16 de setembro de 2024

Amazonas Energia vai prosseguir com a implantação de novos medidores

A instalação de medidores inteligentes de energia vem gerando muita polêmica em Manaus. O consumidor se sente lesado. O caso foi levado à Justiça. Repercute na Assembleia Legislativa, na Câmara Municipal e nos órgãos de defesa dos clientes. A concessionária foi impedida de instalar o novo sistema tecnológico. Recorreu três vezes, mas perdeu todas no Judiciário amazonense, que manteve a sua decisão.

O diretor da empresa, Radyr Oliveira, admite o ‘mea culpa’ nesse projeto que se diz inovador. Ele ressalta que o grande erro da concessionária foi não discutir e esclarecer a população devidamente antes de decidir pelo emprego da nova tecnologia, uma ferramenta inovadora que já está sendo operada com 3 milhões de consumidores, segundo o gestor.

“Estamos pagando um preço muito alto por não comunicar como deveríamos antes da instalação dos medidores inteligentes, falando das vantagens dessa nova tecnologia”, afirma Gomes. “Infelizmente, a gente não fez isso, não esclareceu devidamente a população. E, agora, tentamos corrigir essas distorções”, acrescenta ele.

Segundo o diretor, o medidor inteligente só vai aprimorar os serviços, garantindo mais qualidade aos clientes, ao contrário do que alegam a população e órgãos do poder público, que fiscalizam essas atividades.

Uma das vantagens é que a medição passa a ser automática. A central de distribuição vai poder detectar falta de energia em qualquer parte, sem que o usuário utilize a comunicação pelo 0800. E ainda – a contagem do consumo também será automatizada, dispensando a leitura tradicional de casa em casa, segundo Gomes.

O aparelho instalado nos postes será uma ferramenta para a leitura remota do consumo, mas os usuários continuarão conferindo o que consumiram nos medidores fixados nas residências. “Na realidade, nada muda. Ao contrário, cada pessoa poderá conferir se o que consumiu bate com a leitura remota feita direto da central de distribuição”, garante Rady Gomes.

De acordo com o diretor, são equivocadas as informações de que os consumidores passaram a pagar mais caro pelas tarifas a partir das instalações dos novos medidores. Ele informa que os problemas detectados foram em aparelhos de dois tempos, do sistema antigo. “Em janeiro, o Ipem fiscalizou 1.100 medidores, mas seis apresentaram irregularidades. E vamos ressarcir os clientes que pagaram a mais pelo serviço”, explica Gomes.

Até 2030, a Amazonas Energia pretende estar pelo menos com 70% dos medidores inteligentes instalados em Manaus. A empresa promete fazer uma campanha de esclarecimentos para mostrar à população que o novo sistema traz vantagens, sendo também uma nova ferramenta de combate às ligações clandestinas. “Todos acabam pagando 15% a mais pelo que consomem”, disse Rady Gomes.

Ele participou da live ‘JC às 15h’, comandada pelos jornalistas Caubi Cerquinho e Fred Novaes, diretor de redação do Jornal do Commercio.

Jornal do Commercio – Como foi a decisão de instalar medidores inteligentes, um assunto que vem gerando tanta polêmica? Realmente, foi necessário?

Radyr Gomes de Oliveira – Além da necessidade, é uma questão de modernização. Mais de 3 milhões de clientes já usam esses novos medidores.

Não é só o medidor. No período pré-privatização, a empresa ficou quase 10 anos sem investimentos na rede de distribuição. Por isso, acontecem tantos problemas de interrupção quando há chuvas, ventos fortes, porque a rede estava precária.

Além dos medidores, fizemos todo um processo de engenharia para atender melhor aos clientes onde estão sendo instalados os novos medidores

JC – Dentro da estrutura dessas empresas, há pessoas que têm uma história, todo um comprometimento de fazer o melhor. Fale de sua trajetória na Amazonas Energia….

RGO -Eu sou estrangeiro oriundo do Vale do Juruá, do município de Itamarati, vim de comunidades ribeirinhas, da época áurea da borracha, quando minha família veio do Nordeste.

Em 1974, cheguei em Manaus e, em 1987, passei a trabalhar na Companhia Energética do Amazonas, a Ceam, que com o tempo foi federalizada. Na época, a Eletrobras tinha em seus planos de negócios chegar à maior empresa de distribuição do Brasil.

Mas depois veio outro caminho com a privatização. Cheguei à Ceam como eletricista, e com muita honra. E quem me entrevistou na época para entrar na companhia foi o saudoso Fernando Bomfim, que era presidente da empresa.

Assumi a direção da Amazonas Energia. Após a privatização, me chamaram de novo para fazer parte dela. E estou agora aqui, tenho um compromisso com a Amazonas Energia e com o meu Estado

Tive oportunidade de trabalhar fora daqui e ganhar muito mais, mas não quis. Se me derem duas opções de viagem – uma a Paris e outra para São Gabriel da Cachoeira, vou preferir São Gabriel da Cachoeira.

