“Enfrentaremos desafios significativos”

Em: 22 de novembro de 2023

O novo diretor do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) Henrique dos Santos Pereira é professor titular do Departamento de Ciência Fundamentais e Desenvolvimento Agrícola da Ufam e assessor especial de Relações Internacionais. Também foi superintendente estadual do Ibama. Nessa entrevista ao Jornal do Commercio, Henrique Pereira falou sobre suas expectativas à frente da instituição.  

Jornal do Commercio: Quais desafios o senhor espera encontrar pela frente, agora como diretor do Inpa?

Henrique dos Santos Pereira: A nova direção do Inpa, assim como a anterior, enfrentará desafios significativos, especialmente no contexto de retração dos investimentos federais no SNCTI (Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação). A recomposição do orçamento do SNCTI, sua reestruturação no que tange aos seus quadros de pessoal, especialmente, e a revitalização das instâncias de diálogo e participação social, ações que consideramos fundamentais, urgentes e estratégicas. Do ponto de vista político, enfrentaremos o desafio de reposicionar o Inpa como um dos protagonistas proeminentes nos diálogos com as demais organizações de CT&I, a sociedade e com os governos e nos processos de decisões relacionadas ao desenvolvimento sustentável da Amazônia.

JC: O senhor já tem metas e objetivos que pretende alcançar?

HSP: Sim, e estão alinhados com a visão de futuro apresentada no Plano Diretor do Inpa 2021/2025. Buscaremos assegurar que o Inpa recupere e, em seguida, amplie sua capacidade de ação como uma organização robusta de ciência, tecnologia e inovação na Amazônia e para a Amazônia, com efetividade de ações e inserção social. Para isso, focaremos em práticas participativas e adaptativas de gestão, fortalecendo a credibilidade e a valorização do Inpa perante a sociedade. Além disso, temos as metas pactuadas anualmente no TCG (Termo de Compromisso e Gestão).

JC: Como está a situação financeira do Inpa, hoje, e como mantém em andamento suas pesquisas?

HSP: É uma situação que requer atenção. Os recursos diretos aportados pelo governo federal giram na faixa de R$ 38 milhões anuais e não têm sido o suficiente para atender todas as demandas e necessidades. Pretendemos implementar práticas de gestão transparente e participativa, buscando ampliar as fontes de financiamentos, especialmente as extraorçamentárias. Isso inclui a captação de recursos por meio de editais públicos e privados, nacionais e internacionais. A profissionalização da captação de recursos e a gestão eficiente serão fundamentais para garantir o desenvolvimento contínuo das pesquisas. Ainda assim, em termos de publicações científicas, o Inpa é a 3ª organização que mais produz conhecimentos sobre a Amazônia, no mundo.

JC: Atualmente quantos pesquisadores trabalham no Inpa e em quais áreas de pesquisa, e quantos funcionários a instituição reúne?

HSP: Somos uma organização de pequeno porte, em termos de recursos humanos. O que é surpreendente dado o volume de resultados que o Inpa gera. Atualmente contamos com 116 pesquisadores, atuando em diversas áreas reunidas em 65 grupos distribuídos em quatro coordenações: Biodiversidade, Dinâmica Ambiental, Tecnologia e Inovação, Sociedade-Ambiente-Saúde. No total, a instituição reúne 416 funcionários, entre pesquisadores, tecnologistas, analistas, técnicos e assistentes. Neste momento, aproximadamente 68 pesquisadores estão aptos a se aposentar, criando uma demanda que ainda não será atendida plenamente nesse primeiro momento da nossa gestão. O governo federal aprovou o primeiro concurso público para o Inpa, após dez anos, porém para apenas 51 novos pesquisadores.

JC: Todas as pesquisas são importantes, mas quais seriam as mais relevantes, por ora, desenvolvidas no Instituto?

HSP: Tanto as pesquisas de pequenos, médios ou grandes projetos, são relevantes para a compreensão e conservação da biodiversidade da Amazônia. Destaco, no entanto, aquelas que têm impacto direto no desenvolvimento sustentável da região, incluindo estudos sobre biodiversidade, mudança climática, sustentabilidade ambiental e a relação entre saúde e sociedade. O momento atual requer o enfrentamento de gravíssimas emergências ambientais, cujas soluções as mais efetivas serão aquelas baseadas na natureza. Compreender como a mudança do clima afeta a floresta e o ciclo hidrológico e como a mudança na floresta afeta o clima, é uma das mais importantes áreas de pesquisas. Esse conhecimento é essencial para o enfrentamento da emergência climática e para a conservação da própria floresta. Convém destacar que o Inpa possui cerca de 70 produtos na sua vitrine tecnológica, aptos a serem transferidos para a sociedade e empresas, frutos de suas pesquisas. O Inpa é uma organização estratégica para a construção de um modelo de desenvolvimento baseado na bioeconomia da floresta.

JC: Como a ciência estaria hoje, na Amazônia, se o Inpa não tivesse existido nesses últimos 71 anos?

HSP: O Inpa é o mais importante instituto de pesquisas sobre biologia de florestas tropicais do mundo. Sem o Inpa, a ciência na Amazônia certamente apresentaria lacunas muito maiores. A contribuição do Inpa, ao longo desses 71 anos, tem sido vital para o avanço do conhecimento científico na região, impactando positivamente as políticas públicas, a preservação ambiental e o desenvolvimento sustentável. A produção científica, a sua capacidade de formar pessoas e a sua área de visitação pública e popularização da ciência são referências no Estado, na Amazônia, no Brasil e no exterior. Um dos projetos de longa duração do Inpa, o PDBFF (Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais), instalado em 1979, numa cooperação entre o Inpa e o Instituto Smithsonian (EUA), é a mais importante referência sobre os impactos do desmatamento que torna a floresta antes contínua em porções pequenas e isoladas.

JC: O que a comunidade científica do Inpa, e a população do Amazonas, podem esperar de sua gestão?

HSP: Nossa gestão será pautada pela transparência, diálogo e participação social e busca pela excelência científica. A comunidade científica do Inpa pode esperar uma administração que valoriza o diálogo, promove a participação ativa em decisões institucionais e busca fortalecer a inserção social do instituto. A sociedade amazônica e brasileira poderá continuar contando que o Inpa siga sendo uma organização brasileira comprometida com a produção e a difusão de conhecimento relevante para o desenvolvimento sustentável da região amazônica, e cada vez mais contribuindo para o desenvolvimento econômico, a elevação da qualidade de vida e do bem-estar das comunidades amazônidas.

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Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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