Atenção você que tem um instrumento de corda, e este já está meio ‘sambado’. Leia a matéria a seguir, que pode ser do seu interesse. Três ‘caboclos’, há tempos deixaram suas terras, no interior do Amazonas, e vieram para Manaus. Agora profissionais na arte da lutheria, querem ensinar o que sabem dessa arte milenar, de construir, manter e consertar instrumentos de corda. São eles: Gean Dantas, de Beruri, no rio Purus; Edson Ribeiro, de Jutaí, no alto Solimões; e Wall Silva, de Parintins, no baixo Amazonas.
“O Gean e o Edson foram alunos pioneiros na Oela (Oficina Escola de Lutheria da Amazônia), depois montaram a própria escola de lutheria, a Furo Amazonas. Foi lá que aprendi essa arte, com eles. Agora nos unimos e desde dezembro do ano passado criamos a Amazonas Lutheria, na rua Ramos Ferreira, 1193, ao lado do antigo Cheik Clube”, falou Wall Silva.
Wall foi matéria do JC, em 2017, quando contou sua trajetória com a música. Ele toca guitarra desde os 15 anos, instrumento que aprendeu sozinho, ainda em Parintins. Na Ilha Tupinambarana integrou algumas bandas, quando resolveu fazer um curso de música no Liceu de Artes Cláudio Santoro, mas queria ir além do simplesmente tocar um instrumento.
“A curiosidade de buscar saber mais, além do conhecimento musical, me fez querer descobrir como tudo funcionava num instrumento. Em Manaus, há mais de dez anos, fiquei sabendo de um curso livre ministrado pelos professores Gean e Edson, e fiz o curso por um ano. Desde lá me dedico à lutheria”, lembrou.
Mais de 300 tipos
Agora, ex-mestres e aluno trabalham juntos realizando serviços e fabricando instrumentos. Gean e Edson são capazes de produzir qualquer instrumento acústico de corda, ainda que existam, espalhados pelo mundo, mais de 300 tipos deles. Wall se especializou num segmento pelo qual é apaixonado desde a adolescência, os maciços: guitarras, contra-baixos e violões elétricos.
“Apesar de existirem classificados esses mais de 300 tipos de instrumentos acústicos de corda, basicamente os que os clientes procuram mais para fazer, manter ou consertar são o violão, o cavaquinho e o ukulele. O violão chegou ao Brasil trazido pelos portugueses e hoje é praticamente um instrumento nacional; o cavaquinho, que muitos pensam ser brasileiro devido ser amplamente tocado em sambas e pagodes, também foi trazido pelos portugueses, mas igual ao violão, se abrasileirou; já a procura pelo ukulele acredito que seja por causa do sucesso da música ‘Somewhere over the rainbow’, cantada pelo havaiano Israel IZ Kamakawiwoʻole, acompanhado desse instrumento”, disse.
“No quesito serviços aparece de tudo como, por exemplo, recentemente um alaúde trazido da Palestina. Devido ao nosso clima, ele começou a descolar, então fizemos um restauro estrutural e o envernizamos novamente”, contou.
“Eu, como sempre gostei de tocar rock, minha predileção é pelas guitarras, contra-baixos e violões elétricos. Acho muito bacana vê-los surgir a partir de um pedaço maciço de madeira e depois produzirem sons musicais, sem falar que possuem vários modelos, e ainda podem ser customizados, como aquelas roxas, do Prince; ou com cinco braços, do Rick Nielsen; ou a quadrada, do Bo Diddley; ou aquelas muito loucas, do Kiss”, listou.
Fazer seu próprio instrumento
O objetivo, agora, dos três luthiers é deixar seu conhecimento como legado para os manauaras.
“Vamos passar a ensinar qualquer pessoa a fazer seu próprio instrumento”, avisou.
As aulas de Gean e Edson acontecem todos os sábados, das 8h às 11h, e duram seis meses. A pessoa escolhe qual instrumento deseja aprender a fazer e os dois mestres ensinam. Os cursos de Wall também ocorrem aos sábados, em dois horários, das 8h às 12h e das 13h às 17h, e duram apenas um mês. Cada turma tem dois alunos.
“A diferença de tempo nos cursos entre os instrumentos acústicos e maciços ocorre porque nos acústicos existe a caixa de ressonância, que serve para reforçar o som produzido pelas cordas. Fazer essa caixa requer maior aprendizado. Conforme o tipo de madeira de que é feito esse corpo existe mudança nos tons. Até mesmo a cola que é usada para montar o corpo interfere na reprodução do som”, ensinou.
“Nos maciços o som é amplificado eletronicamente, através de captadores ou microfones, e existem alguns que nem possuem corpo, mas apenas molduras para a sustentação das cordas, então só precisamos fazer o corpo e o braço do instrumento”, completou.
“Uma coisa que é necessário dizer: em nenhum dos cursos o aluno vai sair um profissional. São cursos básicos onde ele irá aprender a fazer um instrumento para si mesmo. Se desejar se profissionalizar, deve se aprofundar em outros cursos. No meu caso irei mostrar os vários modelos de guitarras existentes e o aluno poderá customizar seu instrumento no formato que desejar”, concluiu.
Instagrams: Wall Silva: @wall_silva_luthier; Gean: @luthiergeandantas
Informações: 9 9399-9903
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