Os debates sobre “Saúde” e “Economia” na Amazônia também deu voz aos donos do território. Algumas lideranças dos povos indígenas estiveram presentes. Larissa Duarte Tukano, Vanda Ortega Witoto e Samela Sataré. Elas trazem ao cenário o olhar tradicional e a vivência indígena. Falaram sobre a relação desenvolvimento x território e ressaltaram: “os povos indígenas precisam ser vistos”.
Larissa Duarte, do povo Tukano, coordenadora do Departamento da Mulher no Forin (Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro) chegou ao evento representando 23 povos indígenas do rio Negro, produtores artesanais e sustentáveis de cerâmica tukana, pimenta baniwa, cestos baniwa, piaçava e atividades de turismo em geral. Ela apontou a necessidade de os povos serem respeitados em toda sua peculiaridade. “As pessoas pensam que somos uma empresa. Nosso modo de trabalhar é diferente dos não-indígenas, nós temos nosso ritmo de produção, respeitamos o ciclo da natureza, usamos nossa tradição e aplicamos a visão do manejo. Isso tudo faz parte da nossa luta de resistência e sobrevivência do conhecimento tradicional”, lembrou.
“Pessoas de fora pensam que somos objetos de estudo. Entram nas comunidades para nos pesquisar e olham para nós como seres do passado. Na verdade é hora de entender a diferença e as realidades diferentes, até chegar ao ponto em que todos estejam atendidos”. Larissa apontou para as ameaças que seu povo vem enfrentando e conclamou às autoridades políticas atenção aos direitos dos povos que hoje estão ameaçados. “Estamos sendo ameaçados, assassinados e corremos risco de perder nossa terra”, declarou.
Para Samela Sateré Mawé, ativista que faz parte da terceira geração de uma família de mulheres que lutaram pelos direitos indígenas, e que esteve na COP 26 (Conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas em 2021), em Glasgow, na Escócia, falta diálogo entre governos e povos indígenas. “Pensam em amazônia como floresta, rio e riquezas e esquecem os povos daqui. Temos que pensar e discutir a Amazônia, pensando nos povos indígenas, ribeirinhos, quilombolas e dentro da nossa realidade”, afirma.
Na saúde, Samela aponta a necessidade de se aplicar dentro das comunidades uma medicina que leve em conta as vivências, tradição e cultura amazônica. “Tudo que for pensado para nós, deve ser conversado conosco e não sem a nossa presença”, avisou.
Samela disse que não se pode falar de saúde e economia na Amazônia se os povos correm risco. “Como podemos falar de desenvolvimento se nosso povo está sendo expulso das terras; se nosso povo está sendo assassinado, massacrado, estuprado, se nossa casa está sendo invadida?”, questiona.
A líder indígena do povo Witoto, Vanda Ortega, que se tornou um símbolo da luta contra a Covid-19 salvando vidas em sua comunidade Parque das Tribos, em Manaus, pediu a palavra para pedir que lideranças amazônicas se coloquem como opção de representatividade na política. “Para falar de Amazônia de forma real, precisamos ter representatividade. É o Estado que executa todas essas demandas que estamos aqui trazendo. Se não assumirmos o compromisso de eleger pessoas que representem essa pauta na sociedade, nós ainda continuaremos com a nossa canoa virada contra as correntezas dos rios”, lembrou.