16 de setembro de 2024

Procura por seguro-desemprego cresce no nível do fim da segunda onda

A demanda por seguro-desemprego no Amazonas registrou repique na virada do ano e foi a maior desde o final da segunda onda de Covid-19. A quantidade de solicitações disparou 20,56%, entre dezembro de 2021 (5.232) e janeiro de 2022 (6.308). Em relação ao mesmo mês de 2020 (4.570), decolou 38,03%. Em ambos os casos, o Estado seguiu a média nacional, mas com altas mais acentuadas. O número de amazonenses buscando o benefício foi o mais elevado desde março do ano passado (6.961), período ainda marcado pelas sequelas da segunda onda e das medidas de isolamento social. 

A maioria das requisições de seguro-desemprego apresentadas no mês passado vinha de amazonenses do sexo masculino (65,22% do total e 4.114 registros), com 30 a 39 anos de idade (34,70% e 2.189) e contando com ensino médio completo (75,24% e 4.746). Predominavam também os trabalhadores que ganhavam um salário mínimo e meio (39,23% e 2.475), atuando no setor de serviços (34,16% e 2.155). Em síntese, é isso o que apontam os mais recentes dados do Ministério do Trabalho.

A performance do Estado acompanhou a tendência da média brasileira. O Brasil registrou 529.826 solicitações de seguro-desemprego, em janeiro de 2022, tendo sofrido alta de 10,04% ante dezembro de 2021 (481.502) e elevação de 10,37% em relação ao valor de 12 meses atrás (480.033). O montante total pago no Amazonas superou os R$ 20,57 bilhões e o valor médio das parcelas foi de R$ 1.448,28. Vale notar que a explosão local de demanda pelo benefício, detectada na virada do ano, se deu após um aumento expressivo nos cortes de empregos com carteira assinada, em dezembro.

Os números do “Novo Caged”, divulgados pelo Ministério do Trabalho, mostram que o saldo de postos de trabalho formais afundou no Amazonas, no último mês de 2021, quebrando uma série de nove altas seguidas. O Estado eliminou 3.148 vagas celetistas no mês. Com isso, os desligamentos (-16.567) bateram as admissões (+13.419), reduzindo o estoque em 1,08%. Foi o pior resultado desde maio de 2020 (-1,27% e -4.976) e correspondeu a mais do que o dobro dos cortes registrados em dezembro daquele ano (-0,37% e -1.549). As demissões foram puxadas por Manaus, e especialmente pelo setor de serviços.

Perfil dos trabalhadores

Em sintonia, os trabalhadores dos serviços (2.155) aumentaram sua procura pelo seguro-desemprego em 28,27%, ante dezembro. Em um mês já sem datas comemorativas e 13º salário, mas também marcado por passivos sazonais de IPVA, IPTU e de material escolar, o comércio (1.677) compareceu com alta ainda maior (+37,01%). A indústria (1.672) manteve praticamente o mesmo número de solicitações do mês anterior. Foi seguida por construção (750) e agropecuária (54), que também sofreram acréscimo em relação a dezembro (+14,15% e +14,89%, respectivamente).

A expansão se deu em todas as idades. Embora a faixa de 30 a 39 anos (2.189) tenha sido majoritária no bolo, também foi a que registrou menor crescimento em relação ao mês anterior (+17,31%). O mesmo se deu entre os trabalhadores de 40 a 49 anos (+11,40%), que responderam por 1.339 registros. As maiores taxas ficaram nos extremos, especialmente nas faixas de 18 a 24 anos (+30,87%) e dos 50 aos 64 anos de idade (+31,21%).

A demanda foi absoluta também em todos os níveis de educação, embora nem em todas as de renda. Os trabalhadores com superior completo (603), fundamental completo (300) e médio completo (4.746) foram os que registraram maior aumento de demanda em relação a dezembro (+39,26%, +28,20% e +19,97%, respectivamente). No corte por rendimentos, a procura disparou nas faixas de até 1 salário mínimo (99,68%), entre 5,01 e 10 mínimos (+72,92%) e de 4,01 a 5 mínimos (+87,5%).

Mercado interno

No entendimento do consultor empresarial, professor universitário e conselheiro do Corecon-AM (Conselho Regional de Economia do Estado do Amazonas), Francisco de Assis Mourão Júnior, os números do seguro-desemprego refletem, antes de tudo, o peso da indústria incentivada no modelo econômico do Amazonas, assim como a sazonalidade do setor e sua dependência das oscilações do mercado interno, em um ambiente econômico ainda adverso.

“Nossos produtos são para o mercado interno e tem seu pico de venda no último trimestre, especialmente em função do 13º trimestre. Já o começo de ano é muito mais fraco em pedidos. Apesar dos dados negativos, as demissões ocorreram principalmente em empregos temporários. Vamos ver como vai ficar a expectativa de produção do PIM, que comanda a economia do Amazonas, com esse aumento da taxa de juros e dólar ainda alto, apesar de estabilizado”, ponderou.

O economista avalia ainda que o perfil majoritário elencado pelos dados mostra uma preferência do mercado por uma “mão de obra barata” e de “baixa escolaridade”, “com base no salário mínimo”. Também confirma que o gargalo de empregabilidade tende a ser crescente, na medida em que a idade do trabalhador avança. “Podemos colocar o conceito de administração, pela seleção dos mais jovens e com mais capacidade. Esse turnover se dá ainda pelo avanço tecnológico, que também pode estar influenciando”, ponderou.

“Chão de fábrica”

Em entrevistas anteriores à reportagem do Jornal do Commercio, o diretor da ABRH-AM (Associação Brasileira de Recursos Humanos – Seção Amazonas), Francisco de Assis Mendes, avaliou que comércio e serviços tendem a priorizar mão de obra de “início de carreira” e com faixas salariais e formações educacionais mais baixas. As oscilações de mercado e dependência de datas sazonais levariam ambos a optar pela oferta de vagas temporárias e terceirizadas, dificultando a absorção de ex-trabalhadores do Distrito Industrial –que costumam ir para o empreendedorismo ou o mercado informal.

Segundo Francisco de Assis Mendes, o modelo de mão de obra temporária e de terceirização de atividades também seria uma escolha da indústria, em função da pandemia e das incertezas econômicas. No entendimento do dirigente, o setor também deve continuar focando nas contrações para o “chão de fábrica”, onde é predominante o perfil de idade mais jovem e de formação com ensino médio, por se tratar de atividade mais operacional. 

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio

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