E conheço o Estado do Amazonas, são poucos amazonenses que conhecem. E aqui estou eu. Pedindo compreensão de nossos clientes porque a Amazonas Energia vai fazer sempre o melhor. Todos os dias atendo pessoas e comunidades. Ninguém volta sem atendimento

Esse é o meu perfil. E estou sofrendo por tudo isso quando vejo algumas coisas que não são verdadeiras. Não vamos desistir e fazer o melhor por nosso povo.

JC – O que estão dizendo de inverdades?

RGO – Quem regulariza as tarifas é a Aneel. Ela diz qual é a tarifa da Amazonas Energia. O que remunera a minha tarifa são os nossos investimentos para melhorar os serviços. Então, a Aneel vem e diz que você investiu 500 mil reais, por exemplo, e tem direito a 0,05% de aumento.

O que muda com a integração do medidor inteligente? Ele é integrado na conexão com o ramal de distribuição do cliente. Portanto, o registrador fica na caixa do antigo medidor. E todo mundo vai poder acessar.

Estamos trabalhando com nossa equipe de tecnologia para que daqui a pouco se possa ter no celular um aplicativo em que se possa baixar a leitura. Todo mundo inova. Quando veio o Pix, eu resisti muito pra não fazer.

Se estamos inovando com o novo medidor, então por que eu vou resistir com o Pix? Não tem jeito, a gente precisa realmente fazer isso. Uma coisa muito bacana que vai acontecer com esse novo medidor. Na falta de energia, já vamos identificar onde é o problema. E não vai precisar que o cliente ligue para o 0800 para comunicar a interrupção.

Já estaremos sabendo o que está acontecendo e mandar uma equipe pra resolver o problema. Outra coisa boa. A leitura vai ser de forma remota. Não tem intervenção humana. Então, o cliente vai poder conferir com o medidor que está na caixa em casa se bate com a leitura feita de forma remota.

É normal fazer isso. Eu coloco 100 reais no meu celular e não tem nada medindo pra saber quanto gastei. Mas as operadoras têm um aplicativo em que você vai controlando o seu consumo.

Como não terei mais esse leiturista,  vou diminuir custos e com o tempo, se estiver todo mundo pagando certinho, a tarifa vai ficar mais barata pra todos.

Hoje ela é mais cara 15% por que estamos pagando por quem não paga devidamente. A tarifa é cara por isso. Todas as empresas privatizaram. Mas o Estado do Amazonas é campeão em perdas comerciais

JC – Então, somos campeões de gato….

RGO – Sim, campeões em perdas comerciais

JC – Perdas comerciais é um nome bonito…

RGO – Sim (rsss). Eu ouvi um radialista dizer que não existe meia passagem de ônibus. Alguém está pagando pela diferença. Então, é a questão da perda. A gente perde. São 586 milhões de reais que todos os amazonenses estão pagando por isso.

Por isso, a tarifa é maior. Mas mesmo assim, a distribuidora tem um prejuízo anual de 380 milhões de reais. A Aneel não deixa colocar essas perdas na tarifa, mas nos obriga a combater essas perdas.

Mas como vou combater? Identificamos o problema, mas o cliente acaba fazendo de novo o desvio de energia. A maioria dos amazonenses, dos nossos clientes, é de pessoas boas, de boa índole. No Parque 10, as pessoas entenderam logo o processo, lá foi bem tranquilo.

Mas aqui vou assumir que nós não nos comunicamos bem, como deveríamos. Eu poderia estar aqui antes de implantar o projeto. Falando dessa tecnologia, das vantagens. Infelizmente, a gente não fez e estamos pagando um preço muito alto por isso. Mas a gente vai corrigir essas distorções.

Veio a questão da Justiça, mas neste momento Deus nos deu esse tempo pra gente corrigir os erros. E vamos fazer uma campanha de esclarecimentos aos clientes sobre os novos medidores.

JC – O novo medidor vai ajudar a combater essas perdas….?

RGO – Sem dúvida.

JC – Vai favorecer o cliente que paga…?

RGO – Com certeza. A gente tem tido espaço para poder conversar com a população. Pra tirar as dúvidas dos nossos clientes. Já abrimos sete lojas em Manaus. Antes, só tínhamos uma na rua 10 de Julho.

A zona norte tem o maior número de clientes, – são por volta de 190 mil. Em 2020, houve 24 mil pedidos de serviços para aquela região. E criamos novas lojas para atender a demandas nessas regiões.

JC – O Ipem apontou irregularidades em medidores que seriam prejudiciais aos consumidores. Como está essa questão?

RGO – Acho que essas informações foram colocadas de forma equivocada. A gente tem um convênio com o Ipem, que é o órgão oficial para fazer a fiscalização dos medidores. O que eles estão fazendo é aferindo os medidores antigos.

O Ipem já aferiu mais de 25 mil medidores. Em janeiro deste ano, fiscalizou 1.100 aparelhos. E seis desses antigos deram problema, registrando consumo maior para os clientes. O Ipem já identificou os problemas e os clientes serão ressarcidos dos valores que foram cobrados a mais.

A Aneel audita todos os nossos processos. Ela vai enxergar isso. Se você pagar com duplicidade, gera automaticamente uma devolução que pode ser feita na próxima conta, Quer dizer,  o cliente terá crédito na próxima fatura.

