A Ademi-AM (Associação das Empresas do Mercado Imobiliário do Amazonas) concorda que o isolamento social e a descida da taxa Selic favoreceram a aquisição de imóveis e aquecerem o mercado, tanto para quem quer morar, quanto para quem quer investir. A entidade, contudo, descarta que a escalada das vendas favoreça também o aumento dos casos de distrato – rescisão contratual muito comum no período mais recente de boom imobiliário, por parte de investidores arrependidos.
As incorporadoras e construtoras de imóveis do Amazonas mantêm suas apostas para o fim de ano e esperam encerrar 2020 com R$ 1 bilhão em vendas em todo o Estado, crescendo 23% em relação ao faturamento apresentado um ano antes (R$ 814 milhões) – a mesma expectativa dos dias pré-pandemia. Mas, caso as vendas repitam a performance do terceiro trimestre – cujos números foram divulgados nesta quarta (4) –, o segmento pode obter um resultado ainda melhor.
Até então, os dados mais recentes da Ademi-AM apontavam que o mercado imobiliário no Amazonas fechou o primeiro semestre de 2020 com faturamento de R$ 426 milhões, alta de 24,56% sobre as vendas alcançadas no mesmo período do ano passado (R$ 342 milhões). Vale notar que o segundo trimestre (R$ 221 milhões) – no pico da pandemia e da quarentena no Amazonas – superou os números do primeiro (R$ 205 milhões) por uma margem de 7,80%.
O presidente da Ademi-AM, Albano Máximo, lembra que o distrato foi um problema sério no passado, quando ainda não haviam regras para isso. Isso porque o Judiciário entendia que a compra de um imóvel era uma aplicação financeira e o entendimento era que o dinheiro teria de ser devolvido com correção monetário ao investidor que solicitasse a operação.
“Não é uma coisa que você tem o dinheiro para devolver. Quando o cliente compra um imóvel, esse recurso vira, no ato, tijolo, aço, e outros materiais empregados na obra. Aí, tinha que pagar 5% a título de corretagem, porque o valor já tinha sido gasto e não tinha como devolver mais. Mas, isso já foi normalizado por uma nova legislação que regulamentou esse processo”, amenizou.
De acordo com o dirigente, outra questão relevante para afastar o risco de distratos no segmento vem da própria dinâmica crescente de vendas e demanda do mercado. O fato de o valor dos imóveis ainda se encontrar em curva ascendente, conforme o executivo, torna o produto ainda atraente para investidores e afasta o risco de eventuais casos de desistência do comprador.
“É muito diferente do que ocorria um ou dois anos atrás, quando os valores estavam em uma escalada decrescente. Ou seja, se você distratar o imóvel hoje, vai perder a oportunidade de vende-lo mais caro amanhã. Isso também não onera tanto o incorporador. Antes, você distratava o imóvel e não tinha para quem vender. Era uma situação muito mais complicada”, comparou.
Desabastecimento e inflação
No curto prazo, o único problema visualizado no horizonte de mercado para o segmento imobiliário do Amazonas, segundo o presidente da Ademi-AM está na escassez, desabastecimento e inflação nos preços para os materiais para a construção civil. O que aconteceu, conforme Albano Máximo, é que a grande maioria das grandes empresas de aço, cimento, etc, tem braços internacionais e resolveu adotar as mesmas estratégias de desligamento de fornos e cortes de produção no Brasil, para evitar eventuais expansões de estoques. Mas, não contavam a reação do mercado.
“Desligaram os fornos e reduziram a produção para não aumentar os estoques. Acontece que estes se esvaíram muito rapidamente. As empresas precisam reaquecer a produção para normalizar o mercado, mas não vão conseguir isso, no curto prazo. Estivemos em uma reunião com um fornecedor, no mês passado, e eles disseram que só vão conseguir toda a produção de volta no final de julho de 2021. Então, no primeiro semestre, ainda vamos ter problemas no dia a dia, mas teremos o início da resolução desse problema do passivo de entrega”, amenizou.
Otimismo moderado
O presidente da Ademi-AM ressalva que, a despeito da escalada no volume de comercialização de produtos do segmento imobiliário do Amazonas, não houve nenhuma explosão no mercado, que ainda segue abaixo de seu potencial de vendas, em virtude dos efeitos acumulados de duas crises. Conforme o executivo, os números mais recentes de vendas confirmam, mais do que um boom imobiliário, que “o mercado está comportado”, a despeito de “problemas sazonais”.
O dirigente reforça que o mercado de construção não parou e os resultados estão dentro da “crescente aguardada” pelas empresas. Para o ano que vem, a estimativa da Ademi-AM é que o mercado deve se manter em trajetória ascendente, com “crescimento moderado”, mas a entidade ainda prefere não arriscar números de longo prazo, em razão das incertezas.
“Com tudo isso que ainda está acontecendo, você não pode se esquecer de que teve uma pandemia e que as empresas e o governo perderam produção. O Brasil está indo bem, exportando mais do que estava, etc. As coisas devem se estabilizar na segunda metade do ano e aí é bola para frente. Nossa visão é otimista em relação a esse assunto”, finalizou.