As incertezas econômicas trazidas pela ameaça de uma pandemia de coronavírus ajudaram a vitaminar ainda mais o dólar nesta semana, comprometendo os planos de expansão da indústria e do comércio. A moeda americana subiu novamente na quinta e voltou a fechar no maior valor nominal desde a criação do real: R$ 4,391. Desde o começo do ano, o dólar acumula valorização de 8,8%.
Aliado à ‘inflação cambial’, o coronavírus traz riscos de estrangulamento logístico ao PIM, em virtude da interrupção em diversas unidades fabris da China, com efeitos nas cadeias internacionais de produção e escassez de matéria-prima para fabricação e montagem de produtos. O temor é que o Polo fique sem estoque de partes e peças, justamente quando intensifica seus trabalhos para atender a demanda do comércio do Dia das Mães.
De acordo com levantamento da Trendforce, empresa que faz análise de suprimentos na China, a epidemia de coronavírus pode comprometer a produção de smartphones ainda no primeiro trimestre de 2020. Se comparada com 2019, a fabricação dos aparelhos deve cair 12%, gerando o pior resultado em cinco anos, além de atingir também a fabricação de monitores. Mantidas as atuais condições, o desabastecimento das fábricas do PIM pode ocorrer ainda no primeiro trimestre, segundo as previsões de especialistas.
Maior fornecedor
A China é o maior fornecedor da indústria incentivada de Manaus e respondeu por 37,30% das importações do Amazonas ao longo de 2019 (US$ 10.16 bilhões), conforme os dados do governo federal disponibilizados no portal Comex Stat. Vendeu US$ 3.79 bilhões em manufaturados para o Estado, 7,67% a mais do que o contabilizado em 2018 (US$ 3.52 bilhões), ficando bem à frente do segundo e do terceiro colocado no ranking de fornecedores do PIM: EUA (US$ 1.21 bilhão) e Coreia (US$ 908.75 milhões).
Componentes para a indústria eletroeletrônica responderam pela maioria das aquisições do Polo no país asiático: partes e peças para televisores e decodificadores (US$ 1.13 bilhão), circuitos integrados e microconjuntos eletrônicos (US$ 328.12 milhões), além de circuitos impressos (US$ 163.09 milhões). A lista incluiu ainda produtos acabados, máquinas e aparelhos de ar condicionado (US$ 287.17 milhões) e “aparelhos elétricos para telefonia”/celulares (US$ 187.65 milhões).
Estoque e competitividade
Segundo o vice-presidente da Fieam (Federação das Indústrias do Estado do Amazonas) e presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Manaus, Nelson Azevedo, em função dos entraves logísticos, as indústrias do PIM costumam contar com estoques de insumos comparativamente maiores, suficientes para 45 a 90 dias, que é o tempo de transporte marítimo entre o mercado fornecedor e Manaus. É também o prazo para que a escassez ou aumento do preço dos componentes seja sentido pelo setor.
“É uma questão que nos traz preocupação, até porque a cadeia logística de países fornecedores vizinhos, como Coreia do Sul e Vietnã, também é afetada. Estamos nos precavendo e já tivemos muitas palestras e cursos a respeito do assunto. Com relação ao câmbio, infelizmente é um fator que pode impactar o custo da produção e comprometer nossa competitividade mais adiante. Tudo vai depender do tempo que esse estado de alerta global durar, então vamos ver como é que fica”, ponderou.
Modal aéreo
Em entrevista recente ao “Follow Up”, o presidente da Eletros (Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletrônicos), José Jorge do Nascimento Júnior, disse que um fator adicional de preocupação vem do fato de que os insumos que chegam pelo modal aéreo – mais leves e considerados de maior valor agregado, dado o custo comparativamente maior do que o marítimo – são suficientes apenas para dez a 15 dias de produção de celulares, televisores e tablets
“O desabastecimento pode trazer riscos e prejuízos, pois o país asiático é um fornecedor importante de componentes. (…) Podemos ter um risco de paralisação de recebimento de insumos neste momento e depois, daqui a uns três meses, caso as coisas não se regularizem. O fato é que a China já está com seu PIB contaminado e a indústria e o turismo mundial já se preparam para as mudanças em curso”, frisou.
Grupo de trabalho
O deputado federal Capitão Alberto Neto (Republicanos-AM) informou, por intermédio de sua assessoria de imprensa, que já propôs ao Ministério da Economia a criação de um grupo de trabalho, com participação dos setores público e privado, a fim de estudar os efeitos da pandemia sobre as operações da ZFM, criando propostas de resoluções.
“Enviei essa indicação para o ministro da Economia para que possamos pensar, desde já, em soluções para resolver a falta de abastecimento de insumos na ZFM. Nosso polo importa muitos componentes da China e já está em alerta devido ao coronavírus”, finalizou.