24 de novembro de 2024

Custo da construção civil fica acima da média nacional

O custo da construção civil do Amazonas acelerou novamente acima da média nacional, em janeiro. O preço do metro quadrado saltou de R$ 1.678,77 para R$ 1.696,73, na virada do ano, o que correspondeu a uma elevação de 1,07%. O índice de reajuste estadual do primeiro mês de 2023 praticamente igualou o de dezembro (+1,08%) e foi novamente o segundo mais alto em todo o país, deixando para trás a média nacional (+0,31%) e o IPCA do período (+0,53%). Os dados são da pesquisa mensal do Sinapi (Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil), do IBGE.

Assim como no mês anterior, a alta se concentrou unicamente no custo dos materiais, que pontuou 1,91% de acréscimo, taxa pouco abaixo da percebida em dezembro (+2,11%). Com isso, os dispêndios médios das construtoras amazonenses para esse fim aumentaram de R$ 1.053,22 para R$ 1.073,36. Em contraste, o custo da mão de obra (R$ 623,37) recuou 0,35% diante do valor contabilizado no mês precedente (R$ 625,55). Em novembro e dezembro, o passivo médio das construtoras amazonenses com seus trabalhadores já havia caído 1,67% e 0,62%.

Vale notar que os recuos nos custos médios das empresas com mão de obra ocorreram em paralelo com saldos negativos de empregos com carteira assinada. Os dados mais recentes do ‘Novo Caged’ mostram que o setor emendou seu segundo mês consecutivo de cortes e amargou a maior queda proporcional (-3,03%) entre os setores econômicos do Estado, ao extinguir 761 postos de trabalho, com as demissões (-1.813 vagas) superando novamente as contratações (+1.052). A extinção de postos de trabalho foi a regra em obras de infraestrutura (-303), serviços especializados para o setor (-286) e construção de edifícios (-172). 

Diferente do ocorrido com a média nacional, a taxa regional do Sinapi superou mais uma vez a inflação oficial, conforme o mesmo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pressionado pelos reajustes de alimentação e bebidas, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo subiu 0,53%, em alta mais fraca do que a de dezembro (+0,62%), dando prosseguimento ao repique inflacionário iniciado em outubro. A inflação oficial acumulada em 12 meses (+5,77%) também voltou a perder por uma larga margem para as variações estadual (+15%) e nacional (+10,45%) do custo da construção civil. 

Acima da média

Com o índice de reajuste mensal do custo do metro quadrado novamente acima da média brasileira, o Amazonas se manteve no segundo lugar do ranking nacional. Só perdeu para Minas Gerais (+1,99%), mas ficou logo à frente do Amapá (+1,04%). Na outra ponta, Distrito Federal, Roraima (ambos com -0,3%) e Espírito Santo (-0,27%) ficaram no rodapé de uma lista com dez deflações e um zero absoluto. Em 12 meses, o Estado (+15%) aparece na quarta colocação, em um rol liderado pelo Mato Grosso (+19,69%) e encerrado pela Bahia (+5,92%).

O custo por metro quadrado no Amazonas (R$ 1.696,73) já superou o valor da média nacional (R$ 1.678,77). Com os aumentos mensais consecutivos, o Estado já passou da 12ª para a 11ª posição, embora ainda seja apenas o quinto maior da região Norte. Os maiores valores estão em Santa Catarina (R$ 1.905,86), Rio de Janeiro (R$ 1.839,93) e Acre (R$ 1.802,17). No outro extremo, os dispêndios médios mais baixos se situaram em Sergipe (R$ 1.484,27), Alagoas (R$ 1.509,33) e Espírito Santo (R$ 1.534,67).

O preço médio dos insumos para a construção (R$ 1.073,36) levou o Estado a avançar da sétima para a sexta posição do ranking, superando mais uma vez a média nacional (R$ 1.000,94). Acre (R$ 1.172,84), Mato Grosso (R$ 1.107,70) e Tocantins (R$ 1.105,35) seguiram no topo, enquanto Alagoas (R$ 919,87), Espírito Santo (R$ 933,61) e Sergipe (R$ 936,49) confirmaram as últimas colocações. Com o recuo no custo da mão de obra do Amazonas (R$ 623,37) perdeu novamente para o dado brasileiro (R$ 678,05) e desceu do 14º para o 16º lugar, em uma lista com Santa Catarina (R$ 863,48) e Sergipe (R$ 547,78) nos extremos.

Cenários diferentes

O supervisor de disseminação de informações do IBGE-AM, Adjalma Nogueira Jaques, ressaltou à reportagem do Jornal do Commercio que o custo da construção no Amazonas continuou no mesmo ritmo em janeiro e lembrou que os reajustes têm ocorrido, em maior ou menor escala, desde fevereiro de 2020 –mês da chegada da pandemia ao Brasil. “A média dos últimos meses mantém os aumentos, indicando que o setor poderá prosseguir nessa tendência também nos próximos. Mas, os dados da pesquisa indicam que as vendas [de material de construção] não cresceram no ano passado, e isso pode levar os preços de balcão a uma estagnação em breve”, ponderou. 

O cenário é diferente na maior parte do país. Em texto postado na Agência de Notícias IBGE, o gerente da Sinapi, Augusto Oliveira, observou que a média brasileira apresentou comportamento inverso ao do Amazonas, ao registrar queda mensal para os insumos da construção (-0,03%), em valor muito abaixo do capturado em dezembro de 2022 (+0,07%) e janeiro do mesmo ano (+0,63%). O pesquisador acrescenta que o fator manteve o índice brasileiro em campo positivo foi justamente a parcela da mão de obra (+0,81%) –que foi impulsionada pelo reajuste no valor do salário-mínimo. 

“Um dos destaques nesse mês é a variação da parcela dos materiais, que apresentou o primeiro resultado negativo desde dezembro de 2019, quando foi de -0,13%. Neste mês, diversos Estados registraram taxas negativas no resultado agregado de insumos e mão-de-obra. Este quadro teve origem nas quedas captadas nos preços dos materiais, retratando a desaceleração dos índices em alguns Estados e, em outros, uma deflação”, analisou, acrescentando que a liderança de Minas Gerais no ranking de valores se deveu ao reajuste da categoria e que a região Norte registrou as maiores taxas do Sinapi, com altas disseminadas em cinco unidades federativas. 

Ágio e incertezas

Em entrevistas anteriores à reportagem do Jornal do Commercio, o presidente do Sinduscon-AM (Sindicato da Indústria da Construção do Estado do Amazonas), Frank Souza, estimou que o Sinapi entraria em equilíbrio também no Amazonas, dado que o mercado já “não tem mais clima” para aumentos de preços de insumos. Em nova entrevista, o dirigente disse que não há nenhum motivo preponderante para justificar o novo aumento médio do custo do metro quadrado, mas listou pelo menos três fatores que podem ajudar a explicar a persistência do cenário de progressão de preços para o Amazonas. 

“Os preços do aço e do cimento aumentaram e esses são produtos importantes. Há também o diferencial de fase das obras no Estado, que pode demandar materiais mais caros. Por último temos essa ‘taxa de seca’ cobrada pelos navios que transportam os materiais para cá, de até R$ 9.500 por contêiner”, listou. “Ainda há incertezas. Mas temos expectativas de uma taxa de juros mais baixa, para maior giro na economia e produtos mais baratos”, finalizou.

Marco Dassori

Twitter: @marco.dassori   Face: @jcommercio

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio

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