19 de setembro de 2024

Empregos em leve ascensão

O saldo de empregos com carteira assinada no Amazonas retomou alta, na virada do ano, após afundar no mês anterior. O Estado criou 625 postos de trabalho celetistas, gerando alta de 0,14% na variação mensal, dada a leve predominância das admissões (+17.858) sobre os desligamentos (-17.233). Mas, foi o menor acréscimo de postos de trabalho registrado desde janeiro de 2020 (+893) –ainda no período pré-pandemia. A geração de vagas foi sustentada por Manaus (+0,19% e +769) e apenas pelas atividades de serviços e construção.

O desempenho proporcional do Amazonas ficou aquém da média nacional (+0,38%) e praticamente empatou com a região Norte (+0,13%). Com a troca de sinal para uma performance positiva, o Estado conseguiu avançar também no saldo do acumulado dos últimos 12 meses (+8,57% e +35.125), na série com ajuste. O estoque –que é a quantidade total de vínculos celetistas ativos –registrado em janeiro foi de 445.155 ocupações formais. Os números estão na mais recente edição do “Novo Caged”, divulgada pelo Ministério do Trabalho, nesta quinta (10).

O Brasil gerou 155.178 empregos celetistas, em janeiro de 2022, com 1.777.646 contratações e 1.622.468 demissões. O número veio igualmente na direção contrária do resultado de dezembro (-265.818), mas também ficou devendo em relação ao mesmo mês do ano passado (+113.922), sendo o menor saldo positivo desde abril de 2021. A alta foi puxada por serviços (+102.026), sendo que apenas o comércio (-60.088) encolheu. Apenas 19, dos 27 Estados registraram saldos positivos. Em 12 meses de 2021, foram criadas 2.648497 vagas (+6,94%), levando o estoque a 40.833.533 vínculos empregatícios. 

Já em relação ao trabalho em regime de tempo parcial foram registradas 16.370 admissões e 15.687 desligamentos em todo o país, gerando saldo positivo de 683 empregos, envolvendo 6.578 estabelecimentos contratantes. A indústria (+1.312) foi o setor que mais contratou por essa modalidade e pelo menos 96 empregados celebraram mais de um contrato em regime de tempo parcial. Acordos entre empregador e empregado, por outro lado, geraram 17.975 desligamentos de Norte a Sul do Brasil, em 12.294 empresas.

Serviços e construção

Apenas dois dos cinco setores econômicos listados no Amazonas pelo “Novo Caged” conseguiram saldos positivos, entre dezembro de 2021 e janeiro de 2022 –contra um, no mês anterior. Depois de puxar o enxugamento de empregos formais, em dezembro, os serviços voltaram ao topo do ranking de contratações. No total, foram criadas 1.729 vagas celetistas, gerando acréscimo mensal de 0,87%. Os destaques vieram dos segmentos de “outros serviços” (+3,65% e +322) e de alojamento e alimentação (+0,88% e +151). 

O setor de construção quebrou uma sequência de três meses seguidos de saldos negativos com carteira assinada, para fechar no azul em janeiro (+0,88% e +204). Mas, a performance foi sustentada apenas pelos serviços especializados em construção (+3,83% e +476), em detrimento da construção de edifícios (-3,53% e -249) e das obras de infraestrutura (-0,62% e -23).

Nas demais atividades, as demissões foram predominantes. Em um mês sem datas comemorativas e 13º salário, e já marcado pelo peso dos passivos do fim de ano, o comércio amargou os maiores cortes (-0,78% e -814%), especialmente no varejo. A agropecuária (-7,87% e -308) veio em seguida, sendo impactada principalmente pela produção de lavouras temporárias. A indústria extinguiu 186 vagas (-0,16%), principalmente nas divisões de máquinas, aparelhos e materiais elétricos (conversores, alarmes, condutores e baterias) e de máquinas e equipamentos (condicionadores de ar e terminais bancários).

Sazonalidade e guerra

Os dirigentes classistas ouvidos pela reportagem do Jornal do Commercio avaliam que os números do Novo Caged refletem mais um movimento sazonal para cada atividade em questão. No entendimento das lideranças, o saldo ainda é majoritariamente positivo para o mercado de trabalho local, a despeito dos impactos econômicos decorrentes de um cenário ainda adverso para os negócios, em virtude da resiliência das altas da inflação e dos juros – piorados pela guerra na Ucrânia.

“Esses números são um efeito sazonal no setor e também refletem o impacto ainda da pandemia que, em janeiro, teve um avanço da variante ômicrom. Estamos em período de entressafra. Some-se a isso, que ainda estamos em período chuvoso, o que prejudica também a atividade”, justificou o presidente da Faea (Federação da Agricultura e Pecuária do Amazonas), Muni Lourenço. Diante das perspectivas de uma crise de abastecimento de fertilizantes, em razão da guerra, o executivo prefere não falar sobre expectativas.

Na mesma linha, o presidente do Cieam (Centro da Indústria do Estado do Amazonas), Wilson Périco, considera que ainda há motivos para comemorar, já que o acompanhamento dos últimos meses mostrou crescimentos de empregos na maior parte das ocasiões, gerando um acumulado ainda positivo para a atividade não apenas para a indústria de transformação, mas também para a indústria de construção. Embora assinale que o panorama ainda aponta para fatores que geram incertezas, o dirigente diz que ainda vê o ano “com bons olhos”.

“Mesmo que sejam percentuais pequenos, estamos em uma linha ascendente. A construção civil está recuperando o fôlego e a pandemia trouxe maior demanda por casas em condomínios e apartamentos. As pessoas estão buscando mais lazer. Muito dessa renda vem de outras atividades, como a indústria, que tem sua sazonalidade no Dia das Mães e no fim de ano. É normal que haja alguma retração em janeiro, e não creio que tenha sido algo sensível. Temos desafios neste ano, como a questão do IPI, reforma Tributária e esse ambiente pré-eleitoral. Estamos trabalhando essas questões, vamos acompanhar”, resumiu.   

Em sintonia, o presidente da FCDL-AM (Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Estado do Amazonas), Ezra Azury, reforça que os números do Novo Caged “falam por si mesmos”, com vendas positivas puxando mais contratações e um mês, e “outros nem tanto”. O dirigente já havia previsto um corte nos empregos de janeiro, por motivos sazonais. Em nova entrevista, o comerciante ressalta que, embora a terceira onda de Covid-19 já tenha ficado para trás, os efeitos das eleições e da guerra na Ucrânia, em um quadro ainda negativo para inflação e juros, inspiram preocupação para os próximos meses. 

“Essa boa notícia da manutenção do diferencial da Zona Franca na redução do IPI ajudou a injetar confiança no empresariado do Amazonas, não apenas para a indústria, mas também para o comércio. É claro que temos que ver como vai ficar o poder de compra do consumidor, nos próximos meses. Hoje mesmo, os combustíveis já subiram nos postos, de forma preventiva. Temos pela frente o Dia das Mães e a Páscoa, que ajudam a movimentar outros segmentos do varejo. Mas, se as vendas não responderem, fica difícil. Há ainda o fato de que anos eleitorais não são propícios aos investimentos”, finalizou.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio

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