16 de setembro de 2024

Custo da construção desacelera no Estado, mas já é o segundo mais alto do país

O custo do metro quadrado da construção civil do Amazonas desacelerou em julho, mas já é o segundo mais alto do Brasil. O custo do metro quadrado passou de R$ 1.750,62 para R$ 1.754,01, ficando 0,19% mais caro do que no mês anterior. Foi uma variação menor do que as de junho (+0,62%) e maio (+0,66%). E, diferente do que vinha ocorrendo nos meses anteriores, o aumento veio abaixo da média nacional (+0,23%), além de reduzir a distância em relação ao IPCA (+0,12%). É o que revelam os dados mais recentes da pesquisa da Sinapi (Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil), do IBGE. 

Em sete meses, no entanto, os dispêndios já acumulam 4,48% de alta, para um crescimento de 1,85%, no Sinapi nacional, e de 2,99%, para a inflação oficial. Em 12 meses, os preços da construção civil do Amazonas já avançaram 11,15%: três vezes mais do que no restante do país (+3,52%) e mais que o dobro do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (+3,99%). Assim como no mês anterior, o indicador foi impactado exclusivamente pelos insumos (+0,30%) que passaram de R$ 1.116,59 para R$ 1.119,98. Em contrapartida, a média dos passivos com mão de obra (R$ 634,03) ficou rigorosamente estável. 

Para as construtoras, essa foi uma boa notícia, que se soma à redução da taxa Selic e à sinalização do Banco Central de dar continuidade ao ciclo de cortes da taxa básica de juros. O Sinduscon-AM (Sindicato da Indústria da Construção do Estado do Amazonas) destaca ainda outros fatores positivos para reequilibrar o jogo em favor dos negócios, como anúncio do novo PAC, as mudanças institucionais no Minha Casa Minha Vida, e a maior disposição do governo do Estado e do município em investir em habitações populares.

Abaixo da média

Com a taxa de expansão mensal abaixo da média brasileira, o Amazonas caiu do décimo para o 11º lugar do ranking nacional. Rio de Janeiro (+2,69%), Rio Grande do Norte (+1,22%) e Tocantins (+0,84%) dividiram o pódio inflacionário. Na outra ponta estão Bahia (-0,53%), Minas Gerais (-0,34%) e Distrito Federal (-0,25%), em meio a oito deflações e pelo menos uma estabilidade. No acumulado do ano, continua no primeiro lugar, com o Mato Grosso do Sul (-0,67%) no extremo oposto. O Estado também encabeça o ranking da variação aglutinada de 12 meses, com a Bahia (-0,27%) no extremo oposto.

Os aumentos mensais consecutivos mantiveram o custo por metro quadrado no Amazonas (R$ 1.754,01) acima da média brasileira (R$ 1.710,37). O Estado permanece na 11ª posição do ranking brasileiro, sendo o quinto com valores mais caros em toda a região Norte. Os maiores números estão em Santa Catarina (R$ 1.971,92), Rio de Janeiro (R$ 1.890,37) e Acre (R$ 1.866,25). Em sentido contrário, os dispêndios médios mais baixos se situaram em Sergipe (R$ 1.529,30), Alagoas (R$ 1.530,28) e Piauí (R$ 1.558,60).

O preço médio dos insumos (R$ 1.119,98) fez o Estado galgar da quarta para a segunda posição, batendo com folga a média nacional (R$ 1.001,78). Perdeu apenas para o Acre (R$ 1.186,17), em um rol encerrado por Sergipe (R$ 930,07). O oposto se dá na mão de obra. Com a estagnação nos valores, o Amazonas (R$ 634,03) ainda perde de longe para o dado brasileiro (R$ 708,59), e caiu da 20ª para a 21ª posição. Santa Catarina (R$ 893,60) e Alagoas (R$ 590,74) ficaram nos extremos da lista.

O IBGE ressalta também as diferenças significativas de valor por metro quadrado no Amazonas, segundo o tipo de construção. O valor médio mais baixo está em projetos do tipo “cesta básica”, com materiais mínimos, sala, circulação, banheiro e cozinha, onde o metro quadrado não passa de R$ 517,64. Na outra ponta estão as unidades residenciais em prédios de pilotis e 12 pavimentos, com sala, dois quartos, circulação, banheiro, cozinha, área de serviços e quarto de empregada (R$ 2.307,58). 

“Cenário de estabilidade”

O supervisor de disseminação de informações do IBGE-AM, Adjalma Nogueira Jaques, reforça que os dados do Sinapi possibilitam possível aferir os custos de construção para diversos tipos de projetos, desde o mais popular até “aqueles de alto nível”. O pesquisador enfatiza também que, embora permaneça com reajustes sequenciados a cada mês, a variação média do custo da construção ficou praticamente estável e sugere uom “cenário de estabilidade”.  “Os resultados dos últimos dois meses podem indicar certa acomodação nos preços de balcão, uma vez que o volume de vendas do comércio está praticamente estável”, ponderou.

Em texto postado na Agência de Notícias IBGE, o gerente da Sinapi, Augusto Oliveira, salienta que, embora tenha pressionado o Sinapi brasileiro, o valor da mão de obra encolheu 0,83 ponto percentual (-1,36%), entre junho e julho. O resultado, conforme o pesquisador, pode ser explicado pelo “menor número de acordos coletivos”. Já a parcela dos materiais (+0,01%) ficou muito próxima da estabilidade em todo o país. “Trata-se de um momento de estabilidade no mercado, depois de um grande período de alta por conta da pandemia da Covid-19”, analisou.

Em entrevistas recentes à reportagem do Jornal do Commercio, o presidente do Sinduscon-AM, Frank Souza, disse que o Estado conta com uma das mãos de obra mais baratas do país, “perdendo apenas para o Pará”. Já os aumentos seguidos dos preços dos insumos se dariam pelas desvantagens logísticas do Amazonas e pelo custo do combustível. Isso ajudaria a explicar também a presença constante do Acre no topo do ranking brasileiro, acompanhado por outras unidades federativas da região Norte. Mas, o dirigente ressalvou também que o cenário para a construção civil do Amazonas segue favorável, “para um mercado com déficit habitacional alto”.

Em nova entrevista, Frank Souza concordou que o preço do metro quadrado chegou ao patamar da estabilidade. “Acredito que há um equilíbrio gradual de valores. A inflação tem aumentado, mas agora temos um alento com a queda da taxa básica de juros. Acho que os números estão mais palatáveis. No final de julho, tivemos um aumento de 4% no custo da mão de obra [pela convenção coletiva de trabalho]. Isso diluído vai dar um percentual pequeno em relação ao custo final do metro quadrado. Não há nada preocupante no cenário, apesar de os números estarem acima da inflação”, finalizou.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio

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