“É possível ter um país Lixo Zero”

Em: 4 de junho de 2024

A cada ano que passa o problema do lixo parece só aumentar, em Manaus. Lixo jogado pelas ruas, lixeiras viciadas, igarapés poluídos com ex-resíduos sólidos são a comprovação de que é pouco o que se está fazendo para solucionar a questão. Só coletar lixo nos bairros através dos caminhões ‘lixeiros’ não é suficiente se não for promovida a educação maciça da população mal educada.

De acordo com a Semulsp (Secretaria Municipal de Limpeza Urbana) o programa ‘Coleta Seletiva Porta a Porta’, lançado no dia 1º de abril, vai atender, semanalmente, bairros previamente informados. No dia programado, os caminhões da Semulsp vão passar pelas residências e recolher os resíduos. O objetivo é ampliar o recolhimento desses resíduos e atingir a meta de 25 mil toneladas de materiais ao longo do ano.  

Para o biólogo Daniel Santos, um dos fundadores da Manaus Lixo Zero e embaixador do ILZB (Instituto Lixo Zero Brasil), somente através da educação é que, de fato, as mudanças acontecem. “A escola é um exemplo de que é possível ter um bairro e até um país Lixo Zero, se houver uma mobilização e trabalho educacional”, destacou ele em entrevista ao Jornal do Commercio.

Jornal do Commercio: Da Semana do Meio Ambiente, no ano passado, até este ano, o que melhorou em termos de coleta seletiva, em Manaus?

Daniel Santos: A coleta seletiva vem caminhando a passos de tartaruga. Posso afirmar que não aconteceu nada de relevante nesse período de um ano. São os mesmos pontos de entrega voluntária, muita das vezes já danificados, que precisam melhorar sua estrutura e funcionar realmente como um local de destinação correta de resíduos recicláveis. 

JC: Os PEVs (Pontos de Entrega Voluntária) parece que ficaram apenas na propaganda inicial. Sabe dizer se foram criados novos pontos?

DS: A meta inicial do acordo era a criação de 40 PEVs e atingiram o que foi acordado e até passando um pouco, pois alguns supermercados já possuem a política de oferecer o PEV em sua política ambiental. Mas ainda é pouco. 

JC: O que você diria para uma pessoa que deseja iniciar coleta seletiva em sua casa?

DS: Que deve começar gradualmente, separando a princípio, os plásticos, depois os papeis e papelões, depois os metais, os vidros e quando perceber já estará fazendo a coleta de todos os recicláveis. Depois pode ir para os orgânicos e até fazer a própria compostagem em sua residência, seja uma casa ou apartamento. Fazendo isso, essa pessoa irá verificar que só sobrou a menor parte, os rejeitos, que não podem ser reciclados, nem compostados. Estes devem ser encaminhados à coleta tradicional.

JC: Como saber onde depositar os resíduos sólidos depois de utilizados? Tem um número da prefeitura ou de alguma ONG que os recolha?

DS: Devem ser encaminhados para os PEVs ou entregues a uma associação ou cooperativa de catadores de materiais recicláveis. Essas organizações podem ser encontradas no site www.manauslixozero.com.br . Já a prefeitura, através da secretaria de Limpeza Pública, dispõe de um serviço que é a coleta agendada para grandes objetos. O serviço é gratuito e a pessoa pode entrar em contato pelos WhatsApp (92) 9 8415-9563, ou 9 8459-5618, entre 8h e 16h, durante a semana, e solicitar a retirada dos objetos, em sua casa. Estes serão encaminhados para a reciclagem. 

JC: Onde vender latinhas, plásticos, papeis, e outros? Quais empresas, em Manaus, compram esses resíduos?

DS: Manaus possui algumas indústrias que utilizam esses materiais como matéria-prima e o correto é que, dentro da Política Nacional de Resíduos Sólidos, possamos estimular a entrega desses resíduos para as associações e cooperativas que eles sabem, com excelência, fazer toda a triagem e a comercialização com as indústrias. Essas organizações, como falei anteriormente, podem ser encontradas no site www.manauslixozero.com.br

JC: Quanto por cento dos resíduos sólidos coletados em Manaus, pela prefeitura, é reciclado?

DS: Pelos dados que temos, a taxa de reciclagem estacionou, há alguns anos, na casa dos 2%. Infelizmente não existe uma lei que possa definir que, a cada ano, essa porcentagem deva ser aumentada pela prefeitura até chegar a excelência e à correta gestão dos resíduos urbanos de Manaus.

JC: Nos seus cálculos, quanto por cento dos resíduos sólidos atirados nas ruas de Manaus, pela população, se transformam em lixo? O que deveria ser feito para mudar a mentalidade das pessoas que jogam resíduos sólidos nas ruas e nos igarapés? DS: Com certeza, 100% dos resíduos descartados incorretamente na cidade de Manaus viram lixo. Somente um grande programa de educação ambiental formal e não formal, um grande projeto de comunicação e marketing e atividades de sensibilização nos bairros de forma continuada, seriam a forma de melhorar as atitudes da população manauara.

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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