16 de setembro de 2024

Especialista avalia uso da cannabis na saúde do coração

A saúde do coração é uma das principais causas de mortes em todo o mundo. No Brasil, de acordo com dados do Cardiômetro, indicador criado pela SBC (Sociedade Brasileira de Cardiologia), que mostra o número de óbitos por doenças cardiovasculares no país, somente neste ano foram quase 300 mil ocorrências. A SBC alerta que muitas dessas mortes poderiam ser evitadas ou ao menos postergadas com a adoção de cuidados preventivos e medidas terapêuticas.

Em busca de opções terapêuticas, pesquisas sobre os efeitos da cannabis na saúde do coração vêm sendo desenvolvidas e sugerem que o uso da substância pode contribuir para o bom funcionamento do sistema cardiovascular. É o caso de um estudo publicado pela revista norte-americana Neuropsychopharmacology, que apontou que usuários de cannabis têm menor risco de sofrer um AVC, graças à melhora do fluxo de sangue e oxigênio.

No Brasil, pesquisadores do InCor (Instituto do Coração), e da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), também estão desenvolvendo um estudo sobre os efeitos da cannabis na saúde cardiovascular. Com apoio da empresa canadense Verdemed, a pesquisa vai durar dois anos e acompanhar 105 pacientes do InCor que sofrem de insuficiência cardíaca, dos quais metade receberá canabidiol e a outra metade receberá placebo. O objetivo é investigar os impactos positivos do canabidiol na qualidade de vida e verificar se o quadro clínico sofre alterações.

O Jornal do Commercio ouviu a dra. Maria Teresa Jacob para falar um pouco mais sobre o assunto. Maria Teresa possui Título de Especialista em Anestesiologia, Título de Especialista em Acupuntura e Título de Especialista em Dor. Atua no tratamento de Dor Crônica desde 1992 e há alguns anos em Medicina Canabinóide em diversas patologias em sua clínica privada localizada em Campinas/SP. É membro da IACM (International Association for Cannabinoid Medicines).

Jornal do Commercio: Qual a diferença da cannabis medicinal para a cannabis utilizada como recreativo?

Maria Teresa Jacob: Quando se utiliza o termo cannabis medicinal estamos nos referindo ao uso médico da cannabis sativa. Neste caso ela é um medicamento e não um fitoterápico, com doses limitadas do THC e em alguns medicamentos até sem ele. O THC é um dos quase 500 componentes ativos da cannabis. A maconha é a cannabis sativa com altas doses de THC (Tetra-hidrocanabinol) responsável por seus efeitos alucinógenos e seu uso recreativo.

JC: Desde quando e em quais casos os cardiologistas estão usando cannabis medicinal?

MT: Os estudos sobre o uso da cannabis medicinal em cardiologia começaram nas últimas décadas. Ela tem indicação na insuficiência cardíaca, porque melhora a motilidade do coração e a contração cardíaca (do miocárdio); em hipertensão arterial, porque causa vasodilatação; diminui os níveis de colesterol, além de melhorar o fluxo cerebral sendo útil em pacientes pós-AVC.

JC: Quais outras especialidades médicas podem usar a cannabis medicinal e em quais casos?

MT: Diferentes especialidades se beneficiam da utilização da cannabis medicinal porque ela atua em doenças neurodegenerativas (Alzheimer, Parkinson), em doenças da saúde mental (depressão, ansiedade, síndrome de stress pós-traumático), doenças da saúde da mulher (endometriose, cólica menstrual), doenças de pele (melanoma, psoríase), entre outras.

JC: Usar cannabis como recreativo não é benéfico para quem tem problemas no coração?

MT: Não, tanto pela presença da alta concentração de THC, que pode causar distúrbios cardíacos, como pela combustão como em qualquer substância fumada. Não estamos falando de uso recreativo. Qualquer tratamento nesse sentido deve ser acompanhado por médicos com formação especializada em cannabis medicinal, um remédio que oferece inúmeros benefícios para a saúde da população.

JC: Por que as pesquisas com a cannabis medicinal estão direcionadas somente para o coração?

MT: As pesquisas com cannabis medicinal estão se desenvolvendo em todas as áreas da medicina e não somente na cardiologia.

JC: Quem, no Brasil, está autorizado a fazer uso de cannabis medicinal?

MT: Médicos inscritos no Conselho Federal de Medicina e nos seus respectivos Estados, porém, os pacientes devem buscar um especialista na área como se faz em qualquer outra patologia. Os tratamentos com cannabis costumam ser eficazes e provocam menos efeitos colaterais que os medicamentos tradicionais, o que influencia diretamente no bem-estar dos pacientes.

JC: A senhora está participando dessa pesquisa do InCor, com apoio da empresa canadense Verdemed?.

MT: Não estou não, mas ela é muito importante para o tema cannabis medicinal.

Foto/Destaque: Divulgação

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio

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