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De Manaquiri em busca do reconhecimento

Um dos segmentos que movimenta o turismo de qualquer cidade é o do artesanato. Em Manaquiri o artesanato ainda é tímido, mas artesãos já buscam criar uma associação para reuni-los e melhor poderem divulgar e apresentar seus trabalhos.

Raniere Buriti da Silva, de Boa Vista/RR, e Jamilya Diniz da Silva, de Manaus, moram no Manaquiri há quatro anos e juntos, literalmente, fazem arte. Há três anos ele produz peças em madeira e ela finaliza o trabalho desenhando, pirografando e pintando.

“Eu aprendi a trabalhar madeiras com meu pai, que era marceneiro. Ele me ensinou a usar o torno e não parei mais. A Jamilya faz pirografia desde os doze anos”, contou Raniere.

Das mãos dos dois artesãos saem pequenas peças de arte: tábuas de cortar carne, farinheiras, potes para temperos, petisqueiras, entre outras.

“O Raniere faz as peças; eu desenho, pirógrafo e pinto; e ele finaliza passando óleo mineral, que não é tóxico, diferente do verniz e do selador. Por isso as tábuas podem ser utilizadas para cortar alimentos”, explicou Jamilya.

“Eu faço algumas tábuas sem a arte da Jamilya, para serem usadas na cozinha, já as com desenho, as pessoas ficam com pena de estragar o trabalho dela e acabam usando como peças de decoração”, riu.

Raniere utiliza sobras de madeira de lei, como marupá e angelim, para fazer as peças que depois são trazidas a Manaus, por Jamilya, e deixadas na casa de uma tia, que as vende.

“Eu sou guarda municipal e a Jamilya faz comida para vender. Ainda não dá para viver da arte, mas estamos em busca disso. Por enquanto o dinheiro das peças em madeira é um reforço no orçamento”, afirmou.

Informações: @raniere_jamilya.artes

Sonho de ser famoso

Francisco Joarles da Silva Martins trabalhava como segurança na Semed (Secretaria Municipal de Educação), em Manaus, e via os funcionários do alto escalão usando canetas de madeira.

“Eu as achava bonitas e como não podia comprar uma, pesquisei no YouTube como fazê-las. Aprendi, fiz uma, depois outras pirografando o nome do dono nelas. Logo todo mundo queria ter uma”, lembrou.

“Nas matas do Manaquiri descobri uma planta cujo caule pode ser transformado no corpo da caneta. Duro, basta remover a bucha do seu interior e fica no jeito”, revelou.         

Das canetas, Joarles passou a pirografar quadros com imagens de indígenas usando como telas, fundos de gavetas descartadas pela Semed.

“Um professor viu um dos quadros, comprou, e outros funcionários da Semed passaram a comprar meus trabalhos”, completou.

O interessante de Joarles é que sua arte é toda com pirografia, e o pirógrafo foi feito por ele depois de também pesquisar no YouTube. O artista que surgia se especializou na pirografia, mas sua ânsia em querer mais o levou a criar outros objetos artísticos.

“Um dia alguém me perguntou se eu só sabia pirografar. Pensei: eu posso ir além e, há dois meses, comecei a criar objetos, como a formiga, símbolo do Manaquiri, feita com sobras de uma canoa velha; bordunas, lanças; sem deixar de produzir os quadros pirografados”, informou.

“Meu sonho é ser reconhecido como artista plástico, fazer exposições, ver minhas peças sendo vendidas para o Brasil e o exterior, pois todas retratam a Amazônia, as nossas heranças e o nosso passado indígena”, falou.  

Informações: @joarlesleitte

Só no olhar

Fernando de Pontes Tartari é da cidade paulista de Palmeira d’Oeste. Veio para Manaus há 20 anos e há seis mora em Manaquiri, levado pela esposa. Começou na arte ainda adolescente, como grafiteiro. Hoje é um mestre da modelagem em várias matérias-primas.

“Vim aventurar. Passei por Cuiabá, Porto Velho, mas queria conhecer a Amazônia, então segui até Manaus. Aqui, meu dinheiro acabou e, por cinco meses, morei na rua, dormindo nos bancos das praças e pedindo dinheiro pra comprar comida, até que o dono de uma loja me ajudou. Disse que se eu fizesse artesanato, ganharia dinheiro. Com a ajuda dele, comecei a produzir oncinhas de resina. E elas venderam muito”, recordou.

As oncinhas de Fernando fizeram tanto sucesso que logo chegaram ao conhecimento do pessoal do zoológico do Cigs. Desde então elas estão no portfólio do zoológico e o CMA (Comando Militar da Amazônia), BIS (Batalhão de Infantaria de Selva) e PE (Polícia do Exército) as encomendam regularmente para dar de brinde aos visitantes desses lugares.

Das pequenas onças Fernando desenvolveu técnicas para trabalhar com cimento armado, massa plástica, argila, e gesso. Também faz esculturas em resina e madeiras.

“Hoje faço grandes peças no formato de animais, chafariz, entre outras, com cimento armado e resina. Sou um artista nato. Aprendo técnicas só olhando os outros fazerem”, garantiu.

“Estou construindo meu ateliê, em Manaquiri, mas continuo realizando meus trabalhos, em Manaus. Desde que comecei, com as oncinhas, não mais parei de fazer arte. Me descobri como artista”, comemorou.        

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Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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