As taxas de endividamento e inadimplência do consumidor de Manaus cederam pelo terceiro mês seguido, em junho. Em torno de 86,7% das famílias relataram ter contas a vencer no mês passado, um total de 568.307 delas. Ficou abaixo dos dados de maio (87% ou 569.415), abril (89% ou 582.053) e março (89,8% ou 586.546), mas ainda está muito acima da marca de 12 meses atrás (66% ou 426.713). Os principais indutores de endividamento ainda são o cartão de crédito e os carnês de lojas, sendo que as famílias que recebem menos de dez salários mínimos mensais ainda são as mais endividadas.
A fatia de famílias com contas atrasadas sofreu corte ainda maior, ao passar de 47% (307.912) para 43,6% (285.571). Mas, ainda corresponde a quase o dobro de um ano atrás (27,4% ou 177.168), quando os juros mais amenos geravam menos dificuldades nas parcelas e a inflação mais elevada inibia a contratação de mais dívidas. A mesma dinâmica ocorreu na parcela de famílias sem condições de pagamento (18,7% ou 127.501). Os dados são da Peic (Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor), da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo).
Segundo a sondagem, a taxa de endividamento do consumidor brasileiro interrompeu uma trégua de quatro meses para voltar a subir entre abril e maio, de 78,3% para 78,5%. A proporção de famílias de Norte a Sul penduradas em meios de pagamentos diversos aumentou ainda mais na comparação com o mesmo mês de 2022 (77,3%). O percentual de inadimplentes (29,2%) praticamente não se moveu. Já a fatia de consumidores sem fôlego para quitar débitos voltou a subir em ambas as comparações (12%), embora se situe praticamente na metade do patamar atingido em Manaus.
A queda da Peic é uma boa notícia que se soma à 12ª alta consecutiva da ICF (Intenção de Consumo das Famílias) de Manaus, também sondado pela CNC. Em junho, foram registradas melhoras na percepção sobre renda, emprego e acesso ao crédito, embora as perspectivas profissionais e a disposição de comprar bens duráveis tenham arrefecido. Em paralelo, os comerciantes se mostraram menos céticos. Depois de seis meses de baixa, o Icec (Índice de Confiança do Empresário do Comércio), que é medido pela mesma entidade, retomou crescimento, puxado pelas expectativas, satisfação com estoques e intenções de investir –mas não de contratar.
Cartões e carnês
A pesquisa da Peic informa que, embora tenha diminuído sua participação no bolo das dívidas, o cartão de crédito continua sendo fator predominante no endividamento do consumidor de Manaus, a despeito dos juros mais altos. O meio de pagamento respondeu por 63% das dívidas locais –contra os 65,5% de maio. A preferência é ainda maior entre as famílias de maior renda (73,4%). Conforme a Anefac (Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade), o cartão de crédito ainda é a modalidade de financiamento mais cara, com juros mensais de 14,86% (e 427,26% anuais).
Os carnês ganharam ainda mais preferência (54,1%) nos débitos das famílias de Manaus, sendo impulsionados também pelos que recebem mais (59,4%). O crédito pessoal (17,1%) também subiu nas preferências, sendo seguido por “outras dívidas” (15,1%), financiamento de carro (8,1%), crédito consignado (6,7%), e financiamento de casa (4,8%). Segunda mais cara modalidade de pagamento, o cheque especial (8,18% ao mês e 156,9% ao ano) é o calvário de 9% das famílias de Manaus. Invenção brasileira, e de uso exclusivo dos mais pobres, o cheque pré-datado pontuou 1%.
O percentual de consumidores que se dizem “muito endividados” subiu para 18,5%, sendo essa uma condição mais comum entre as famílias de menor renda (18,9%). A fatia dos “pouco endividados” (37,2%) ainda é majoritária, mas sofreu redução em relação ao levantamento anterior (48,2%), com predominância das famílias de maior poder aquisitivo (32,5%). Já o grupo dos “mais ou menos endividados” aumentou para 31,1%.
Em média, as famílias de Manaus devem levar 34 semanas para quitar as dívidas. Predomina a fatia majoritária e cadente dos consumidores que esperam levar mais de um ano (38%) para isso. Em seguida, estão os ‘pendurados’ entre 3 e 6 meses (20,6%), até três meses (19,4%), e de 6 meses a um ano (18,9%). O comprometimento médio da renda diminuiu para 34,6%. Em torno de 32,3% gastam mais da metade do que ganham, mas esse grupo já é superado pelos que consomem de 11% a 50% de seus rendimentos (54,5%), enquanto 11,3% não usam mais do que 10% de seus vencimentos.
Entre os endividados, 50,2% caíram na inadimplência, em número também abaixo do de maio. A proporção segue maior entre as famílias com ganhos acima dos dez mínimos mensais (51,6%). Uma proporção mais baixa do que a da sondagem anterior garante que conseguirá quitar o compromisso integralmente no próximo mês (28,7%). Outros 27,4% estimam que vão pagar parcialmente, e 43% assumem que vão seguir devendo. Em média, as dívidas estão atrasadas há 62 dias, sendo que 45% estão pendentes entre 30 e 90 dias, 35,7% acima de 90 dias, e 19,3% há menos de um mês.
Inflação e juros
Embora considere que o nível de endividamento do consumidor manauense ainda está muito alto, e saliente que essa situação inspira preocupações no setor, o presidente em exercício da Fecomércio-AM (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Amazonas), Aderson Frota, considera que o estudo da CNC já mostra um panorama mais promissor para o varejo.
“A queda da inflação, principalmente no setor de alimentos, tem trazido um pouco de trégua ao tenso momento do endividamento familiar e pessoal do consumidor. A diminuição do endividamento e inadimplência também sofre a influência da descida do preço dos produtos alimentícios, os mais percebidos pela população, e abre um momento positivo e mais otimista para o comércio. Falta apenas o Banco Central sinalizar com a queda da taxa de juros”, ponderou
Em texto distribuído por sua assessoria de imprensa, o presidente da CNC, José Roberto Tadros assinala que, passados quatro meses de estabilidade, o indicador nacional da Peic voltou a subir e alcançou o maior nível desde novembro de 2022.sendo impactado pela perda da capacidade de consumo das famílias diante da alta dos juros. “O equilíbrio entre os objetivos de estabilidade de preços e o crescimento econômico é um desafio a ser perseguido e que será determinante para a retomada do desenvolvimento do país”, frisou.
No mesmo texto, a economista responsável pela Peic, Izis Ferreira, salienta que a parcela média da renda dos brasileiros comprometida com dívidas (29,6%) alcançou o menor nível desde setembro de 2020, em sintonia com a “dinâmica favorável da inflação”, a melhora da renda disponível para os consumidores que recebem até 10 mínimos e a evolução do mercado de trabalho. “Mas, a proporção de consumidores com dívidas atrasadas voltou a crescer após seis meses de queda, assim como o contingente dos que afirmam que não terão condições de quitar dívidas atrasadas”, concluiu.