16 de setembro de 2024

Empregos no interior do Amazonas

O saldo de empregos formais no interior do Amazonas foi negativo em dezembro, após o esboço de recuperação apresentado em novembro. Na série com ajuste, o número de contratações (+856) perdeu para o de demissões (-1.174), gerando decréscimo de 318 postos de trabalho com carteira assinada. Foi um resultado oposto ao do mês anterior (+380) e ainda pior do que o obtido em dezembro de 2020 (-621). Construção e indústria puxaram as demissões, enquanto o comércio foi o único a contratar. O desempenho seguiu em sintonia com o de Manaus (-2.830), impactando na performance do Estado (-3.148).

O número de cidades amazonenses com mais admissões do que desligamentos na variação mensal não passou de 19, patamar significativamente inferior à estatística apresentada em outubro deste ano (+32). O volume de vagas formais geradas por cada uma delas ainda foi irrisório, sendo que apenas duas localidades tiveram resultados de dois dígitos. Ao menos 27 eliminaram empregos, enquanto as 15 restantes estagnaram – contra 14 e 15 no mês anterior. É o que revelam os mais recentes dados do ‘Novo’ Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados). 

O interior conseguiu fechar o ano com a geração de vagas celetistas ainda no campo positivo, em sintonia com o Estado e a capital. Enquanto Manaus conseguia gerar 32.712 vagas com carteira assinada entre janeiro e dezembro de 2021, correspondendo a 93,09% do total do Amazonas (35.141), os demais municípios amazonenses responderam pela fatia restante, ao criar 2.429 postos de trabalho formais, dada o novo predomínio das admissões (+14.334) sobre os desligamentos (-11.905). Comércio, serviços e agropecuária seguiram no azul, mas indústria e construção amargaram cortes.

Estoques dos municípios

Entre as 19 localidades que conseguiram contratar mais do que demitir, duas tiveram saldo de dois dígitos no número de vagas registradas na variação mensal, na série sem ajustes – contra dez, em novembro. Os melhores resultados vieram de Rio Preto da Eva (mais 31 vagas e alta de 3,54%) e Novo Airão (+10 e +3,41%). Em contraste, foram registrados dez resultados negativos de dois dígitos, especialmente Coari (-65 e -4,55%) e Iranduba (-54 e -2,41%). Destaques nos meses passados, Presidente Figueiredo, Parintins, Manacapuru, Itacoatiara e Humaitá fecharam dezembro no vermelho. 

Em 12 meses, 46 municípios do interior amazonense admitiram mais que desligaram, 15 ficaram no vermelho e nenhum ficou estável. Presidente Figueiredo (+572 e +20,17%), Humaitá (+309 e +15,40%), Iranduba (+260 e +13,48%), Manacapuru (+213 e +7,09%), Itacoatiara (+172 e +3,70%) e Parintins (+144 e +5,98%) lideraram com folga a lista de criação de empregos formais, em números absolutos. No outro extremo, os maiores cortes vieram de Santo Antonio do Iça (-35 e -24,65%) e Codajás (-26 e -35,14%), entre outros.

Em termos de estoque de empregos com carteira assinada na totalidade do Amazonas (447.903), excluída a capital (410.053), o somatório dos seis maiores municípios do Amazonas responde por quase metade de todo o volume de empregos com carteira assinada contabilizados no interior (37.850). A lista inclui Itacoatiara (4.843), Presidente Figueiredo (3.412), Manacapuru (3.196), Tabatinga (2.727), Parintins (2.526) e Humaitá (2.221). 

Comércio e serviços

Assim como ocorrido nos números globais do Estado, quatro dos cinco setores econômicos listados no “Novo Caged” amargaram extinção de vagas no interior, entre novembro e dezembro, no mesmo desempenho do levantamento anterior. A única exceção veio do comércio, que criou apenas nove empregos. Na outra ponta, construção (-158) – que sustentou a lista de desligamentos, no último trimestre do ano – e indústria em geral (-104) lideraram os cortes, sendo seguidos por serviços (-42) e agropecuária (-25).

Pontos fora da curva das estatísticas gerais dos demais meses, os municípios que mais criaram empregos com carteira assinada na variação mensal de dezembro apresentaram dinâmicas econômicas diferentes entre si. Rio Preto da Eva (+31) teve sua geração de postos de trabalho essencialmente sustentada pelo comércio varejista (+22), além da agropecuária de horticultura e fruticultura (+6), em menor grau. Novo Airão (+10), por sua vez, foi alavancado basicamente pelo setor de serviços (+10), dado que os desempenhos de comércio (+1) e indústria (-1) tiveram soma zero.

No acumulado dos 12 meses do ano, o setor de serviços (+1.000) perdeu o posto de maior gerador de oferta de postos de trabalho celetistas no interior do Estado para o comércio (+1.080). Na sequência está a agropecuária (+495). A indústria (-18) voltou ao campo negativo, em novembro, sendo seguida pela construção (-128). Entre os municípios com maiores saldos na base aglutinada, Presidente Figueiredo (+572) se sobressaiu na produção de lavouras temporárias (+407) e nas indústrias extrativas de minerais metálicos (+139). Humaitá (+309), por outro lado, obteve seus melhores resultados no varejo (+119) e nos serviços de administração pública (+66), entre outros.

Região Metropolitana

Em entrevistas anteriores à reportagem do Jornal do Commercio, o consultor empresarial, professor universitário e conselheiro do Corecon-AM (Conselho Regional de Economia do Estado do Amazonas), Leonardo Marcelo Braule Pinto, observou, que o arrefecimento da pandemia está sendo acompanhando por um crescimento “lento, gradual e insuficiente”, em razão dos juros e da inflação. A situação seria pior no interior pela falta de políticas públicas. “Estamos até tendo algum crescimento, mas é muito tímido. Em algumas cidades mais distantes, nem tivemos isso. Podemos até ter alguma melhora nos empregos, mas ela virá no longo prazo. No curto, teremos resultados apenas factíveis e marginais”, arrematou. 

Em sintonia, o presidente do Sindecon-AM (Sindicato dos Economistas do Estado do Amazonas) e consultor empresarial, Marcus Evangelista, apontou, também em entrevistas anteriores à reportagem do Jornal do Commercio, que a geração de empregos no interior não consegue acompanhar seu crescimento populacional. Segundo o economista, os municípios com melhores resultados estão na Região Metropolitana de Manaus, sendo alavancados por micro e pequenas empresas de comércio e serviços. A exceção estaria em Humaitá, em razão da força de seu agronegócio. Já as localidades mais isoladas e distantes seguiriam dependentes dos “contracheques das prefeituras”. 

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio

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