Pelo quinto mês seguido, o interior do Amazonas contribuiu com saldo positivo de empregos formais, mas houve desaceleração. Na passagem de julho para agosto, o número de municípios amazonenses onde as admissões superaram os desligamentos foi de 22, de um total de 61. A geração de vagas formais alcançou menor amplitude do que no mês anterior, quando o número de localidades nessa situação chegava a 24. É o que mostram os dados mais recentes do “novo” Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados).
Ao mesmo tempo em que Manaus criava 6.770 postos de trabalho celetistas, algumas das cidades amazonenses conseguiram avançar nas contratações, a despeito dos números comparativamente mais elevados da pandemia da covid-19 no interior do Estado. Em números globais, as localidades registraram 929 contratações e 680 demissões. O total de postos de trabalho criados em julho foi de 249, ficando bem aquém do contabilizado um mês antes (+427), embora tenha superado os dados de junho (68) e maio (42).
Embora pouco mais de um terço dos municípios do interior tenha conseguido avançar nas contratações, a estagnação foi a marca de outras nove, enquanto praticamente a metade (29) amargou performance negativa e eliminou vagas –contra 18 e 20 no mês anterior, respetivamente. A situação ainda é menos confortável no acumulado, que ainda aponta para uma extinção de 149 empregos formais, dado o predomínio dos desligamentos (6.740) sobre as admissões (6.591).
Contratações concentradas
O impulso veio novamente concentrado. Só dez municípios conseguiram saldo positivo de dois dígitos e os demais avançaram apenas um par de vagas, em média. Em números absolutos, Iranduba teve o melhor desempenho, com saldo de 93 empregos, decorrentes de 175 contratações e 82 demissões, gerando aumento de 4,72% e estoque local de 2.058 vagas celetistas. Na sequência, vieram de Parintins (+48), Guajará (+28), Itacoatiara, Presidente Figueiredo (ambos com +27) e Maués (+23). Em contraste, os cortes foram menos severos, com Tefé (-14) e Coari (-11) nas primeiras posições.
O maior incremento proporcional também veio de Iranduba (+50%), que foi seguido de longe por Codajás (+25%) e Itapiranga (+22,73%), e ainda mais distante por Silves (+8,70%) – com saldos positivos de 18, 15 e 2 empregos formais, respectivamente. Na outra ponta, Itamarati (-18,52% e -5 vagas), Japurá (-11,11% e -3) e Santa Izabel do Rio Negro (-10,81% e -4) registraram as piores variações percentuais do mês.
No acumulado do ano, os melhores resultados vieram de Presidente Figueiredo (+206 ocupações e +7,51%), Humaitá (158 e +7,88%) e Novo Airão (+56 e +21,79%), repetindo o pódio do mês anterior. Em sentido inverso, Manacapuru (-294 e -8,90%), Coari (-88 e -3,20%), São Gabriel da Cachoeira (-83 e -19,86%) e Itacoatiara (-65 e -1,45%) lideraram a lista de destruição de empregos no interior amazonense, nos oito meses iniciais de 2020.
Excluída a capital (374.495), os seis maiores municípios em termos de estoque de empregos com carteira assinada respondem por praticamente metade de todo o volume apresentado no interior do Estado (34.912): Itacoatiara (4.412 ocupações), Manacapuru (3.010), Presidente Figueiredo (2.950), Coari (2.663), Parintins (2.656) e Humaitá (2.171). Vale notar que, entre eles, apenas um gerou variação negativa, enquanto os demais geraram vagas celetistas.
Agropecuária e auxílio
O “Novo Caged” não cruza os dados de empregos dos municípios com as atividades econômicas do Estado. Atividades mais comuns no interior, como comércio (+1.031 postos de trabalho), agropecuária (+16) e construção (+695) apresentaram expansão. Pela primeira vez, desde o começo da pandemia, o setor de serviços (+2.492) passou ao terreno positivo, sendo puxado para cima exatamente pelas atividades administrativas e serviços complementares (+1.713), mais comuns proporcionalmente no interior amazonense. O único dado negativo veio da indústria extrativa (-5).
Especialistas apontam que localidades do interior do Amazonas com populações pequenas e alta taxa de informalidade tendem a ser favorecidas pelo impacto de ações dos governos para gerar empregos, especialmente obras públicas. Em municípios maiores e mais próximos de Manaus, como Presidente Figueiredo e Iranduba, atividades locais típicas das localidades a exemplo de loteamentos imobiliários e olarias, no primeiro caso, e os setores rural, turístico e de indústria extrativa, no segundo.
Durante a reunião mais recente do Codam (Conselho de Desenvolvimento do Amazonas), ocorrida nesta terça (27), o titular da Sedecti (Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação), Jório Veiga, comemorou as perspectivas de abertura de 217 novos empregos, por meio de três novos projetos agroindustriais, em Presidente Figueiredo (beneficiamento de pescado), Humaitá (cadeia da carne) e Manacapuru (derivados do leite), ressaltando o impacto econômico especialmente deste último.
Em depoimentos à reportagem do Jornal do Commercio, o secretário estadual salientou que a agropecuária desponta como um dos vetores na geração de empregos no interior, em especial no Sul do Estado. Atividades portuárias e mesmo o setor de saúde – por força da pandemia – também teriam ajudado. Outro impulso positivo viria da injeção mensal de recursos do auxílio emergencial, benefício que ajudou a inflar contratações e a arrecadação não apenas nos municípios do Amazonas, como em todo o Brasil – especialmente nas regiões Norte e Nordeste.
“O setor primário tem sido um bom incentivador da economia em vários municípios. Creio que boa parte dessas vagas venha de recuperação de postos, que foram desocupados por ocasião durante a pandemia, e agora estão sendo retomados. Nossa expectativa é positiva. Vemos que, em muitos setores, já há movimento acima do ano passado. A economia tem dado bons sinais. Creio que, em alguns meses teremos recuperado o nível de emprego de antes da atual crise”, finalizou.