23 de novembro de 2024

Crise nos cruzeiros amplia frustração no segmento turístico

O setor de turismo do Amazonas torce para uma solução para a crise sanitária que brecou a continuidade da Temporada de Cruzeiros, neste ano. Fontes ouvidas pela reportagem do Jornal do Commercio estimam que um eventual cancelamento será mais um duro golpe na atividade. A retomada das operações dos navios de cruzeiro já foi autorizada pela Portaria Interministerial 658, da Casa Civil e dos Ministérios da Justiça e Segurança Pública, Saúde e Infraestrutura. Publicada nesta quarta (5), a norma dispõe sobre restrições e medidas temporárias para a entrada no país, em decorrência da pandemia. Mas, a medida só valeria para viagens pela costa brasileira – o que não inclui o Amazonas.

Enquanto isso, a escalada dos casos de covid-19 pela variante ômicron prossegue nas embarcações em questão. Mesmo com a suspensão temporária da operação de navios de cruzeiros nos portos brasileiros, anunciado pelas operadoras na segunda (3), após a recomendação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para suspender a temporada, os cinco navios que estão em águas territoriais já reportaram 222 casos positivos para covid-19 a bordo das embarcações. Os dados são da última atualização do monitoramento feito pela Anvisa, divulgado na noite de terça (4), e citados em matéria da Agência Brasil. 

O presidente do Sindhotéis (Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares do Estado do Amazonas), Paulo Tadros, considera que o cancelamento da Temporada dos Cruzeiros em si não gera impactos diretos no segmento, já que os turistas em questão não se hospedam nos hotéis e permanecem nos navios. Mas, não deixa de apontar que há um impacto significativo para a economia do Estado e de sua capital, já que os cruzeiros geram um “movimento comercial grande” para o turismo e para o varejo.

“Há um impacto muito grande. Não só pelo lado do turista, que consome alguma coisa por aqui, visita alguns pontos da cidade e gera ganhos para os agentes de viagens e guias de turismo. Mas, o impacto maior é para o varejo de Manaus, que é maior cidade no roteiro. A tripulação e os passageiros dos navios compram muita coisa do comércio da cidade, para poder continuar a viagem. Eles se abastecem nos supermercados e em uma série de lojas. E isso vai deixar de circular na capital”, lamentou.

Apesar do reduzido impacto direto para a hotelaria, Paulo Tadros, que também é vice-presidente da Fecomercio-AM (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Amazonas), avalia que trata-se de mais uma má notícia a turvar o setor. O dirigente avalia que 2021 já foi um “ano catastrófico” para o panorama da hotelaria do Estado, pois os hotéis não estavam impedidos de funcionar, mas não havia hóspedes e “o movimento que existiu foi insignificante”. Diante da permanência das incertezas no cenário do setor, o dirigente prefere também não fazer prognósticos sobre 2022.

“Foi um ano praticamente nulo: sem voo e com as pessoas com medo. Já começou alguma coisa de viagens, mas está muito baixo. Sobre 2022, ninguém sabe. Estava todo mundo preparado com os navios e agora, isso. Tudo vai depender de como vai se dar essa situação sanitária, se vai dar tranquilidade de estar tudo aberto, ou se as pessoas vão ficar com medo. Estamos entrando em uma terceira onda e fica difícil ter uma previsão. Infelizmente ninguém tem expectativas, por conta dessas mudanças na pandemia”, desabafou. 

Cruzeiros ajudam na atração de turistas internacionais para Manaus/Crédito: Divulgação

Exagero e protocolos

Já o presidente da ABAV-AM (Associação Brasileira de Agências de Viagens – Seção Amazonas), Jaime Mendonça Jr, destaca que o virtual cancelamento da Temporada dos Cruzeiros vai prejudicar significativamente o segmento. Em suas considerações, o dirigente reforça que a nova variante “é muito transmissível”, embora também seja “mais fraca que as outras”. “Tivemos mais de 2 milhões de infectados, nesta terça [4], mas ninguém fala de mortes. Muita gente está protegida e a vacina protege das formas mais graves da doença”, frisou.

O presidente da ABAV-AM lembra ainda que há um protocolo para embarque nos navios, que inclui testagem e comprovante de vacina e que a reação aos surtos de covid-19 pela ômicron está sendo “exagerada”. “Pode ter ocorrido que alguém entrou na embarcação e estava em um estágio muito inicial da doença, que o teste não detectou. Se você analisar que os navios que estão com 60% de ocupação, no máximo. Ter 50 pessoas dentro de um contingente de mais de 3.000, é muito pouco. E o passageiro fica em sua cabine, até estar curado. Não estou negando a importância, mas acho que há exagero”, opinou. 

Jaime Mendonça Jr avalia que 2021 foi um ano “desafiador”, embora também tenha sido de retomada, especialmente no segundo semestre. O ano passado também teria beneficiado mais o turismo nacional, em detrimento do internacional, tanto no turismo receptivo, quanto no emitivo. Vários fatores contribuíram para isso, especialmente o câmbio – que encareceu as viagens para os brasileiros – o medo decorrente da pandemia. Pelo mesmo motivo, o dirigente aponta que 2022 é incerto, embora ainda aposte em crescimento.

“Os níveis de faturamento das agências sofreram uma retração média de 75%, em relação ao período pré-pandemia. Para o setor receptivo, foi mais desastroso. Com tudo o que aconteceu [na primeira e na segunda ondas], a imagem de Manaus e do Amazonas ficou muito arranhada internacionalmente. Para o turismo internacional voltar, vamos precisar fazer uma campanha de imagem positiva, mostrando que estamos em outro janeiro e que estamos em outra ‘pegada’”, ponderou. 

Atuação oficial

Em nota, a Amazonastur (Empresa Estadual de Turismo do Amazonas), órgão responsável por oficialmente gerir a Temporada de Cruzeiros no Estado desde 2003, informou que está aguardando a publicação de nova portaria interministerial para que seja autorizada a continuidade da programação para 2022. O órgão lembra que o governo estadual destaca a obrigatoriedade das recomendações dos órgãos de vigilância em saúde, no intuito de preservar a população. Reforça também que as estratégias de vacinação no Estado estão sendo fortalecidas com campanhas e medidas de busca ativa da população.

Segundo a Amazonastur, atualmente a portaria nº 658 de 5 de outubro de 2021 do governo federal autoriza apenas o transporte aquaviário de passageiros, brasileiros ou estrangeiros, exclusivamente na costa brasileira, o que não é o caso dos cruzeiros provenientes dos Estados Unidos e Caribe que adentram o estado. Em virtude disto, houve o cancelamento de cinco navios que trariam 9.334 visitantes ao estado em janeiro desde ano. 

“A Amazonastur continua atuando oficialmente junto ao Ministério da Saúde para viabilizar as operações dos seis navios que estão previstos para ancorar no Amazonas a partir de março 2022, conforme dados das operadoras de turismo. Juntos, eles somam um total de 7.301 visitantes (entre passageiros e tripulantes), com a previsão de movimentar US$ 602 mil (R$ 3.389.440,60) no Estado”, assinalou a nota. Vale notar que o montante é 67,48% inferior ao da temporada de 2019/2020, na medida em dólar. 

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio

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