13 de setembro de 2024

Faturamento e emprego do PIM perdem força no semestre

O faturamento do Polo Industrial de Manaus manteve crescimento nominal no primeiro semestre deste ano. Mas, o desempenho ficou abaixo da inflação e da variação cambial do período. As vendas em reais encostaram em R$ 85,08 bilhões (2023) em valores correntes, o que correspondeu a um acréscimo de 1,64% sobre igual intervalo de 2022 (R$ 83,71 bilhões). Em contraste, o IPCA acumulou alta 2,87%. A conversão em dólares apontou para uma virtual estagnação (+0,22%), ao passar de US$ 16.80 bilhões (2022) para US$ 16.83 bilhões (2023). A desvalorização cambial, por outro lado, chegou a 8%.  

A performance mensal foi ainda pior. O faturamento de junho (US$ 2.61 bilhões ou R$ 12,60 bilhões) levou um tombo de dois dígitos (-12,42% e -16,94%) em relação a maio (US$ 2.98 bilhões e R$ 15,17 bilhões) – que teve a mesma quantidade de dias úteis. O confronto com o dado de 12 meses atrás mostrou alta de 2,35% em dólares (US$ 2.55 bilhões), mas queda de 5,55% em reais (R$ 13,34 bilhões). Em paralelo, a geração de empregos voltou a desacelerar, embora ainda se mantenha acima de 100 mil trabalhadores. É o que revelam os Indicadores de Desempenho do Polo Industrial de Manaus, divulgados pela Suframa. 

Na análise em dólares, apenas 15 dos 26 subsetores listados pela Suframa tiveram faturamento ascendente no acumulado de janeiro a junho. A maior alta veio da divisão de minerais não metálicos, que decolou 317,68%, com US$ 50.26 milhões. Na sequência estão os segmentos de vestuário e calçados (+100,45% e US$ 6.34 milhões), de beneficiamento de borracha (+25,74% e US$ 69.41 milhões) e de duas rodas (+22,60% e US$ 2.98 bilhões). O tombo mais significativo veio do polo naval (-29,60% e US$ 33.46 milhões).

Majoritários e responsáveis por quase metade do faturamento total do PIM, os polos de bens de informática e de eletroeletrônicos foram novamente em direções contrárias. O primeiro 18,97% (US$ 4.31 bilhões) no semestre, embora permaneça na liderança de participação do PIM, respondendo por 25,59% do total. O segundo manteve share de 18,66%, em linha com o acréscimo de 14,73% (US$ 3.14 bilhão) nas vendas. Mais aquecido, o polo de duas rodas já responde por 17,69% das vendas e se aproxima da segunda posição. Em seguida estão as divisões de “outros produtos” (11,42%), químicos (10,44%), termoplásticos (8,76%) e metalúrgicos (7,44%).

Insumos e empregos

Entre os principais manufaturados produzidos pelo PIM, os maiores destaques no acumulado do ano vieram de TVs com tela LCD e OLED, com 6.329.899 unidades e aumento de 43,17%. A lista inclui também motocicletas, motonetas e ciclomotores (+17,96% e 800.139), condicionadores split system (+34,69% e 1.840.159), receptores de sinal de TV (+156,58% e 1.828.556) e aparelhos de barbear (+20,52% e 895.817), entre outros itens. Produtos tradicionais do Polo, como celulares (-5,99% e 7.518.698) e bicicletas (-21,51% e 271.942) e microcomputadores portáteis (-16,73% e 266.194) seguem em queda.

Os resultados da produção seguiram em linha com a balança comercial do Polo, em um ano de oscilações. O melhor dado veio das exportações, que alcançaram cifra 9,19% superior no acumulado e US$ 288.07 milhões (2022). Em contraste, as importações declinaram 12,15% (US$ 5.87 bilhões) na mesma comparação. O nível de dispêndios das indústrias com aquisição de insumos, tanto estrangeiros (64,50% do total), quanto nacionais, ficou negativo em 10,06% na mesma comparação, não passando de US$ 9.10 bilhões.

Em paralelo, o nível de empregos do PIM voltou a reduzir a marcha. A média obtida no sexto mês de 2023 foi de 108.368 pessoas, entre trabalhadores efetivos, temporários e terceirizados, marcando o ponto mais baixo do ano. O número ficou 2,77% menor do que o do mês anterior (111.459) – em dado revisado pela Suframa. Também perdeu para o mesmo mês do ano passado (109.138), por uma margem de 0,70%. A média mensal do acumulado do ano foi de 110.912 postos de trabalho, praticamente empatou com o registro do ano passado (110.980). Ainda assim, foi o segundo melhor desempenho desde 2014 (113.927).

Em seis meses, os maiores índices de crescimento de empregos vieram dos subsetores industriais de vestuário e calçados (+39,46%), “produtos diversos” (+25%) e mineral não metálico (+21,43%). Na outra ponta, os polos de brinquedos (-56,16%), têxtil (-34,15%), e editorial e gráfico (-21,60%) mantiveram a liderança dos cortes. Levando em conta só a mão de obra efetiva, o saldo no aglutinado até junho ainda não saiu do vermelho neste ano, com a sexta retração seguida. Foram eliminadas 268 vagas, dado o predomínio dos desligamentos (17.737) sobre as contratações (17.469). É a pior performance desde o “ano cheio” de 2018 (-1.310). 

“Tendência histórica”

Em texto da assessoria de imprensa da Suframa, o titular da autarquia, Bosco Saraiva, comemorou as altas nominais dos Indicadores. “Estamos com um crescimento muito importante, e temos expectativa de que os resultados possam ser ainda melhores no segundo semestre, considerando a tendência histórica e as festas de final de ano, que ajudam a aquecer o mercado. Também esperamos que esse aquecimento influencie positivamente na mão de obra, ampliando as ações de geração de emprego e renda, que tanto são priorizadas pela Suframa e pelo governo federal”, declarou.

Em texto publicado no site da Agência Brasil, o presidente executivo da Eletros, Jorge Nascimento, assinalou que uma pesquisa da entidade confirmou que as vendas da indústria nacional de eletroeletrônicos avançaram 13% no semestre, interrompendo um ciclo de 18 meses de quedas consecutivas. “Se o segundo semestre se mantiver dentro da média histórica de desempenho, podemos prever um crescimento anual entre 4% e 6% em relação a 2022”, estimou. “Estamos avaliando se os bons resultados se formarão como uma tendência ou se referem à reposição dos estoques pelo varejo”, emendou.

Conforme o dirigente, os juros permanecem como um dos principais obstáculos para a retomada das vendas, impactando especialmente geladeiras, televisores e máquinas de lavar roupas, que são vendidos majoritariamente financiados. “Com maior estabilidade na inflação, nos custos das matérias-primas e do frete, reduzir os juros passa a ser uma prioridade para todo o setor produtivo. As dificuldades no acesso e o custo do crédito prejudicam a indústria e o varejo”, detalhou.

Ao comentar dados do período, o presidente da Abraciclo concordou com a necessidade de corte de juros, mas ressaltou que a conjuntura macroeconômica segue positiva para o polo de motocicletas do PIM, com o encaminhamento da reforma Tributária no Congresso, cotações mais amenas para o dólar, aumento de taxas de emprego, e expectativa de crescimento do PIB com menor inflação. “Tudo isso faz com que nossos fabricantes continuem atentos a novos investimentos, com ampliação e modernização dos parques produtivos e adoção de novas tecnologias”, concluiu.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio

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