23 de novembro de 2024

Endividamento das famílias para de cair em Manaus, segundo CNC e Fecomércio-AM

O nível de endividamento das famílias de Manaus ficou estável, em novembro, após sete meses consecutivos de queda. Mas, a lista de negativados registrou sua terceira alta seguida. Ao menos 78,6% (516.085) delas relataram ter contas a vencer –contra as 78,4% (518.277) de outubro. Foi também um patamar pouco abaixo do de 12 meses atrás (79,3%). Entre um mês e outro, proporção se manteve igual entre os consumidores com renda abaixo de dez salários mínimos (78,8%), mas a situação piorou entre os que ganham mais (76,5%) –que continuam como os mais ‘pendurados’ em cartões e carnês.

A fatia de famílias com contas atrasadas cresceu para 45% (296.434), superando outubro de 2023 (41,1% ou 270.867) e novembro de 2022 (37,9% ou 246.729) –quando as taxas de juros e da inflação estavam ainda mais elevadas. A proporção de consumidores sem condições de pagamento também cresceu e chegou a 17,1% (112.386). A inadimplência avançou nas duas faixas de renda, mas o percentual de manauenses que não poderão pagar a próxima fatura é levemente maior no grupo dos mais pobres. É o que revela a Peic (Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor), da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo). 

A capital amazonense foi na direção contrária da média nacional, embora esta tenha apresentado recuos mais amenos e sustente percentuais mais elevados. A taxa de endividamento do consumidor do Brasil encolheu pelo quinto mês seguido na variação mensal e chegou a 76,6%, o menor nível em 22 meses. O indicador também foi menor do que a marca de igual período (78,9%). O percentual de consumidores inadimplentes (29%) também desceu em ambas variações. A parcela de brasileiros já sem fôlego para quitar débitos estacionou em 12,5%, mas esse é o maior nível em um ano.

A nova queda da Peic contrasta com a 17ª alta consecutiva da ICF (Intenção de Consumo das Famílias) de Manaus, também da CNC. Em novembro, foram registradas tímidas melhoras na satisfação com renda, emprego e na intenção de adquirir bens duráveis, embora o acesso ao crédito tenha arrefecido. Em paralelo, o Icec (Índice de Confiança do Empresário Comercial), da mesma entidade, marcou nova piora no humor dos comerciantes, embalada pela percepção sobre as condições atuais da economia e contaminações nas expectativas. Foi o pior escore (104,3 pontos) do ano, embora ele se mantenha na margem satisfatória.

Cartões e carnês

A CNC informa que o cartão de crédito retomou alta na participação no bolo das dívidas e ainda é o motor do endividamento em Manaus. Ele respondeu por 69,5% das dívidas locais –contra os 66,2% de outubro. Seu uso é ainda maior entre as famílias de maior renda (82,3%) e ocorre em sintonia com a praticidade dos cartões, em detrimento de seus custos. Conforme a Anefac (Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade), essa é a modalidade de financiamento mais cara do país, com juros mensais de 14,81% (e 424,51% anuais).

Os carnês (45,2%) reduziram a participação entre os débitos das famílias de Manaus, mas mantiveram a vice-liderança, sendo impulsionados também pelos que recebem mais (50%). O crédito pessoal (14,2%) também caiu nas preferências, mas continua em terceiro lugar, sendo seguido por “outras dívidas” (11,3%), financiamento de carro (9,9%), cheque especial (6,9%), crédito consignado (6,9%) e financiamento de casa (5,3%). Invenção brasileira, tradicionalmente de uso exclusivo dos mais pobres, o cheque pré-datado pontuou 0,8% e consolidou preferência também entre os mais ricos (1,6%).

Apesar do viés de alta da Peic, o percentual de consumidores que se dizem “muito endividados” caiu para 21,4%, sendo essa uma condição ligeiramente menos comum entre as famílias de maior renda (21%). O mesmo pode ser dito dos que se declaram “mais ou menos endividados” (20%). A fatia dos “pouco endividados” (37,3%) aumentou e ainda é majoritária, já é mais comum entre os que ganham menos. 

Em média, as famílias de Manaus devem levar 29 semanas para quitar as dívidas. Passou a predominar a fatia dos devedores com até três meses de compromissos adiante (28,6%). O grupo dos consumidores que esperam levar mais de um ano para isso (27,4%) desceu para a segunda posição. O comprometimento médio da renda dos consumidores para pagar dívidas estabilizou em 32,2%. Em torno de 28,9% das famílias de Manaus gastam mais da metade do que ganham, mas esse grupo ainda é superado com folga pelos que consomem de 11% a 50% de seus rendimentos (49,3%).

Mais da metade dos endividados locais (57,2%) já está inadimplente, um número muito maior do que o do levantamento anterior (52,5%). Apenas 28,4% garantem que conseguirão quitar o compromisso integralmente no próximo mês. Outros 33,7% estimam que vão pagar parcialmente, e 37,9% assumem que vão seguir devendo. Em média, as dívidas estão atrasadas há 61 dias, sendo que a maioria está pendente acima de 90 dias (38,7%) ou entre 30 e 90 dias (37,5%).

Emprego e crédito

O presidente em exercício da Fecomércio-AM, Aderson Frota, pondera que a sinalização da pesquisa é de um cenário estável para Manaus. “O que se observa é que teremos um pequeno aumento no nível de endividamento, e nada alarmante, por conta das festas de fim de ano. Gostaria de mencionar que, na realidade, ainda não atingimos nem a metade do endividamento focado pelo programa Desenrola. Muitas dívidas estão acima desse valor. Estamos na expectativa que 2024 seja um ano mais positivo, e uma sinalização positiva é que o comércio está começando a abrir vagas de emprego, mesmo que temporárias”, avaliou.

Em texto distribuído pela assessoria de imprensa da CNI, o presidente da entidade, José Roberto Tadros, salienta que a segurança financeira dos consumidores melhorou e isso ocorreu em virtude da evolução das condições econômicas do país. “O progresso do mercado de trabalho, mesmo em menor escala, com a maior contratação esperada neste período de fim de ano, vem favorecendo os orçamentos domésticos, indicando que menos pessoas estão recorrendo ao crédito, pois estão conseguindo arcar com as dívidas correntes”, ponderou.

No mesmo texto, o economista-chefe da CNC, Felipe Tavares, aponta que a queda registrada pela média nacional do indicador, “embora ainda pequena”, reflete a eficácia do programa Desenrola”. Mas, observa também que o endividamento avançou na faixa de famílias de renda de cinco a dez mínimos. “Já os consumidores de baixa renda (0-3 mínimos) apresentam o maior percentual de dívidas em atraso (36,6%) e têm maior probabilidade de não conseguir arcar com essas dívidas”, finalizou.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio

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