23 de novembro de 2024

Forte estiagem aumenta o risco para agricultura amazonense

Equipe técnica do Idam (Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal do Estado do Amazonas), está realizando levantamento de informações relacionadas às perdas na produção agrícola, nas áreas de produção, devido à vazante. O  período de verão amazônico serve de alerta de monitoramento pois coloca em risco o cultivo de diversos produtos, além de afetar diversas famílias.

Como todos os anos, o período de estiagem e o baixo nível das águas do rio Madeira, preocupa o setor primário, especialmente, pelo isolamento de várias comunidades, além da dificuldade adicional de escoamento da produção nessa época.

A cota do rio Negro, em Manaus, alcançou 24,04 metros nesta segunda-feira (4), 1 metro e 77 centímetros abaixo da cota do dia 4 de setembro do ano passado, de 25,93. O recorde de vazante no rio Negro na capital do Amazonas foi registrado no dia 24 de outubro de 2010, quando chegou a apenas 13,63 metros. Os dados são do Porto de Manaus.

“A forte estiagem em alguns rios vem começando a ter problema de navegabilidade e dificultando a logística de insumos para a atividade agrícola e pecuária. A vazante provoca restrições na navegação, em relação ao rio Madeira, que tem proibição em determinados trechos de navegação noturna. Quando isso ocorre acarreta encarecimento de insumos em função da dificuldade logística provocando desabastecimento para a produção. Isso sem falar no risco de acidentes fluviais com a seca de rios”, afirma  o presidente da Faea (Federação da Agricultura e Pecuária),  Muni Lourenço.

Entre as variáveis que são afetadas diretamente em épocas de grandes vazantes, o presidente da federação cita os prejuízos (social e econômico) nas comunidades isoladas, a logística fica comprometida e o escoamento produtivo fica reduzido.   Inviabiliza o acesso a muitos lugares pelos afluentes do rio que chegam a ficar secos.  Os moradores de Várzea têm de recomeçar, reconstruir, reorganizar todo o espaço modificado, para retomar seus afazeres corriqueiros como morador da várzea.

“Nos poucos trechos navegáveis as mercadorias são carregadas no ombro por longas distâncias.  O tempo de viagem é mais lento, atrasa a viagem e aumenta o percurso.  Quem navega pelos rios precisa ter maior atenção por causa dos bancos de areia”.

A área de várzea é onde ocorre de forma mais intensa o fenômeno da enchente e vazante dos rios, que interferem sobremaneira nas condições de vida das populações rurais e urbanas, sobretudo aquelas situadas à margem dos rios amazônicos. Daí é que se define o modo de vida da região que se adapta ao “ritmo das águas”.

Até o momento, ainda não há dados consolidados sobre os prejuízos, no entanto, é necessário acompanhar a vazante e verificar o efetivo nível  deste ano e sua implicação nas calhas de rios, Madeira, Purus e Juruá.

A seca prejudica a produção agrícola e pecuária, diminui o desenvolvimento das culturas agrícolas e pastagens o que dificulta o processo produtivo. Com a diminuição de oferta de produtos, os altos custos são sentidos. Um exemplo é o leite e o queijo. No verão a oferta de pastagens reduz e com isso há queda da produção de leite e queijo.

Para o presidente da Faea, a preocupação na agilidade de ações de caráter humanitário às comunidades isoladas, minimizam  maiores impactos.

Ações integradas

Na última quinta-feira (31), o governo do Amazonas e a Marinha do Brasil discutiram a situação da estiagem no Estado e eventuais iniciativas conjuntas para amenizar as consequências desse fenômeno ao longo dos próximos meses. De acordo com o mais recente balanço divulgado pela Defesa Civil do Estado, já são 24 municípios afetados pela seca dos rios.

O vice-governador do Amazonas, Tadeu de Souza disse que levará os dados coletados ao governador Wilson Lima. “A Marinha tem esse papel fundamental de diagnóstico e mapeamento das águas, da navegabilidade. Hoje, eles estão fazendo um trabalho de aprofundamento de sinalização náutica e balizamento, por exemplo. Tudo isso pode ajudar bastante o Estado nas ações desses 90 dias de estiagem”, afirmou.

Conforme levantamento divulgado na quarta-feira (30) pela Defesa Civil Estadual, 24 cidades amazonenses estão sendo prejudicadas pela redução do volume das águas. Além de Benjamin Constant e Envira (a 1.121 e 1.208 quilômetros da capital, respectivamente), que decretaram situação de emergência, outros 14 municípios estão em situação de alerta e oito, em situação de atenção.

“Hoje, temos dois municípios em situação de emergência, mas esse número tende a aumentar nas próximas semanas. Por isso, é primordial que possamos tomar todas as providências necessárias e buscar parcerias para garantir a segurança e o bem-estar das pessoas que sofrem com a seca”, frisou Tadeu de Souza.

Devido à influência do fenômeno climático El Niño, que inibe a formação de nuvens de chuva, espera-se que a estiagem deste ano seja prolongada e mais intensa em relação aos anos anteriores. Durante a seca, o dia a dia de comunidades ribeirinhas é afetado em diferentes aspectos e surgem pontos críticos nos rios, com obstáculos para a navegação como pedras, troncos e bancos de areia.

Por dentro

De acordo com o Idam (Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas), o levantamento sobre o impacto da seca na produção agropecuária do Estado, ainda está sendo consolidado e assim que coletados terão um panorama sobre o cenário. 

Andréia Leite

é repórter do Jornal do Commercio

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