25 de outubro de 2024

Conab confirma projeção de alta de 12,5% para safra de grãos do Amazonas

A Conab confirmou que a safra de grãos do Amazonas 2023/2024 deve avançar 12,5%. A área de plantio deve subir ainda mais, em detrimento da produtividade. Em seu quarto levantamento, divulgado neste mês, a Companhia de Abastecimento Nacional reafirmou que a produção deve saltar de 55.100 para 62.000 toneladas, em relação a 2022/2023. A única cultura em expansão, contudo, ainda é a soja. Há um pequeno aumento na área para arroz e milho, mas com oferta menor. Já o feijão, que é predominantemente de agricultura familiar, sinaliza mais um ano de estagnação.

O prognóstico da Conab aparece mais reforçado do que os dois primeiros para a presente safra, que davam conta de uma virtual estabilidade para o cultivo de grãos no Amazonas – apenas 0,5% de expansão e 55.400 toneladas. Caso confirmado, será o maior patamar produtivo atingido pelo Estado nos últimos seis anos. O Amazonas saiu de uma safra de 38.700 toneladas, registrada entre 2018/2019, e só registrou recuo na safra de 2021/2022 (47.800), sob os impactos do rescaldo da pandemia e do choque de oferta proporcionado pelo começo da guerra na Ucrânia.

No ranking da Conab, o Amazonas comparece com a quarta maior taxa de crescimento de produção, ficando atrás apenas do Ceará (+52,3%), Rio Grande do Sul (+40,8%) e Roraima (+15,6%). O indicador é muito superior ao apontado para a média nacional (-4,2%) e da região Norte (+0,2%). Em números absolutos, no entanto, Estado ainda representa pouco mais de 0,02% da produção brasileira, que está estimada em mais de 306,36 milhões de toneladas, para a presente safra.

A soja se destaca com a única alta entre as culturas de grãos presentes no Amazonas, com projeção de 39,7% de expansão em relação à safra 2022/2023 e um total de 27.800 toneladas. O milho ensaia mais um ano de queda de produção (-5,5%) e estimativa de apenas 15.600 toneladas. O cálculo para o arroz sequeiro – que até dois anos atrás se mantinha em alta – não é muito melhor (-0,5% e 16.400 toneladas). Já o feijão caupi (2.200 toneladas) – que vem exclusivamente de agricultura familiar e é cultivado principalmente em Lábrea e Boca do Acre – deve emplacar o segundo ano de estabilidade.

Área e produtividade

O Estado deve usar uma área 13,6% maior para o cultivo da atual safra de grãos, que se encerra em setembro. A estimativa é que ela passe de 19.800 para 22.500 hectares, na comparação com o período de 2022/2023. É a maior taxa de expansão do país. Na média nacional, a área de semeadura deve ser 0,3% (78,78 milhões de ha) superior. Três das quatro culturas de grãos listadas no Amazonas devem acompanhar esse movimento, principalmente a soja (+36,2% e 9.400 hectares), mas também o feijão (+4,3% e 2.400 ha) e o arroz (+2% e 5.100 ha). O prognóstico para o milho (5.600 ha) é de estabilidade. 

A má notícia é que, com isso, o Estado deve perder produtividade, que deve passar de 2.783 (2022/2023) para 2.756 (2023/2024) quilogramas por hectare e cair 1%. Entre as culturas, o maior retrocesso vem do milho (-5,7% e 2.784 kg/ha), seguido pelo feijão (-3% e 915 kg/ha) e pelo arroz (-2,8% e 3.213 kg/ha). A exceção vem da soja (+2,8% e 2.960 kg/ha). Em todo o país, apenas quatro unidades federativas figuram com ganhos de produtividade, com destaque para o Ceará (+48,9%). A expectativa é que a produtividade da safra brasileira de grãos seja 4,5% (3.889 kg/ha) menor.

Em sua análise climática para o texto de divulgação do levantamento, a Conab informa que, em grande parte da região Norte, os volumes de chuva foram superiores a 150 milímetros em dezembro. Principalmente no Amazonas, Acre, Rondônia e Sudoeste do Pará, onde a umidade do solo permaneceu elevada. Já em Roraima e Noroeste do Pará, os volumes de chuva abaixo de 100 milímetros não foram suficientes para elevar o armazenamento de água no solo em relação ao mês anterior.

A estatal informa que, na primeira quinzena de novembro, começaram a surgir as primeiras chuvas pós vazante, melhorando o humor dos produtores para o começo do plantio de milho e soja, encerrados no mês passado. “O Estado passou por um longo período de estiagem, atrasando o plantio dos grãos em 60 dias. Entretanto, na primeira quinzena novembro, de forma discreta, começaram a surgir as primeiras chuvas, animando os produtores para o começo do plantio, que foi concluído em dezembro”, destacou.

A Conab não entrou em detalhes sobre as demais culturas. Em boletins anteriores, informou que uma das áreas do Amazonas que produz arroz se encontra em trechos de terra firme de Humaitá (na calha do Rio Madeira). Os outros estariam em Lábrea, e no Sul de Canutama. “Ambos estão situados na calha do Rio Purus, “que dispõe da aplicação de tecnologia de manejo do solo e uso de sementes melhoradas”, acrescentou. 

Exportações e soberania

Indagado a respeito dos números mais recentes da Conab, o presidente da Faea (Federação da Agricultura e Pecuária do Amazonas), Muni Lourenço, lembrou que a safra de grãos não deixou de sofrer impactos da “fortíssima estiagem” do ano passado. O dirigente assinalou também que, embora a participação amazonense na produção nacional ainda seja pequena, a atividade ainda se mostra promissora e âmbito local.

“O Sul do Estado vem se destacando, principalmente pelas áreas de campos naturais, com grande vocação e potencial para a produção mecanizada e tecnificada. Nesse contexto, temos a liderança estadual de Humaitá. A soja está crescendo mais significativamente em função da posição de nosso país no contexto mundial da produção desse grão tão importante, tanto para o consumo humano, como para insumo de rações animais”, apontou.

Na análise de Muni Lourenço, as demais culturas se mantêm em uma “estabilidade de produção” no Estado, porque os agentes privados têm visto na soja uma perspectiva mais positiva. “Principalmente diante do mercado internacional e da valorização da commodity na exportação. Essa recente redução na cotação do dólar diante do real tem relativo impacto, mas a exportação ainda se mostra atrativa”, afiançou.

Em seu blog, o ex-superintendente da Conab, administrador com especialização na gestão de informação ao agronegócio familiar e empresarial, e colaborador do Jornal do Commercio, Thomaz Meirelles, salientou que o Amazonas precisa capitalizar seu potencial na safra de grãos, dado que o Estado supera apenas o Amapá no ranking da região Norte. No entendimento do especialista, a produção deveria ao menos atender a demanda interna para garantir a “soberania alimentar”. Diante disso, ele diz que o Zoneamento Ecológico-Econômico é “indispensável”, entre outras medidas.

“Precisamos avançar muito. Temos áreas dentro dos 20% [o teto previsto pelo Código Florestal] e tecnologia da Embrapa para que Idam, Senar e outras entidades públicas e privadas aumentem nossa produção e o emprego no interior, com a consequente diminuição da pobreza e insegurança alimentar”, frisou. “Vamos parar de atirar para todos os lados. ZEE é aprovado na Aleam e sancionado pelo governador, como aconteceu recentemente em Roraima com ajuda e participação de doutores da Ufam. Sendo uma política ambiental, até hoje não entendo o motivo da enrolação desde 2003”, concluiu.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio

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