24 de novembro de 2024

Compras e vendas externas retrocederam em fevereiro 

A corrente de comércio exterior do Amazonas encolheu em fevereiro. A soma das exportações e importações totalizou US$ 1.04 bilhão e ficou 6,89% abaixo do valor atingido no segundo mês de 2022 (US$ 1.12 bilhão). Tanto as compras de insumos e bens finais no estrangeiro, quanto a vendas externas de manufaturados e produtos primários, retrocederam no período. Assim como ocorrido em janeiro, motocicletas e concentrados se mantiveram no topo do ranking dos produtos do PIM, com a Argentina e a Colômbia como seus destinos preferenciais. É o que revelam os números do site Comexstat.

A base de dados do governo federal informa que as vendas externas somaram apenas US$ 58.40 milhões, ficando 21,63% abaixo de janeiro de 2022 (US$ 74.52 milhões) e 7,43% aquém do patamar de 12 meses atrás (US$ 63.09 milhões). As importações não passaram de US$ 981.83 milhões e tombaram 18,87% em relação ao mês anterior (US$ 1.21 bilhão), além de declinar 7,37% no confronto com igual intervalo do ano passado (US$ 1.05 bilhão). 

O bimestre se manteve positivo para as exportações, que avançaram 7,41%, de US$ 123.96 milhões para US$ 133.15 milhões. O mesmo não pode ser dito das importações, que recuaram 0,90%, com US$ 2.19 milhões (2023) contra US$ 2.21 milhões (2022). A análise trimestral, que é usada para captar tendências, mostrou dados ainda menos positivos ao confirmar redução de 5,60% para as compras (US$ 3.37 bilhões) e de 4,83% para as vendas (US$ 215.30 milhões) do Amazonas no mercado exterior.

O comparativo da pesagem das mercadorias apresenta desempenho menos desfavorável ao comércio exterior do amazonense, em possível sintonia com os impactos da variação cambial e da inflação internacional. O volume das exportações ficou em 16,23 mil toneladas, 9,02% a menos do que em janeiro (17,84 mil toneladas) e 14,22% abaixo da marca do mesmo mês de 2022 (18,92 mil toneladas). Em contraste, as importações (258,74 milhões de toneladas) subiram 10,46% na comparação com o primeiro mês deste ano (234,23 milhões de toneladas) e escalaram 89,50% em relação ao mesmo período do exercício anterior (136,54 milhões de toneladas).

Sazonalidade e crise

Dominada por insumos para o PIM, a lista de importados foi encabeçada por circuitos integrados e microconjuntos eletrônicos (US$ 193.18 milhões), óleos de petróleo” (US$ 89.35 milhões) e discos, fitas e suportes para gravação de sons (US$ 60.87 milhões). Na sequência estão celulares (US$ 52.82 milhões), partes e acessórios veículos de duas rodas (R$ 45.48 milhões), polímeros de etileno (US$ 41.45 milhões), componentes para aparelhos eletroeletrônicos (R$ 39.59 milhões) e platina (US$ 38.07 milhões), entre outros.

A China (US$ 368.23 milhões) confirmou liderança entre os fornecedores do PIM, embora tenha sofrido recuo 20,30% na comparação com o valor de um ano atrás. Foi seguida pelos EUA (US$ 127.60 milhões), Vietnã (US$ 76.82 milhões), Coreia do Sul (US$ 63.56 milhões), Taiwan/Formosa (US$ 50.35 milhões), Japão (US$ 37.51 milhões), Tailândia (US$ 31.53 milhões), Singapura (US$ 28.75 milhões) e Bélgica (US$ 23.14 milhões), em uma lista de 91 nações. Apenas Vietnã, Coreia Taiwan e Japão regrediram na variação anual.

