21 de dezembro de 2024

FAS plantou uma semente numa comunidade no rio Tumbira e seu entorno

O Amazonas possui lugares turísticos mais conhecidos por turistas de todo o Brasil e exterior do que pelos amazonenses. É o caso do Tumbira, no rio homônimo, um afluente do rio Negro, uma comunidade ribeirinha com infra-estrutura para receber visitantes, mas conhecida e visitada por poucos manauaras. Lá vivem cerca de 160 pessoas integrantes de 40 famílias com predominância dos Garrido e Macedo praticando o Turismo de Base Comunitária, sendo apoiados pela FAS (Fundação Amazônia Sustentável) há 14 anos.

De acordo com Roberto Brito, proprietário da Pousada do Garrido (@pousadadogarrido) junto com a esposa Nádia Garrido, 70% da renda dos moradores do Tumbira vem do turismo. A pousada do casal fica junto à escadaria que liga o porto às terras da comunidade localizada numa encosta.

“Começamos com a Pousada, em 2011, mas foi em 2014, por causa da Copa do Mundo, no Brasil, com jogos em Manaus, que alavancamos os negócios. A Pousada possui seis quartos, mas como o turismo foi crescendo, tivemos que abrir mais 13 quartos nas casas de cinco moradores e a previsão é que, em julho, sejam abertos mais sete quartos em três outras casas”, avisou Roberto.

A Pousada oferece vários pacotes: trilhas pela floresta com ensinamentos sobre as propriedades das árvores; passeios pelos igapós, de dia e noturnos, e no arquipélago de Anavilhanas; ida às praias, pesca esportiva, pesca de caniço; farinhada; participação nos eventos da comunidade; acampamento na selva; e passeios no Caveirão, um caminhão adaptado e exótico; entre outros.

Casa virou hostel

O que chama a atenção em boa parte da frente da comunidade onde está a igrejinha de madeira, as salas de aula e o centro comunitário é a pista de tijolinhos tipo aquela do filme O Mágico de Oz, construída pela FAS. A igrejinha, toda em madeira de lei, é em honra de N. Sra. do Perpétuo Socorro. Em 1991 a filha da professora Maria Lúcia estava doente. Preocupada, ela pediu à santa que curasse a garota e se tal acontecesse, mandaria construir uma capela em sua honra. A menina ficou boa e Maria Lúcia cumpriu a promessa construindo a capela hoje substituída pela igreja onde a comunidade se reúne. Um campo de futebol serve para a diversão dos ‘atletas’ da comunidade.

As casas do Tumbira são as casas amazônicas típicas, construídas com madeira e espalhadas em amplos terrenos. Vera Garrido, a proprietária de uma dessas casas, a transformou no Hostel VG (@hostel_vg).

“Resolvi fazer da minha casa um espaço para receber visitantes, em 2019, quando um pessoal da Imaflora (Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola) não teve onde se hospedar devido a Pousada do Garrido estar lotada. Uma parte veio para cá e, desde então, passei a receber hóspedes”, contou Vera.

O Hostel VG tem cinco camas divididas em três quartos. Na varanda, atrás da casa, tem-se uma excelente vista, do alto, do rio Tumbira. Os pacotes oferecidos por Vera são os mesmos da Pousada do Garrido, já que são parentes e trabalham em conjunto. Ela é irmã de Nádia.

Cachos de bacaba

Lucineide Silva é mais uma das irmãs Garrido. Ela trabalha com artesanato há mais de dez anos e a chegada dos visitantes e turistas aumentou em muito a sua clientela. Na sua casa ela fundou o espaço Entrelaçando Gerações (@entrelacandogeracoes), onde produz e expõe seus trabalhos.

“Tenho mais quatro artesãos que me ajudam a dar conta da demanda de artesanatos, peças de decoração e de utilidade doméstica como leques, luminárias, mandalas, jogos americanos, porta panelas e porta copos, centros de mesa, colares e pulseiras feitos principalmente com palhas de tucumã, cachos de bacaba e sementes de açaí, buriti, jarina, entre outras”, informou.

A matéria prima utilizada por Lucineide vem das comunidades vizinhas e ela se orgulha de ter sido pioneira no artesanato com cachos de bacaba, antes jogados fora.

“Aprendi sozinha a fazer artesanato e, com o tempo, fui desenvolvendo a habilidade. Faço questão que meus trabalhos, e dos artesãos que trabalham comigo, tenham qualidade”, afirmou.         

Nove núcleos

 “Desde 2010 a FAS apoia o turismo na comunidade do Tumbira”, revelou Wildney Mourão, gerente do Programa de Empreendedorismo e Negócios Sustentáveis da Amazônia da FAS.

O Nied (Núcleo de Inovação e Educação para o Desenvolvimento Sustentável) do Tumbira foi fundado em 25 de março de 2010 e desde então tem promovido formação, capacitação, consultoria e visitas técnicas em várias áreas do conhecimento.

“A FAS tem nove desses núcleos espalhados pelo Amazonas, construídos pela FAS com apoio de vários parceiros. São salas de aula, laboratórios digitais, auditórios, refeitórios, postos de saúde, marcenarias, e alojamentos para alunos e visitantes parceiros. Hoje a comunidade do Tumbira possui internet e energia solar e é um Nied que atende a 19 outras comunidades na região”, disse.  

Mais de 20 famílias participam diretamente da atividade turística na região envolvidas com artesanato, gastronomia, atuando na Pousada do Garrido, como guias, e no fornecimento de alimentos de produção própria.

Como chegar ao Tumbira:

Saída: Porto de São Raimundo

– Expresso Charlotte, sexta-feira, 13h; retorno, domingo, 15h – R$ 120, ida e volta

– Recreio Meu Zanys, terça-feira, 20h; retorno, quinta-feira, meia-noite; e sexta-feira, 20h; retorno, domingo, meia-noite – R$ 120, ida e volta    

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Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio

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