12 de setembro de 2024

Custo da Construção Civil do Amazonas estanca em fevereiro 

Marco Dassori

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Os preços da construção civil do Amazonas estagnaram em fevereiro, após meses seguidos de reajustes acima da média nacional. O metro quadrado da atividade ficou apenas 0,02% mais caro diante de janeiro de 2024, passando de R$ 1.807,25 para R$ 1.807,60. O resultado configura um tombo ante o levantamento anterior (+0,79%), na menor alta desde o dado negativo de agosto de 2023 (-0,20%). Também foi o menor aumento do país, situando o Estado bem atrás das médias do Brasil (+0,15%) e da região Norte (+0,14%). Os dados são do levantamento mensal do Sinapi (Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil), do IBGE.

Assim como ocorrido em janeiro, apenas o subindicador relativo aos materiais de construção se moveu. Saiu de R$ 1.121,14 para R$ 1.121,49, em sintonia com a trajetória do número brasileiro. Lideranças do setor ressaltam que, embora a vazante já tenha ficado para a história, muitos canteiros de obras estão atrasados por falta de insumos. A cinco meses do mês da data base da categoria, os passivos médios das empresas locais com mão de obra (R$ 686,11) permaneceram rigorosamente estáveis, repetindo a performance anterior – e contrastando com o restante do país (+0,13% e R$ 723,19).

Com isso, o indicador acumulou uma alta de 0,81%, no bimestre, e uma expansão de 4,99%, no aglutinado dos últimos 12 meses, superando a média nacional (+0,34% e 2,50%, respectivamente) em ambos os casos. Diferente do ocorrido nos meses anteriores, a variação do custo médio da construção civil do Estado ficou bem atrás do IPCA, que também é medido pelo mesmo IBGE. O Sinapi mensal do Amazonas (+0,02%) foi 40 vezes menor do que a taxa da inflação oficial (+0,83%). O mesmo se deu no bimestre, com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo pontuando alta de 1,25%, mas não no acumulado dos 12 meses (+4,50%). 

Acima da média

Na análise de fevereiro, com a taxa abaixo da média brasileira (+0,15%), o Amazonas (+0,02%) desabou do terceiro para o 19º lugar do ranking nacional de variações mensais para os preços da construção. Ceará (+0,92%), Mato Grosso (+0,78%) e Tocantins (+0,72%) encabeçaram uma lista com set deflações e uma estabilidade. Bahia (-0,45%), Mato Grosso do Sul (-0,26%) e Santa Catarina (-0,10%) ficaram nas últimas posições. No acumulado dos últimos 12 meses, o desceu da primeira para a quarta colocação, em um rol com Roraima (+6,23%) e Minas Gerais (-1,26%) nos extremos.

Com a desaceleração mensal, o preço médio do metro quadrado do Amazonas (R$ 1.807,60) caiu da nona para a décima colocação no ranking nacional, mas ainda está acima da média brasileira (R$ 1.728,11). Mas, saltou da quinta para a terceira colocação dentro da região Norte, perdendo apenas para Acre (R$ 1.892,13) e Tocantins (R$ 1.836,18). Os maiores números do país estão em Santa Catarina (R$ 1.983,80), Rio de Janeiro (R$ 1.899,42) e Acre (R$ 1.892,13). Em sentido contrário, os dispêndios mais baixos se situaram em Sergipe (R$ 1.547,16), Pernambuco (R$ 1.570,30) e Alagoas (R$ 1.573,73).

O preço médio dos insumos no Estado (R$ 1.121,49) subiu da sexta para a quinta posição no país, situando-se entre as 16 unidades federativas acima da média brasileira (R$ 1.004,92). O rol é aberto pelo Acre (R$ 1.216,56) e encerrado pela Bahia (R$ 938,65). O oposto se deu na mão de obra, rubrica na qual o Amazonas (R$ 686,11) segue bem atrás do dado nacional (R$ 723,19), situando-se na 12ª colocação. Santa Catarina (R$ 896,45) e Sergipe (R$ 600,90) ficaram nos extremos da lista.

Texto divulgado pelo IBGE-AM aponta as diferenças do preço do metro quadrado do projeto. “Considerando a variação normal de uma casa popular de 46 metros quadrados, com pavimento, varanda, sala, dois quartos, circulação, banheiro e cozinha, no padrão de acabamento normal, o valor ficou em R$ 1.877,92. Já uma casa residencial, de 62 metros quadrados, com pavimento, varanda, sala, dois quartos, circulação, banheiro, cozinha, área de serviço, quarto e banheiro de empregada, ficou em R$ 2.079,20, no padrão normal de acabamento”, comparou o texto. 

O chefe de disseminação de informações do IBGE-AM, Luan da Silva Rezende, enfatiza que a estabilidade estatística de fevereiro contribuiu para uma “recuada” nos índices acumulados dos preços da atividade. Mas, ressalva que o panorama ainda é incerto para os preços das construtoras amazonenses. “A média dos últimos três meses indica alta no custo do metro quadrado. Mas, é prudente aguardar outros resultados para prever quadro futuro. Os preços de balcão são influenciados por diversos fatores de mercado”, ponderou.

Efeito seca

O presidente do Sinduscon-AM, Frank Souza, considera que a redução de velocidade do Sinapi em fevereiro reforça que o custo da mão de obra tende a permanecer estável, até o mês de reajuste da categoria. Ele aponta, por outro lado, para uma tendência de domesticação dos preços dos materiais de construção no mercado, após os impactos da crise da vazante nos dispêndios logísticos das empresas. “Com a volta da cheia dos rios, os custos relativos a fretes caíram e voltaram a um estado de normalidade. E o mercado também está menos consumidor”, sintetizou. 

Para o dirigente, caso não haja nenhuma “variação extra em relação ao mercado internacional” nos preços de aço, cimento e outros insumos, a tendência é de estabilidade até o terceiro trimestre – quando o Estado volta a viver uma seca, que se espera tão rigorosa quando a de 2023. “As empresas já sabedoras disso vão se precaver em relação a esses aumentos. E, se conseguirem estocar materiais de construção, vão fazer isso”, antecipou. 

Já o presidente da Ademi-AM, Henrique Medina, destaca que as empresas ainda sofrem os impactos da vazante histórica, já que somente os insumos embarcados em carretas e balsas – como aço e cimento – conseguiram chegar na capital amazonense, ainda que em quantidades menores. O mesmo não pode ser dito das encomendas das empresas que vinham dentro de contêineres embarcados em navios – como materiais de acabamento (louças, cerâmicas).

“Sofremos muito em 2023 e chegamos a pagar R$ 100 por um saco de cimento. Antes, o preço normal era R$ 42. Esse foi um produto que ainda conseguimos atenuar, pagando mais caro. Mas, outros produtos não conseguiram chegar em Manaus”, lamentou. “Nenhuma obra parou, mas tivemos alguns atrasos, por essa razão. Isso já é uma preocupação para 2024. Já começamos algumas tratativas com fornecedores, para que os nossos associados digam qual será sua necessidade para o ano, e essa indústria possa nos atender, independentemente de estiagem”, encerrou. 

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio

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