18 de setembro de 2024

Estiagem cria alerta,expõe a fragilidade da população e preocupa a cabotagem

Os rios do Amazonas indicam níveis abaixo do esperado, como constatam os dados do Porto de Manaus indicando que a média diária de vazante está acima dos 30 centímetros. O período de seca preocupa o segmento de cabotagem, o que levou a criação de um Comitê de Crise Hídrica pelo Governo Federal, que colocou a ANA (Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico) como responsável por resolver o problema. 

Conforme a Abac (Associação Brasileira dos Armadores de Cabotagem), reuniões têm acontecido para definir ações prioritárias. É possível que seja decretada Emergência Hídrica, para que decisões mais urgentes sejam tomadas em tempo. Entretanto, apesar de claros indícios de que teremos um período muito crítico, a Marinha opta por indicar que está dentro da normalidade e que aguarda atingir o ponto crítico.

O processo de vazante no Estado expõe a fragilidade da população das comunidades rurais e ribeirinhas, a dificuldade logística e as perdas agrícolas. 

A crise atinge a população, que fica desabastecida, com aumento direto do preço dos produtos, pela escassez e por aumento no frete. É impactada, ainda, a Zona Franca de Manaus, que não consegue escoar seus produtos, o que, dependendo da duração da crise, pode causar desabastecimento no mercado no Sul e Sudeste, em especial no “Black Friday”.

As empresas de navegação associadas a Abac – Mercosul, Aliança e LogIn -, que possuem linhas regulares para atender a zona produtora da Amazônia e a comunidade, já começaram a sentir os impactos da seca. São esses navios que permitem o escoamento da produção e mantêm o abastecimento desta região com insumos básicos para toda a população e para a indústria local. Nos outros anos, o problema começava a ser sentido em outubro. Este ano já começou. 

Segundo a Abac, as empresas apontam que a seca poderá impactar a navegação em 50%, ou seja, 50% do que deveria ser transportado deixará de ser durante este período. No pior cenário, em função da segurança, não será possível a navegação pelo Rio Amazonas. No ano passado, essa redução foi, em média, de 40%. Os produtos que sofrem mais impacto são os mais pesados, como alimentos (arroz, congelados e resfriados), cimento, metais, cerâmica, porcelanato e fertilizantes.

“Estamos em contato direto com Dnit, Ministério dos Portos e Antaq em Brasília, pois as ações dependem do poder central. Ainda que a Marinha entenda que a situação crítica não foi atingida, não podemos esperar sem tomar ações emergenciais, pois os indícios são de que  os problemas se acentuarão muito no trecho que indicamos como crítico, que é a Enseada do Madeira”. afirmou Luis Fernando Resano, diretor-executivo da Abac.

A época de estiagem não é uma novidade no Amazonas. Todos os anos, nesta época do ano, há uma redução pluviométrica, com consequente seca e redução do volume de água nos rios da região, que impacta fortemente a vida dos moradores e das empresas. Mas 2023 está trazendo uma vazante recorde, com o fenômeno do El Niño que tanto transtorno está causando no Sul do Brasil. Segundo o Governo do Estado da Amazônia, o Amazonas deverá registrar este ano uma vazante maior do que a de 2010, a mais drástica de todos os tempos. Os dados são de que a estiagem deverá se alongar até maio de 2024, com ápice em outubro. Para o abastecimento do grande centro logístico que se constitui a região de Manaus, o problema maior, por enquanto, acontece na enseada do Rio Madeira.

Conforme Resano, hoje o Canal do Panamá sofre problema semelhante, mas consegue resolver, em parte, com escoamento parcial das cargas por trem, até o outro extremo, e o navio passando pelo canal, aliviado. “Essa estrutura é inexistente na região de Amazonas. O último porto antes de Manaus fica a sete dias de distância. Então, fica impossível para as empresas preverem qual a tonelagem a ser colocada nos navios que possa ser escoada sem problemas de calado pelos rios da região”, disse. 

Para a Abac, a seca anual é um fenômeno natural, mas problemas graves como o garimpo ilegal, dragagens equivocadas no Rio Madeira (ou, na maioria das vezes, dragagens inexistentes) e falta de planejamento por parte do Governo fazem com que a situação se torne insustentável.

Cenário 

Dados da Defesa Civil do Amazonas, apontam que quatro municípios já se encontram em situação de emergência, entre eles Benjamin Constant e São Paulo de Olivença, na calha do Alto Solimões; Envira e Itamarati, na calha do Juruá. O levantamento mostra ainda que outras 15 cidades estão em situação de alerta e 13 em estado de atenção.

Em um esforço conjunto para combater os impactos da estiagem que atinge o Amazonas este ano, prefeitos dos municípios de Codajás, Careiro da Várzea, Maraã, Nova Olinda do Norte, Uarini, Manaus, Caapiranga, Novo Aripuanã, Fonte Boa, Canutama, São Paulo de Olivença e Silves se reuniram na sede da Defesa Civil do Amazonas, na última terça-feira (12), para alinhar ações de mitigação dos efeitos da seca na esfera municipal. Também participaram, por meio de videoconferência, representantes de Alvarães, Borba, Careiro Castanho, Guajará, Nhamundá, Novo Airão, Pauini, Presidente Figueiredo e Rio Preto da Eva.

O secretário executivo da Defesa Civil do Amazonas, Francisco Máximo, destacou a importância do encontro: “Estamos lidando com uma das secas mais intensas dos últimos anos, e é essencial que os prefeitos estejam alinhados e trabalhando em conjunto para proteger nossas comunidades”, afirmou Máximo.

Andréia Leite

é repórter do Jornal do Commercio

Veja também

Pesquisar