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Economia cresce, mas vem turbulência

O PIB do Amazonas somou R$ 40,38 bilhões no primeiro trimestre. Passadas as incertezas da primeira fase da reforma Tributária e já deixando a crise da vazante para trás, o Produto Interno Bruto estadual avançou 1,9% sobre o mesmo período de 2023, já descontada a inflação. Ainda assim, a soma de bens e serviços produzidos pela economia amazonense tombou 4,70% frente ao trimestre anterior, na maior desaceleração neste tipo de comparação, nos últimos três anos. Em ambos os casos, o Estado ficou atrás da média nacional, que cresceu 2,5% e 0,8%, respectivamente.

Diferente do ocorrido no conjunto do país, o PIB amazonense foi movido pela indústria, com destaque para as indústrias extrativas. A segunda posição foi ocupada pela arrecadação tributária, que superou os desempenhos dos serviços, comércio e agropecuária. É o que revela estudo da Sedecti (Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação) realizado a partir de dados do IBGE. Economistas ouvidos pela reportagem do Jornal do Commercio avaliam que os próximos trimestres serão mais difíceis, em razão da conjuntura macroeconômica, das expectativas em torno da regulamentação da reforma Tributária e das perspectivas de uma nova vazante histórica. 

Em texto distribuído pela assessoria de imprensa da Sedecti, o secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação, Serafim Corrêa, comemorou o crescimento anual do PIB, de 1,9%. “Esse é um número muito positivo, puxado pela indústria, que teve um crescimento significativo. Apesar de todas as dificuldades do ano passado, o Amazonas teve resultados positivos no primeiro trimestre”, declarou. 

Indagado pela reportagem do Jornal do Commercio, o secretário estadual atribuiu o recuo da economia amazonense na virada do ano aos “efeitos da forte estiagem” do ano passado, mas se mostrou otimista para os próximos meses. “Esse fato foi determinante e refletiu no PIB por consequência. Mas, este segundo trimestre será melhor que o primeiro, por conta do aquecimento da economia com reflexos no PIM”, frisou.

Indústria na frente

Sem descontar a inflação, o PIB do Amazonas subiu 1,95% ante o trimestre anterior e cresceu 5,95% sobre os três primeiros meses do ano passado. A indústria encostou nos R$ 13,25 bilhões, respondendo por 32,81% do Produto Interno Bruto estadual, queda de 2,19% e alta de 7,22%, na ordem. Embora tenha correspondido a 69,04% dos resultados, a indústria de transformação (R$ 9,15 bilhões) avançou menos (+5,58%), do que a indústria extrativa (+19,49% e R$ 1,10 bilhão), a construção (+9,46% e R$ 1,31 bilhão) e os SIUP/serviços industriais de utilidade pública (+7,48% e R$ 1,69 bilhão).

“Considero que esse foi um período de estabilização, haja vista os resultados atípicos observados nos meses anteriores. No cômputo geral, entretanto, os números continuam positivos e sinalizam que a tendência esperada para os próximos meses é de leve crescimento para o PIM”, avaliou o presidente da Fieam, Antonio Silva, em entrevista recente à reportagem do Jornal do Commercio.

Responsável pela maior parte do PIB amazonense (46,69%), os serviços contabilizaram R$ 18,85 bilhões, de janeiro a março deste ano. O resultado foi 3,40% mais fraco do que o dos três meses anteriores, mas 5,90% superior ao de igual intervalo do exercício anterior, em preços correntes. Os destaques, nesta comparação, vieram de artes, cultura, esporte e recreação (+7,62%); educação e saúde privadas (+7,49%); transportes (+7,06%); alojamento e alimentação (+6,62%); e atividades financeiras (+6,62%). O comércio (R$ 3,69 bilhões), que é contabilizado pelo IBGE como uma fração dos serviços, avançou 5,83%.

“As vendas têm crescido e o endividamento das famílias tem caído, o que é promissor e alvissareiro. Mas, precisamos de muito mais. Estamos recomendando aos empresários que não deixem chegar ao fosso da estiagem. Vamos ter de nos programar e planejar, e comprar com antecedência, evitando a descapitalização e a inadimplência [com tributos]”, destacou anteriormente o presidente em exercício da Fecomercio-AM, Aderson Frota, em entrevistas recentes à reportagem do Jornal do Commercio.

Em um período já marcado pela subida mais lenta dos rios, a minoritária agropecuária correspondeu a 3,73% do PIB estadual, ao somar R$ 1,51 bilhão. Foi o setor com a maior desaceleração na virada trimestral (-6,42%) e o menor aumento anual (+2,59%). Foi sustentada pela pecuária (+9%) e agricultura (+2,42%), em detrimento da produção florestal e pesca (-0,55%). Em contraste, a rubrica de “imposto” (R$ 7,58 bilhões e R$ 22,21 bilhões) voltou a subir mais que quase todos os setores econômicos na comparação com o mesmo trimestre de 2023 (+4,42%), embora também tenha retrocedido frente ao acumulado de outubro a dezembro do ano passado (-4,75%).

“Luz amarela”

A ex-vice-presidente do Corecon-AM e professora universitária, Michele Lins Aracaty e Silva, diz que os números seguiram tendência esperada pelos analistas, que previam “resultado modesto”, em decorrência das incertezas do cenário macroeconômico e da vazante histórica. “O baixo desempenho da indústria de transformação acende uma luz amarela, alertando para a necessidade de ajustes urgentes. Dada as previsões e a atual conjuntura, esperamos para o segundo semestre um crescimento modesto, em face das previsões de uma seca semelhante ou mais intensa do que a de 2023”, resumiu.

O atual vice-presidente do Corecon-AM, e economista com especialização em Gestão Empresarial, José Altamir Cordeiro, considera que os números do PIB do Amazonas confirmam que a economia brasileira não está conseguindo crescimento sustentado. Para o economista, o desempenho do segundo trimestre ainda poderá manter os números positivos, mas já com sinais de queda em algumas atividades econômicas.

“Tivemos subsetores da indústria com desempenho muito positivo, como o de ar condicionado, mas outros não. Preocupa o efeito que uma estiagem mais forte pode causar na produção do PIM e do setor primário. Isso pode refletir nos custos de produção, devido ao câmbio. Além disso, o governo brasileiro precisa mudar sua forma de comunicação com o mercado e melhorar o clima dos investidores em relação à política fiscal e monetária. O PIM será bastante afetado, se a inflação voltar”, alertou. 

O ex-presidente do Corecon-AM, consultor empresarial e professor universitário, Francisco de Assis Mourão Junior, considerou que os números não trazem surpresa. Ao falar de perspectivas, o economista chamou a atenção para as incertezas em torno da regulamentação da reforma Tributária, mas destacou que a inibição do consumo prejudica mais no curto prazo, já que o PIM produz para o mercado doméstico. 

“A economia brasileira continua com juros altos, e temos uma disparada do dólar, que são fatores que vão prejudicar a Zona Franca e os reflexos estão aqui. Vamos ver como vai ficar a Selic e o comportamento da moeda americana, já que importamos muitos insumos. Além disso, a estiagem está chegando e não sabemos como vai ficar a produção do PIM. Muitas empresas já vêm com seus estoques altos, prevendo dificuldades logísticas. Teríamos que esperar o cenário macroeconômico, para ver o dimensionamento do próximo PIB”, arrematou. 

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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