função da capacidade de controle da crise sanitária, mas o dirigente também aponta outros fatores. “O comércio inicia o ano abastecido e a terceira dose já é uma realidade, com 70% da população protegida. São dados que nos permitem olhar para um horizonte de melhorias para atividade, embora a nova variante seja algo que preocupa. É diferente da segunda onda, já que a ômicron é menos letal, embora a contaminação seja mais rápida”, analisou.

 Dificuldades e crescimento

O presidente em exercício da Fecomercio-AM, Aderson Frota, comemorou o índice de crescimento. “Se cresceu 12%, é para se comemorar. O ano passado foi de retomada, com a intensificação dos problemas de inflação, câmbio e juros a partir de setembro. Mas o comércio se recuperou, o que já era esperado, até pela arrecadação do ICMS, que incide com antecedência nas vendas do setor”, comentou.

O dirigente também diz não ter elementos para mensurar o comportamento do consumidor de Manaus durante a data comemorativa, mas avalia que o começo do ano tende a ser positivo para as vendas e os empregos no setor. “Se o ritmo de vendas se mantiver o mesmo desta semana, a perda de empregos temporários deve ser mínima. Ainda temos um cenário de inadimplência, dificuldades no acesso ao crédito e medo do desemprego, além das chuvas e síndromes respiratórias. A recuperação tende a ser lenta, mas o crescimento virá”, concluiu.  

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio

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