Em entrevistas anteriores à reportagem do Jornal do Commercio, o gerente executivo do CIN (Centro Internacional de Negócios) da Fieam (Federação das Indústrias do Estado do Amazonas), Marcelo Lima, já havia ressaltado que a crise de abastecimento de insumos pode contribuir para oscilações nas importações do PIM. Destacou também que já é esperado que os números dos meses iniciais do ano costumam ser mais fracos por conta da sazonalidade do setor. “O número de dias trabalhados é menor. Algo semelhante deve acontecer em fevereiro, que é um mês mais curto e tem Carnaval”, ponderou 

Argentina e motocicletas

Do lado das exportações, a Argentina (US$ 9.91 milhões) se manteve na primeira posição do ranking, com alta de 93,18% ante o mesmo mês de 2022. A Colômbia (US$ 8.18 milhões) permaneceu na vice-liderança, sendo seguida por China (US$ 7.85 milhões), Venezuela (US$ 6.18 milhões), Bolívia (US$ 4.17 milhões), EUA (US$ 3.35 milhões), Paraguai (US$ 1.84 milhão) e Austrália (US$ 1.38 milhão), em um rol de 69 países. 

As motocicletas (US$ 13.56 milhões) aceleraram 34,26% em igual comparação e se seguraram no primeiro lugar, sendo sucedidas pelas preparações alimentícias/concentrados (US$ 11.08 milhões) no ranking. As demais posições foram ocupadas por ferro-ligas/nióbio (US$ 8.54 milhões), lâminas e aparelhos de barbear (US$ 3.72 milhões), televisores (US$ 2.20 milhões), extratos de malte (US$ 2.09 milhões), auto rádios e reprodutores de audio (US$ 1.80 milhão), canetas (US$ 1.48 milhão), entre outros em uma lista de 357 itens. Os próximos manufaturados do PIM na lista só aparecem da 13ª e da 16ª posições em diante – isqueiros (US$ 879.249) e celulares (US$ 608.040).

Marcelo Lima salientou que as oscilações no ranking de exportações são “usuais”, mas avalia que a tendência para 2023 é “animadora”, embora frise que a conjuntura global de desaceleração das principais economias e aumento da inflação em meio aos rescaldos da pandemia e da guerra na Ucrânia favoreça mais um aumento “vegetativo”. “Mas, março já deve começar a refletir alguma melhoria nas exportações. A abertura de novos mercados e novas negociações deve contribuir para alguma alteração positiva no segundo trimestre. E isso deve se refletir também nas importações”, amenizou. 

Celulares e petróleo

No entendimento do diretor adjunto de Infraestrutura, Transporte e Logística da Fieam, e professor da Ufam, Augusto Cesar Rocha, a queda das exportações foi expressiva e merece investigação, já que pode apontar para perda de mercado em produtos estratégicos. O especialista tem opinião diferente a respeito da retração mais amena nas importações, que pode ser “mera volatilidade sem relevância estatística”.

“O crescimento da exportação para a Argentina chama a atenção pela condição inflacionária deles. Pode ser alguma deficiência das cadeias produtivas tradicionais de lá. Fico com a sensação otimista quanto ao mercado interno e às vendas para o país vizinho. Todavia, a questão das vendas externas reduzidas merece uma atenção especial, com uma análise das NCMs [Nomenclaturas Comuns do Mercosul] e destinos específicos – coisa que a Suframa e a Sefaz podem fazer e considerar algum tipo de ação de governo”, frisou.

Rocha diz que a presença relevante de componentes eletroeletrônicos e de duas rodas na pauta de compras do Estado é natural, dada a importância dos segmentos no PIM, e estima que os polímeros de etileno são destinados ao polo termoplástico. Em contraste, o executivo destaca que os celulares chamam a atenção negativamente, e que seria importante fabricar todos os aparelhos localmente, no lugar de importar.

“O petróleo ainda estar na pauta de importação também chama a atenção, porque não é uma questão de insumos para o PIM, mas uma provável deficiência da Petrobras no atendimento das demandas nacionais. É como se fosse um cuidado menor da companhia com a cadeia de suprimento do Amazonas, levando a refinaria para a importação. Este peso na balança comercial parece desnecessário”, arrematou.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio

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