Os ataques a escolas motivaram grande mobilização no Brasil, reunindo as três esferas do poder –municípios, Estados e governo federal. No Amazonas, já existe um plano de contingência para prevenir outros atentados, como o que aconteceu na segunda-feira (10) em uma escola da rede privada de ensino de Manaus, quando um aluno deixou feridos ao investir contra os colegas com uma faca, tendo inclusive em sua mochila um coquetel molotov, segundo a polícia.
Na realidade, o país nunca conviveu com tantas ameaças contra estudantes. Bullying, preconceitos dos mais diversos, contra negros, índios, gordos, homossexuais, enfim, tudo que envolve discriminações em salas de aula, conspira para um constante perigo nas unidades escolares.
As redes sociais também estão mais sob vigilância. O crime induz adolescentes e crianças a perpetrar atos extremos, principalmente jovens ainda em formação, mais vulneráveis para serem cooptados por hackers que difundem o ódio na internet.
“Já está em execução um plano emergencial de contingência reunindo diversos atores da sociedade para prevenir eventuais novos atentados”, disse o governador do Amazonas, Wilson Lima (UB), hoje no exercício de seu segundo mandato à frente do Palácio Rio Negro.
Aliado de Lima, o prefeito de Manaus, David Almeida (Avante), também engrossa as fileiras das medidas como prevenção a possíveis situações que exijam uma ação mais efetiva dos órgãos de segurança para a promoção de um ambiente de paz e de tranquilidade entre os alunos, tanto da rede pública como da esfera privada.
“É importante, neste momento, redobrarmos a vigilância na escola. Qualquer discriminação ou situações que envolvam chacota, zombaria, já é motivo para ações extremas no ambiente escolar”, avaliou ele.
Tanto na CMM (Câmara Municipal de Manaus) como na Aleam (Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas), o tema tem sido alvo de muita discussão entre os parlamentares, em plenário.
Na CMM, o vereador Dione Carvalho (Patriota) defendeu o uso de detector de metal em órgãos públicos e escolas municipais de Manaus para prevenir atentados. Ele apresentou o projeto de lei na Câmara após fazer ajustes que considera como “falhas legais” do poder público.
Carvalho citou a morte de uma professora de 71 anos por um aluno de 13 anos em São Paulo, no dia 27 de março, e o assassinato de quatro crianças em uma creche de Blumenau, na manhã de quarta-feira (5), para alertar que há risco de uma tragédia similar em Manaus.
“Será que vamos esperar acontecer as coisas aqui para tomarmos as devidas providências”, disse durante o seu pronunciamento na tribuna da Câmara.
Na segunda-feira, os vereadores de Manaus aprovaram por unanimidade um requerimento apresentado pelo colega Dr. Eduardo Assis (Avante) para a realização de uma audiência pública, ocasião em que poderá ser debatida a segurança nas escolas do município.
O encontro reunirá representantes de órgãos de educação, segurança, Defensoria Pública do Amazonas, Conselho Tutelar e Ministério Público do Estado do Amazonas, entre outras entidades.
Monitoramento
Para Eduardo Assis, que ocupa o cargo de vice-presidente da Comissão de Educação da Câmara de Manaus, é importante reforçar as discussões em volta do assunto que tem deixado pais e responsáveis preocupados com a segurança de seus filhos dentro das escolas brasileiras.
“Não podemos mais esperar que esses ataques continuem acontecendo, seja em Manaus, ou em qualquer outro lugar. É necessário que todos nós venhamos a lutar juntos pela segurança dos nossos pequenos. Um lugar que era para ser seguro, não está sendo. Portanto, devemos discutir os melhores caminhos para dar paz e melhorias na infraestrutura escolar”, enfatiza.
Segundo a CMM, foi elaborado um projeto de lei que prepara a instalação do ‘Botão do Pânico’ em escolas, creches e CMEIs do município de Manaus.
A Semed (Secretaria Municipal de Educação) informou que as 506 unidades de ensino contam com um sistema de câmeras comandado pelo Cose (Centro de Operações em Segurança Escolar). Há previsão ainda da contratação de 350 agentes de portaria para atuar nas escolas durante os turnos de aula.
A secretaria revelou que fez uma parceria com a Semseg (Secretaria Municipal de Segurança Pública e Defesa Social) para que guardas municipais atuem nas escolas em rondas motorizadas.
Em nível nacional, a Frente Parlamentar Mista da Educação, que congrega 312 deputados federais e 42 senadores, lançará, nos próximos dias, uma coordenação temporária para se debruçar sobre o tema da violência nas escolas brasileiras. A decisão foi tomada na quarta-feira (5), após o ataque ocorrido em uma creche de Blumenau, deixando quatro crianças mortas e outras cinco feridas.
A ideia é que o grupo construa uma agenda intensiva de conversas com especialistas e com pessoas diretamente impactadas por esse tipo de violência para formular propostas para o Legislativo e para o Executivo. E ainda a criação de uma política nacional de saúde mental nas escolas e de mecanismos para monitorar discursos de ódio estão no radar, a fim de que novos episódios sejam evitados.