15 de setembro de 2024

Confiança do consumidor de Manaus cresce

A confiança das famílias de Manaus escalou pelo quarto mês seguido, no mês do Dia das Crianças e do Halloween. A variação entre setembro e agosto foi de 7,8%, conforme os dados regionais do índice de ICF (Intenção de Consumo das Famílias) da CNC. A capital amazonense seguiu em ritmo acima da média nacional, que colecionou seu nono crescimento consecutivo – e também apresenta pontuação maior. Segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, o manauense está mais satisfeito com sua renda e emprego, e com maior disposição de financiar bens duráveis. Mas, ainda não retomou o patamar de confiança anterior à crise da covid-19.

O ICF de Manaus ficou em 49,8 pontos, superando setembro (46,2 pontos), agosto (42,7 pontos) e julho (39,9 pontos) de 2022. A diferença é ainda maior e chega a 63,28%, na comparação com o número de 12 meses atrás (30,5 pontos). Mas, o indicador ainda não conseguiu sair da zona de insatisfação (que vai dos 0 a 100 pontos), onde permanece há 30 meses consecutivos. Também equivale a menos da metade do número pré-pandemia, apontado em março de 2020 (105,2 pontos). Famílias com renda acima de dez salários mínimos mensais (90,9 pontos) já se aproximam dessa marca, o que não ocorre entre os consumidores com rendimentos menores (45,9 pontos). 

Manaus teve desempenho proporcionalmente mais forte do que o apresentado pela média brasileira, que teve expansão de 2,1% na passagem de setembro para outubro, atingindo 87 pontos – contra os 84,4 pontos anteriores. A CNC aponta que, apesar de também permanecer abaixo da linha dos 100 pontos e na zona de insatisfação, o índice continua em trajetória ascendente, tendo superado em 18,9% o registro de outubro do ano passado, sendo esta a maior taxa elevação da história do indicador nacional.

Assim como no mês anterior, a intenção de consumo da capital amazonense avançou em todos os sete componentes do ICF na variação mensal, embora todos sigam no nível de insatisfação, na média geral. As expansões vieram principalmente das avaliações dos entrevistados em relação aos níveis de consumo atual (+12,7%) e nas perspectivas profissional (+11,8%) e de consumo (+11,3%). Na sequência vieram as avaliações do “momento para duráveis” (+9,5%), renda atual (+8,8%) e acesso a crédito (+5,3%). Mas, a percepção sobre emprego atual (+1,4%) já aparece com alta ainda menor.  

Renda e emprego

A visão das famílias sobre o seu nível de consumo atual ainda é o principal fator que puxa o ICF de Manaus para baixo. Mesmo com o quinto aumento consecutivo de dois dígitos, o subindicador ainda aparece com o pior escore da lista (25,1 pontos). Nada menos do que 83,5% dizem que estão indo menos às compras do que no ano passado, sendo que a restrição é maior entre os que recebem abaixo de dez salários mínimos (85,6%). Apenas 8,6% dizem que estão comprando mais – com maior proporção nas famílias mais ricas (20,5%). Os 7% restantes apontaram empate. 

A pontuação da perspectiva de consumo (37,5 pontos) não é tão melhor, assim como as avaliações sobre a renda familiar atual (40,3 pontos). Para 74,8%, o consumo familiar e da população nos próximos meses deve ser menor que no ano passado. Outros 12,4% arriscam dizer que será maior, ao passo que 11,7% aguardam estagnação. Em paralelo, 69% dizem que a renda familiar piorou em relação ao cenário de econômico de 12 meses atrás. Só 9,3% viram melhora e os demais 20,8% avaliam que está igual. 

O entendimento sobre a situação atual do emprego (68,2 pontos) voltou a crescer, consolidando o maior placar da lista. Mesmo assim, 43,7% ainda se dizem “menos seguros” em relação a sua ocupação, ao passo que 26,8% não veem mudanças e apenas 11,9% já se dizem “mais seguros”. A cota dos desempregados foi de 16,9%, menor do que as de setembro (18%) e agosto (19,2%). Na perspectiva profissional (53,9 pontos), a percepção majoritária sobre a possibilidade de melhora nos próximos seis meses segue negativa (69,6%), em detrimento dos otimistas (23,4%) – que aparecem novamente em fatia maior – e os indecisos (7%). A confiança é muito maior, e já está na marca do otimismo, entre os que ganham mais (107,2 pontos), em detrimento da avaliação dos que recebem menos (48,8 pontos), que também melhorou.

A visão sobre a situação atual do crédito (58,5 pontos) também progrediu. Mas, 60,3% dizem que o acesso está mais difícil do que no ano passado. Apenas 18,8% avaliam que ficou mais fácil e 19,6% não veem diferença. Apesar dos juros altos, a visão sobre o “momento de aquisição de bens duráveis” (65,6 pontos) avançou pela segunda vez neste ano. Mas, a maioria esmagadora (65,1%) ainda garante que esta não é a melhor hora para isso, e só 30,2% têm opinião contrária, enquanto 0,7% dizem que não sabem. Em ambas as situações, as dificuldades e cautelas predominam entre as famílias de menor renda.

“Grande gargalo”

Em comentário repassado pela assessoria de imprensa da Fecomércio-AM à reportagem do Jornal do Commercio, o assessor econômico da entidade, Enio Ferrarini, reforça que o Amazonas registrou crescimento significativo no ICF, que chegou a registrar 90,9 pontos neste mês entre as famílias que ganham mais de dez salários mínimos, 81,07% a mais do que em outubro do ano passado (50,2 pontos). Mas, destaca que o “grande gargalo” ainda está na faixa de renda abaixo dos dez mínimos com progressão de apenas 45,9 pontos contra 28,6 pontos, na mesma comparação, uma diferença de 60,49%.

“O ICF é um importante indicador, que auxilia os empresários do comércio, e empreendedores de um modo geral, na tomada de decisões. São muitos fatores que contribuíram para este bom desempenho. Mas, como destaque, estaria o terceiro mês consecutivo de deflação, que deve fechar o ano próximo da meta de inflação, devido a políticas de microcrédito para baixa renda e proximidade do Natal”, opinou.

“Consumidores cautelosos”

Na mesma linha, o texto de divulgação da pesquisa da CNC aponta que, em âmbito nacional, o maior destaque veio da percepção das famílias sobre o nível de consumo atual que subiu 4,1% e apresentou maior acréscimo entre os indicadores da ICF.  “O resultado positivo de outubro da Intenção de Consumo das Famílias é produto da combinação da deflação com crescimento do emprego formal, das transferências de renda e da facilitação da contratação de crédito”, salientou o presidente da CNC, José Roberto Tadros.

No mesmo texto, a economista responsável pela sondagem, Izis Ferreira, explica que a melhor avaliação da renda resulta do recuo recente na inflação. Mas, ressalva que a evolução dos preços ainda dificulta o consumo, em um cenário em que o maior nível de endividamento reduz a capacidade de compras futuras – especialmente entre os mais pobres. “A maior contribuição para a alta do IPCA no ano foi do grupo de alimentos e bebidas, itens mais representativos nos orçamentos das famílias de renda baixa”, encerrou, acrescentando que tais consumidores ainda se mantêm cautelosos, com idas mais frequentes aos supermercados para buscar ofertas.

Por Reportagem: Marco Dassori

Twitter: @marco.dassori

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio

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