JC – O  problema foi nesses novos medidores?

RGO – Não, foram nos antigos, de dois tempos. O Ipem já está fazendo uma fiscalização nos novos medidores que geraram toda essa polêmica. Há uma medição paralela. Isso vai levar em torno de 21 dias.

Os dois medidores serão comparados.  A contagem tem que ser muito próxima. Vale ressaltar que esses novos medidores inteligentes têm homologação do Inmetro e todos eles foram aferidos, são todos selados.

O medidor selado está garantido. Mas se tiver um selo violado, ele perde a garantia. E o medidor é um equipamento muito seguro.

JC – É um momento de vocês refletirem em algumas coisas, como no caso da comunicação. Nesse novo planejamento, pretendem mudar as ações?

RGO – Até 2030, a nossa meta é chegar com 70% desses medidores já operando. Aquele cliente que é medido em média tensão, como os postos de gasolina, já tem uma medição inteligente, há anos que isso vem sendo colocado.

E já conseguimos extrair a leitura em nosso centro de inteligência, no V8. Já temos uma medição nos condomínios, e comparamos, mas tem uma perda, e a gente procura identificar, algo em torno de 30% de perda.

A gente começou um projeto piloto pelo bairro da União. Todo mundo gostou. Vamos conversar muito com nossos clientes, também na zona norte.

JC – Como está a questão judicial?

RGO – A gente cumpre. Decisão judicial não se discute, estamos trabalhando para ter condições de voltar a atuar daqui a algum tempo….

JC – A empresa registra um alto número de reclamações, um problema crônico. De que forma estão lidando com isso?

RGO – Temos uma base de atendimento dentro do Procon. De 1.300 reclamações que foram para o órgão, 950 foram resolvidas, não viraram processo, e outras viraram.

O Procon coordena todos esses processos. As reclamações existem. Nesse período, as pessoas têm que entender que a gente começa a pagar umas bandeiras tarifárias, que fazem subir o valor das tarifas.

Algumas contas vêm zeradas porque se beneficiam de descontos por economizar energia. O baixa renda tem diferença de tarifa de até 65%. O cruzamento desses dados já é automático.

Passamos de 95 mil para 243 mil famílias beneficiadas por essa tarifa social. E a nossa intenção é chegar a 300 mil. Sabemos que o Estado do Amazonas é o oitavo mais pobre e 80% dessa população mais pobre está no interior.

JC –São registrados muitos problemas no interior. Há muita gente reclamando dos apagões. Fizeram também investimentos nos outros municípios?

RGO –  O foco da minha diretoria está ligado ao interior. Eu disse que a gente se comunica tão mal que até as obras no interior não têm uma placa (rss).

Estamos fazendo uma revitalização em toda rede em Parintins, ampliando, tirando as ligações clandestinas Quando a empresa foi privatizada, houve um processo de desverticalização, tirando toda a geração de dentro da distribuidora.

Então, a Aneel fez um leilão, dividiu em lotes e cada distribuidor cuida de uma parte. São 89 novas usinas que foram construídas no interior, que substituíram as antigas da Ceam, com produtores independentes.

JC – Algumas usinas movidas a gás….?

RGO – São cinco usinas movidas a gás. Vamos interligar Itacoatiara ao sistema nacional, e já iniciamos também em Silves e Itapiranga e Rio Preto da Eva. Parintins está em obras. Tem todo esse planejamento a longo prazo. Humaitá também está em obras. Os demais continuam isolados.

Quando se fala em apagão, a gente construiu 40 mil quilômetros de rede do programa Luz para Todos, são 17 mil quilômetros só em áreas ribeirinhas, onde o acesso é só por barcos, voadeiras e canoas.

Fui à CPI na Assembleia e disse que a gente deve se juntar, é assim que vamos resolver os problemas.

JC – O morador do interior pede uma comunicação mais direta com a empresa. Como está essa interlocução?

RGO – Temos lojas em todos os municípios e em todas as comunidades para atender às demandas. E digo sempre para atender bem à população. Não deixar que nenhum cliente entre na loja e saia com dúvidas.

Criamos cinco regionais no interior. Fazemos também alguns atendimentos itinerantes. Estamos saindo de dentro das nossas lojas e indo até os clientes. Tenho 1.432 mil clientes no meu sistema, só consigo faturar próximo de um milhão.

E começamos a sair pra tentar identificar esses consumidores que estão fora da base. É o que chamamos de Dia D – e perguntar por que eles não procuraram mais nossos atendimentos. E tivemos muito sucesso.

Criamos campanhas para quitar as dívidas com descontos. Queremos trazer de volta esses clientes. As pessoas se envergonham porque estão devendo.

JC – Há quantos clientes nesse cadastro social em Manaus?

RGO – Em torno de 150 mil clientes.

JC – A ideia é continuar buscando….?RGO – Sim. E agora com essa possibilidade fazer o cruzamento automático, isso deu uma alavancada muito boa, ajudou muito. Tenho pedido muito às prefeituras do interior para fazer esse trabalho. Fazemos muito isso no interior.

Marcelo Peres

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