Uma das gratas surpresas para a indústria incentivada de Manaus em 2022 foi o fortalecimento do processo de recuperação do emprego. Pelo segundo ano seguido, o PIM ultrapassou a marca dos 100 mil postos de trabalho, conforme dados da Suframa. Lideranças do PIM comemoraram os números e reforçaram a importância da qualificação da mão de obra para manter o ritmo de admissões. Sindicalistas laborais avaliam, por outro lado, que o aumento da oferta veio acompanhado de maior precariedade no trabalho.
Os Indicadores de Desempenho do Polo Industrial de Manaus revelam que a média mensal de mão de obra nos 11 meses iniciais de 2022 foi de 109.807 trabalhadores, entre efetivos, temporários e terceirizados, 3,72% a mais que no “ano cheio” de 2021 (105.867). É o melhor resultado desde 2015 (105.015) –que foi ano de PIB negativo. Os maiores índices de crescimento vieram dos segmentos de “produtos diversos” (+37,50%), relojoeiro (+26,21%) e mineral não metálico (+13,60%). Somente os polos ótico (-22,37%), têxtil (-8,44%), de couros e similares (-7,78%) e mecânico (-6,91%) eliminaram vagas.
Levando em conta só a mão de obra efetiva, o saldo até novembro se manteve no azul, sendo criadas 3.905 vagas. Foi o quinto mês consecutivo em que as contratações (31.683) prevaleceram sobre as demissões (27.778), nas linhas de produção de Manaus. O desempenho foi bem melhor do que o atingido em 2020 (+3.817), primeiro ano da pandemia. Mas, ficou devendo na comparação com a marca de 2021 (+7.440), marcado pela vacinação em massa e flexibilização nas normas de distanciamento social. Vale notar que o primeiro semestre foi marcado por meses seguidos de indicadores negativos, em meio à crise do IPI, e ao choque de oferta de commodities causado pela guerra na Ucrânia.
Os números de empregos no PIM contabilizados pelos Indicadores da Suframa também se mostraram ascendentes em quase todas as faixas salariais. As maiores taxas de expansão vieram dos grupos de funcionários com rendimentos mensais entre 10 e 15 salários mínimos (1.706), e de 4 a 6 mínimos (6.724), com altas respectivas de 10,49% e 8,91%, em relação a 2021. A exceção veio da base da pirâmide salarial, que ainda corresponde à maioria do contingente do Distrito. A parcela de trabalhadores que ganham menos de 1,5 mínimo (30.691) recuou 0,87% na mesma comparação.
“Novas possibilidades”
O presidente da Fieam (Federação das Indústrias do Estado do Amazonas), Antonio Silva, avalia que o emprego é um indicador que serve para demonstrar a solidez do Polo Industrial de Manaus. O dirigente assinala que, mesmo diante de todas as dificuldades enfrentadas pelo segmento, as indústrias apresentaram números positivos, no que diz respeito à geração de novos postos de trabalho e investimentos. Mas, ressalva que ainda há muito a ser feito para tornar perene um crescimento que ainda se mostra apenas conjuntural.
“A modernização industrial implica em consequente qualificação da mão de obra, e esse é o principal desafio que deveremos enfrentar nos próximos anos. Além disso, precisamos diversificar o rol de indústrias em operação, a fim de ampliarmos o leque de postos disponíveis. Embora a automação supra determinadas atividades, abre novas possibilidades anteriormente impossíveis. E o Sistema Indústria do Amazonas tem trabalhado no intuito de atender essas novas demandas”, afiançou.
Na mesma linha, o presidente da Aficam (Associação dos Fabricantes de Insumos e Componentes do Amazonas), Roberto Moreno, destacou que o aumento progressivo nos empregos do PIM confirma o que ele sempre tem procurado colocar nos comentários que faz à imprensa: que a economia brasileira continua girando e se corrigindo dos desvios e dos problemas enfrentados nos últimos anos –especialmente após a pandemia.
“São entraves que ainda deixam resquícios, e que são conhecidos de todos, como a Covid-19 e seus impactos logísticos mundiais, que destruíram as cadeias produtivas, levando a economia a um verdadeiro caos. Mas, temos sido bem sucedidos nessa recuperação, e só precisamos ter espaço para trabalhar, sem insegurança jurídica, sem mudar as regras do jogo. Dessa forma, vamos em frente positivamente”, asseverou.
Na análise do vice-presidente da ABRH-AM (Associação Brasileira de Recursos Humanos – seção Amazonas), Francisco de Assis Mendes, o mercado de trabalho do PIM está em franca expansão e com perspectivas futuras positivas. O dirigente estima que há uma tendência de aumento de oferta de vagas no setor nos próximos seis meses, mas ressalva que esse movimento de ascensão pode ser abortado por mudanças no Congresso.
“Vejo 2023 como um período de forte recuperação econômica. Penso que caminharemos neste primeiro semestre para um aumento no volume de contratações, face ao aquecimento dos segmentos de duas rodas e de bens de informática. Para o segundo semestre, dependeremos dos impactos da proposta de reforma Tributária –que pode mexer com nossos incentivos fiscais –e da minirreforma Trabalhista. Há também grandes desafios em relação aos movimentos sindicais, com pressão para redução de jornada de trabalho e aumentos reais acima da inflação”, ponderou.
“Tipo um apartheid”
O presidente do Sindplast-AM (Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Material Plásticos de Manaus e do Amazonas), Francisco Brito, lembra que, desde a reforma Trabalhista, as empresas pararam de informar às entidades laborais a quantidade de trabalhadores em seus quadros. O dirigente estima que o subsetor conte atualmente com 10.600 trabalhadores efetivos e 3.000 terceirizados, sendo que algumas empresas chegam a contar com até 80% de seus contingentes funcionais. E com condições de trabalho piores.
“O emprego aumentou, sim. Mas, aquele trabalhador terceirizado continua precarizado. A gente vê que é tipo um apartheid: o efetivo tem a proteção da convenção coletiva e direitos garantidos, enquanto o terceirizado não tem e ganha menos. Nosso piso é de R$ 1.735, enquanto ele vai receber salário mínimo e sem plano de saúde, cesta básica, etc. Esperamos que, com o novo governo, a gente tenha um projeto de lei permitindo que o terceirizado seja representado pelo sindicato da categoria, para ele ter os mesmos direitos. Estamos bem otimistas que essa situação melhore”, avaliou.
O presidente do Sindmetal-AM (Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas do Amazonas) e presidente da CUT-AM (Central Única dos Trabalhadores do Amazonas), Valdemir Santana, concorda. Ele informa que o PIM conta atualmente com 90 mil trabalhadores efetivos, 7.000 temporários e 22 mil terceirizados, e avalia que estes trabalham em “regime de escravidão”. No entendimento do sindicalista, as condições de trabalho pioraram nos últimos anos, assim como a alimentação e o transporte.
“Em 2010, o PIM faturou pouco mais de R$ 70 bilhões, mas tinha 142 mil pessoas trabalhando. Doze anos depois, o faturamento dobrou, mas o número de trabalhadores é menor, assim como seu poder de compra. Mas, o pior é que não temos redução de carga horária há 35 anos, e isso contribui para estarmos com muitos companheiros afastados por doenças ocupacionais. Se isso fosse feito, poderíamos melhorar a saúde do trabalhador e gerar mais empregos. Já falei com o ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, sobre essa questão e devemos ter novas reuniões a respeito, nos próximos dias”, encerrou.